Sucateamento da educação faz escolas trancarem teatros, bibliotecas e laboratórios
A escola guarda peças como animais empalhados, livros raros e até um piano. No entanto, estão trancados e não são utilizados por professores ou alunos
O primeiro prédio da Caetano de Campos era na praça da República, onde hoje está a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Desde 1978, a unidade deixou de ser modelo e foi transferida para o antigo prédio da Faculdade de Medicina Veterinária da USP, no bairro da Aclimação.
O espaço é grande, tem quadras esportivas, teatro, biblioteca, museu, horta e uma área verde extensa. A unidade reúne alunos do ensino fundamental até o fim do ensino médio. Em 2013, eram 1.725 estudantes matriculados na escola, de acordo com o Censo Escolar.
O problema, segundo professores e funcionários, é que ao longo dos anos a área e a verba usadas pela escola foram sendo limitadas. O teatro, por exemplo, é gerido pela Secretaria de Cultura desde 2005 e usado para ensaios da Osesp (orquestra sinfônica), e já não faz parte da escola apesar de ficar no meio da unidade.
O museu guarda peças do acervo da antiga escola modelo, como animais empalhados, livros e até um piano. No entanto, está trancado e não é usado por professores ou alunos. No dia em que a reportagem visitou a unidade, a diretoria informou que as chaves estavam com o Centro de Referência em Educação Mario Covas, responsável por uma exposição sobre a história da escola.
Parte da área verde foi repassada para a secretaria de Segurança Pública em 2007, no entanto a área com mato alto ainda está aberta para a escola e alunos acessam o espaço sob risco de acidentes.
O galpão em que, antigamente, eram realizadas as feiras de ciência da escola e festas da comunidade no mês de junho agora permanece fechado.
"A escola é muito grande para poucos funcionários", diz Bryan Aftimus, de 18 anos, estudante do 3° ano do ensino médio e presidente do grêmio da escola.
Professores e funcionários também reclamam da dificuldade de gerir tantos alunos e o espaço com poucos funcionários. Recentemente, o intervalo de aulas foi alterado para que menos alunos estejam no pátio da escola ao mesmo tempo e facilitar o controle.
Procurada, a Secretaria Estadual de Educação afirma que os laboratórios podem ser usados pelos professores para as aulas e que a direção instrui devidamente os docentes para usar o material que era da antiga Caetano de Campos.
Sobre o teatro, a secretaria diz que o espaço pode ser usado desde que os alunos peçam permissão para a Associação dos Amigos do Centro de Estudos Musicais Tom Jobim, responsável pelo espaço.
O órgão afirma ainda que o museu fica trancado para preservação do material, mas está disponível para consulta e as chaves estão na diretoria da escola – no dia em que o iG estave na unidade, funcionários afirmaram que as chaves não estavam na escola e professores e alunos afirmaram nunca ter usado o espaço.
Em relação à falta de separação entre o espaço cedido para a Secretaria de Segurança Pública e a escola, a secretaria de Educação diz que tapumes são colocados no local desde 2007 e que não é de responsabilidade da pasta a manutenção daquele espaço.
A Secretaria de Segurança Pública foi procurada e não respondeu à reportagem até o momento da publicação dessa matéria.
Há cem anos o Caetano de Campos tinha aula de esgrima e laboratório de anatomia
Aulas de esgrima, de canto orfeônico (em coral) e de culinária, laboratório de anatomia, biblioteca e oficinas de trabalhos manuais. Todas essas atividades faziam parte do cotidiano da Escola Estadual Caetano de Campos no início do século 20.
A história foi reconstituída pela ex-aluna e pesquisadora Patrícia Golombek.
A escola nasceu para servir de laboratório experimental para os professores que se formavam na Escola Normal. Com a formação de docentes que se espalharam por todo o Brasil, métodos adotados ali passaram a fazer parte do cotidiano da vida escolar. A adoção de cartilhas escolares é um dos exemplos apontados pela pesquisadora.
Em 1895, a instituição abrigou uma estação meteorológica que também era usada no ensino. Em 1914, tinha o primeiro laboratório de psicologia do país. O programa "cinema educativo" levou projeções para dentro da escola em 1930. E em 1944, a instituição passou a servir merenda para seus alunos.
"A Caetano de Campos era a escola mais importante de São Paulo e mudou a educação do Brasil. No curso normal, os futuros professores conheciam práticas adotadas ali que depois eram reproduzidas em escolas de todo o País", afirma Patrícia.
Fonte: Último Segundo
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