6ª Mostra Mosfilm: obra prima de Tarkovsky, “Stalker” encanta os amantes do cinema autoral e artístico
O público de São Paulo lotou as duas sessões de 2 horas e 40 minutos do emblemático “Stalker” (1979), escrito e dirigido pelo diretor soviético Andrei Tarkovsky. O longa é parte da programação da 6ª Mostra Mosfilm de Cinema Russo – organizada pelo CPC-UMES Filmes e que este ano ocupou as salas do Espaço Itaú Unibanco na Rua Augusta e do Cine Olido, no centro da capital paulista.
A narrativa complexa e aberta a interpretações cativa espectadores pela oportunidade de ver o filme – ganhador do Prêmio Especial do Júri do Festival de Cannes de 1980 – projetada em escala cinematográfica. Stalker é aclamado pela experiência visual e estética, aspecto comum da cinematografia do soviético que dirigiu Solaris (1971), O Espelho (1975), A Infância de Ivan (1962), entre outros.
O oitavo filme de Tarkovsky é tido como sua obra prima e é referência do cinema autoral e artístico contemporâneo, mas herdeiro da tradição cinematográfica soviética, considerada uma das mais importantes do mundo.
Os ingressos a preços populares foram disputados por um público de cinéfilos e espectadores fiéis à programação da mostra. Para a segunda sessão do filme no último domingo (08), os ingressos estavam esgotados quatro horas antes da exibição.
Diego Migliorini, de 28 anos, soube da mostra por amigos e pegou um dos últimos assentos disponíveis para a sessão de sexta-feira, embora tenha chegado ao Espaço Itaú com 1h30min de antecedência.
“Já esperava que fosse lotar quando vi na programação, isso pelo que Tarkovsky representa para o cinema russo e mundial. Uma das coisas mais elogiáveis dessa mostra foi trazer esse filme para uma sala de cinema em São Paulo. É um filme clássico e que a maior parte das pessoas da minha geração não tiveram oportunidade de ver. É singular, extremamente bonito e contemplativo, feito para ser visto na tela de um cinema”, disse.
“Stalker parece menos importante pelo que conta e mais pelo que mostra. Não há sequer um daqueles demorados planos que não tenham a composição de uma fotografia. As imagens são muito bonitas”, disse Luana Teixeira, que acompanha a mostra desde a primeira edição. “Mas cansativa a nossa constante tentativa de encontrar as conexões, estabelecer referências. Acho que não teria visto se não fosse no cinema, a experiência não teria sido tão completa”. Luana viu ainda “A Balada do Soldado” na abertura e espera pegar as sessões de “Volga Volga” e “A Prisioneira do Cáucaso”.
Jefferson Bittencourt é fã de cinema, soube da sessão do filme de Tarkovsky um mês antes e se programou para chegar cedo.
“Ouvia falar do Stalker como um clássico que valia a pena ser assistido. Embora a dificuldade de acompanhar a história, você sai pensando muito sobre as questões filosóficas que o filme levanta”, disse. “Conhecer um pouco do cinema russo e soviético despertou um interesse gigante e estou correndo atrás de outros filmes. Gosto muito do gênero de guerra e acho que os filmes oferecem um retrato muito mais realista sobre os acontecimentos históricos do que filmes americanos do mesmo gênero. São também mais sensíveis”, afirmou Luana após ter saído da sessão e adquirido dois DVD’s do estúdio Mosfilm distribuído pelo CPC Umes-Filmes: Vá e Veja e Tigre Branco.
Maria Thereza Alcântara não considera Stalker um filme de ficção científica. “Eu não acho. Acho um tratado filosófico e poético sobre a esperança. Não vi como uma ficção científica. O que mais me impressionou foi o diálogo deles, um jeito tão diferente de ser, de pensar, nos mostra bem uma cultura diferente; achei bem diferente o filme”.
Sua filha, Patrícia Alcântara Santos, também elogiou a exibição. “Sou apaixonada por esse filme. Pra falar a verdade eu não entendo muito o significado dele; eu já assisti umas 5 ou 6 vezes e ainda é uma coisa muito incerta na minha cabeça, ainda não encaixou tudo. Eu gosto da poética dele”.
CONEXÃO
A atriz Shadiyah Becker considera que a Mostra trouxe para ela outra perspectiva sobre o cinema russo.
“Esse é o quinto filme que eu assisto da Mostra. Estou achando muito legal acompanhar. A seleção de filmes está me trazendo outra perspectiva do cinema russo, porque antes eu via filmes muito pesados, uns como o Stalker que eu acabei de assistir. Gostei muito do humor russo, de umas sacadas, de como eles conseguem trazer um drama com uma leveza e aí ficam entre uma comédia e um drama”, disse.
“Para mim enquanto atriz é muito bom ver filmes russos por toda técnica cênica deles e por todas as histórias e essa curadoria de filmes que tem temas humanos e políticos, temas muito sensíveis”, destacou.
“Do Stalker em si, eu gosto muito do Tarkovsky, da poesia que ele cria através das imagens. Eu sempre saio dos filmes dele sem ter muita certeza se eu entendi, mas de qualquer forma eu sinto que eu vivi, que eu me conecto muito com as imagens e com o que vai acontecendo, porque eu acho que ele é bem complexo. Ele vai viajando e eu tenho uma experiência, não sei te dizer exatamente do que se trata, mas eu sei te dizer das sensações que eu tive vendo o filme, que foram muitas. Eu gosto muito desse diretor e foi muito gratificante poder assisti-lo no cinema, na Mostra”, finalizou.
A 6ª Mostra Mosfilm de Cinema Russo segue com sua programação até o dia 11 de dezembro no Espaço Itaú de Cinema da Rua Augusta
Deixe uma resposta
Want to join the discussion?Feel free to contribute!