Tigre Branco em cartaz no Belas Artes, dia 14 de setembro
Produzido em 2012, o filme do premiado diretor russo Karen Shakhnazarov estreia no Brasil em circuito comercial
O diretor Karen Shakhnazarov virá ao Brasil no início de dezembro para lançar seu “Anna Karenina” na 4ª Mostra Mosfilm de Cinema
Encontrado quase morto entre os destroços fumegantes no campo de batalha, o tanquista Ivan Naydenov tem uma recuperação surpreendente que desafia a compreensão dos médicos.
Mais misteriosa se torna a história quando ele revela que foi atingido por um indestrutível tanque alemão que surge e desaparece por encanto, deixando um rastro de destruição e morte.
Partindo desse enredo desenvolvido no romance de Ilya Boyashov, o premiado diretor Karen Shakhnazarov realiza um filme impactante, que projeta para os tempos atuais a batalha ocorrida durante a 2a. Guerra Mundial entre o tanquista soviético e seu fantástico oponente.
O filme concorreu ao Oscar em 2012, ganhou quatro prêmios Águia de Ouro da Academia de Ciências Cinematográficas da Rússia (melhor filme, música, montagem, som) e o prêmio de melhor direção no 9o. Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre.
O diretor Karen Shakhnazarov realizou 14 filmes, entre os quais “Noite de Inverno em Gagra” (1983), “Cidade Zero” (1988), “O Assassino do Tzar” (1991), “Sonhos” (1993), “A Filha Americana” (1995), “Cidade dos Ventos” (2008), “A Enfermaria Número 6” (2009), “Tigre Branco” (2012), “Amor na URSS” (2013). Desde 1998 é diretor geral do Mosfilm, o maior estúdio de cinema da Europa.
No início de dezembro deste ano, ele estará em São Paulo e Porto Alegre, na 4ª Mostra Mosfilm de Cinema, para lançar seu “Anna Karenina – A História de Vronsky”, produzido em 2016-17.
“Tigre Branco” entra em cartaz em 14 de setembro no cine Caixa Belas Artes – Rua da Consolação 2423, tel (11) 2894-5781.
Guerra e Mistério
Entrevista de Karen Shakhnazarov a Joanna Koslowska
Em 30 de novembro de 2012, “The Moscou Times” publicou entrevista concedida por Karen Shakhnazarov a Joanna Koslowska.
O diretor, que também preside o Mosfilm, maior estúdio de cinema da Rússia, falou sobre seu filme “Tigre Branco”, misticismo no cinema e a luta pela reconstrução da indústria cinematográfica no país.
No final da entrevista ele afirma: “Penso que havia ideias de alguma forma mais artísticas em tempos soviéticos do que hoje. Não é apenas um fenômeno russo. Pense nos diretores italianos em 1960 e 1970: Fellini, Antonioni, Pasolini… Talvez isto seja apenas expressão do modo como a cultura mundial se desenvolve”.
JK: “Tigre Branco” é bem diferente da média dos filmes sobre a 2ª. Guerra Mundial. A história de um soldado que se propõe a derrotar um tanque alemão monstruoso muitas vezes beira o místico. Por que você escolheu esse ângulo particular?
KS: Parti de um conto de Ilya Boyashov chamado “O Tanquista”. A escolha se deu simplesmente porque achei a história muito interessante.
Penso que é o que a maioria dos diretores fazem quando selecionam o que vão filmar. O “tanque fantasma” que dá nome ao filme lembrou-me “Moby Dick” de Melville. Creio que ainda se pode argumentar que o filme é realista. Muitas cenas, como a da capitulação alemã e o banquete que ocorre na sequência, baseiam-se na íntegra em fontes históricas. Eu diria que o elemento sobrenatural ajuda a tornar a história mais universal. O “Tigre Branco” não se limita a representar a ameaça militar alemã na década de 1940. Afinal, a ideologia nazista está bem viva.
Os movimentos neonazistas são abundantes, a filosofia de Nietzsche ainda é considerada respeitável e lecionada em universidades. Muitos vão argumentar que o link Nietzsche-Hitler é tênue. Ainda assim, acho que a leitura de “Anticristo” deixa claro que o nazismo não apareceu do nada. Este é o lugar para o qual o final do filme aponta. Mesmo que os companheiros do tanquista Naydenov procurem convencê-lo de que a guerra acabou, ele sabe que precisa ficar alerta.
JK: Então você concordaria que “Tigre Branco” remete a uma tradição “mística” no cinema: Tarkovsky, Fellini…
KS: Fellini foi provavelmente o diretor que mais me influenciou. Na minha opinião, o que as pessoas chamam de “misticismo” se resume a uma certa sensação de mistério. A própria palavra é derivada de “mistério”. Eu sempre senti que a própria vida é um mistério, que os pressupostos racionais sobre ele são sempre limitados. Uma boa obra de arte deve ser capaz de capturar isso. É por isso que eu amo Fellini e Buñuel.
JK: Hitler interpretado pelo ator Karl Krantzkowski também é uma figura incomum. O ditador nazista é frequentemente retratado como um fanático frenético. Em seu filme, ele é frio, reservado e calculista.
KS: Acho que isso é mais próximo da verdade histórica. A tendência de caricaturar Hitler, retratando-o como um palhaço, obscurece a periculosidade de continuação de suas ideias e sua política. Um palhaço não teria sido capaz de alcançar tal poder, criar tal máquina de guerra e cometer tais atrocidades. Ele deve ter sido um político de muito sangue-frio. Quanto a Krantzkowski, eu sabia que tinha que contratar atores alemães. Qualquer outra coisa estava fora de questão. Eu queria que meus alemães falassem alemão, e o alemão soasse absolutamente natural.
JK: Você disse que os filmes de guerra são o gênero mais difícil de dirigir. Por quê?
KS: As razões são puramente práticas. Nenhum outro gênero exige tal esforço físico e incorpora tantas cenas de massa. É claro que falo de filmes que apresentam cenas de batalha. Você pode ter um filme de guerra perfeitamente legítimo com dois personagens conversando em uma sala, nesse caso é diferente.
JK: Você é diretor-geral do Mosfilm desde 1998. Como é que a indústria do cinema russo mudou desde então, e quais foram os maiores desafios?
KS: Eu diria que, na década de 1990, tivemos que começar do zero. Nós literalmente tivemos que reconstruir toda a indústria. A coisa mais importante era transformar o Mosfilm em um estúdio de cinema tecnologicamente moderno, introduzindo uma série de tecnologias de pós-produção cruciais. Foi só no final de 1990 que os modernos equipamentos de som ou computação gráfica apareceram no Mosfilm. Acho que a nossa indústria cinematográfica está agora em pé de igualdade com os europeus. Hollywood é certamente um caso à parte, mas em relação à França ou Itália estamos bem.
JK: Que papel você gostaria de interpretar no cinema russo moderno?
KS: Nunca pensei sobre isso, eu só quero continuar a fazer filmes com base em material que considero interessante. Quanto ao cinema russo hoje, nós do Mosfilm estamos felizes de trabalhar com qualquer um que tenha uma ideia intrigante. No entanto, penso que havia ideias de alguma forma mais artísticas em tempos soviéticos do que hoje. Não é apenas um fenômeno russo. Pense nos diretores italianos em 1960 e 1970: Fellini, Antonioni, Pasolini… Talvez isto seja apenas expressão do modo como a cultura mundial se desenvolve.
Notas sobre o Tigre Branco
Extratos do artigo de Elena e Halina Zhuk, publicado em Rússia Profile (20/06/2012)
Shakhnazarov disse na estreia de “Tigre Branco” no Cinema Oktyabr, que havia dedicado o filme a seu pai, que ingressou no exército, quando ele tinha 18 anos, bem como para os milhões de seus irmãos de armas.
O personagem principal, condutor de tanque Ivan Naydenov, interpretado por Alexei Vertkov, tem o corpo todo queimado em uma batalha. Como por milagre, suas queimaduras se curam rapidamente e o herói, que perdeu a memória, revela novas habilidades, como a de conversar com tanques que lhe contam suas histórias e pedem ajuda contra o Tigre Branco.
O Tigre Branco é uma encarnação mística da convicção dos nazistas na legitimidade de suas ações. Nos momentos mais inesperados, ele surge no campo de batalha para destroçar os tanques soviéticos com precisão sobre-humana.
O diretor compara a luta entre o homem e a máquina com o confronto entre o homem e a baleia de Herman Melville em Moby Dick.
Há uma óbvia referência à “besta loira” de Nietzsche [“na base de todas as raças aristocráticas existe o animal de rapina”], quando o Tigre Branco surge na tela, acompanhado pela música de Richard Wagner.
No monólogo final, escrito pelos roteiristas, Shakhnazarov, Boyashov e Borodyansky, com base em fragmentos dos discursos do Führer, Hitler disserta sobre a inevitabilidade da guerra e argumenta que a Alemanha comprometeu-se apenas com algo que o resto da Europa há muito ardia de desejo para realizar.
Prêmios Internacionais
Prêmio Águia de Ouro da Academia Nacional de Artes e Ciências Cinematográficas da Rússia (2012) – categorias de Melhor Filme, Melhor Música, Melhor Montagem, Melhor Diretor de Som.
10º Festival Internacional de Cinema de Guerra Yuri Ozerov (2012) – Grande Prêmio Espada de Ouro, Prêmio para o Melhor Trabalho de Direção.
Festival Internacional de Cinema de Pyongyang (2012) – Prêmio Especial do Júri.
Festival Internacional de Cinema Capri Hollywood, Itália (2012) – Prêmio Artístico Capri Hollywood.
Festival Internacional de Cinema Jameson de Dublin (2013) – Prêmio de Melhor Ator para Alexei Vertkov.
Festival Internacional de Cinema “Fantasporto”, Portugal (2013) – Prêmio Especial do Júri, Prêmios de Melhor Diretor é Melhor Ator.
Festival Internacional de Cinema “Fantaspoa”, Brasil (2013) – Melhor Direção.
Prêmio Nacional de Cinema “Ayak”, Armênia (2013) – Melhor Filme em Língua Estrangeira.
11º Festival Internacional de Cinema “Levante” em Bari, Itália (2013) – Prêmio da Crítica.
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