Volta às aulas entidades

Volta às aulas é necessária para impedir aumento das desigualdades, apontam entidades estudantis

Volta às aulas entidades

 

Desde o dia 8 de fevereiro, o estado de São Paulo realiza a reabertura das escolas para aulas presenciais dos alunos. A medida é apoiada pelas entidades estudantis secundaristas que denunciam o severo prejuízo causado aos jovens nos mais de 10 meses de escolas fechadas.

A União Paulista dos Estudantes Secundaristas (UPES) e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) divulgaram nota em que apontam a “necessidade de um retorno às aulas presenciais com responsabilidade e segurança com a vida de todos os envolvidos no ambiente escolar”.

“Com o agravamento das desigualdades ficou ainda mais notável o déficit educacional que o nosso estado enfrenta. Com o ensino de forma remota sendo a nova realidade, milhares de estudantes acabaram ficando sem acesso às aulas, por ausência dos devidos instrumentos tecnológicos, ou pela falta de internet”, afirmam as entidades no documento.

UPES e UBES denunciam ainda o descaso do governo Bolsonaro com a Educação nos tempos da pandemia.

“O governo federal, assim como no combate a pandemia, nada fez para garantir o acesso à educação durante o ensino remoto, pelo contrário, o que recebemos foram mais ataques às escolas públicas e tentativas de acabar com o nosso financiamento em um momento tão delicado, onde é necessário investimento para que o retorno ao ensino presencial seja seguro para todos”, diz a nota.

As entidades estudantis estão acompanhando o retorno das aulas em São Paulo e apontaram melhorias nas condições de infraestrutura. Para os estudantes, garantir os protocolos contra a Covid-19 é a única forma de retomar as aulas em segurança.

Na capital paulista, a União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES-SP) vem realizando vistorias em escolas para acompanhar a execução dos protocolos de segurança contra o coronavírus. Na quarta-feira (17), o presidente da entidade, Lucas Chen, e o secretário de Educação do Estado de São Paulo, Rossieli Soares, visitaram a E.E. Elisa Raquel, na zona leste da cidade para averiguar as condições da escola.

“Nesta visita surpresa à E.E. Elisa Raquel ficamos muito satisfeitos com as condições de infraestrutura que vimos. No período em que a escola ficou fechada, ela passou por uma grande reforma. É outra escola. Os protocolos foram atendidos, há grande nível de organização que é garantido pela diretoria, professores e estudantes”, disse Chen, que complementou: “vamos fiscalizar para garantir que todos os protocolos de segurança que construímos, pautamos e lutamos para que fossem empregados sejam cumpridos”.

Segundo o presidente da UMES-SP, outra grande preocupação agora é como recuperar o tempo perdido ao mesmo tempo em que avançamos com o conteúdo no ano de 2021.

“Há um esforço dos estudantes e dos grêmios estudantis em garantir as condições de segurança. A maioria está cumprindo os protocolos, respeitando o distanciamento. A greve chamada pelos sindicatos de professores do estado de São Paulo não teve adesão da base e o que vemos são professores empolgados em retornar ao seu ambiente de trabalho”, considerou Lucas Chen.

“O principal para esse momento é uma integração entre estudantes, professores e as gestões estadual e municipal para garantir o retorno seguro e atender as necessidades causadas pela pandemia, principalmente a desigualdade financeira, com o aumento do desemprego e a fome que ronda muitas famílias pobres. A pandemia não passou, os problemas permanecem”, salientou o presidente da UMES-SP. 

Fechamento das escolas agravou a desigualdade

A pandemia e o fechamento das escolas agravaram as desigualdades sociais, elevando à evasão escolar, aumentando o trabalho infantil, causando desnutrição, por falta de merenda e milhões de estudantes em todo país. Sem acesso à internet, estudantes não tiveram aulas, o que causa impactos no aprendizado por anos.

O presidente da União Paulista dos Estudantes Secundaristas (UPES) Hector Batista, apontou os prejuízos deixados após quase um ano sem aulas. “Hoje, de acordo com uma pesquisa do IBGE, cerca de 7,5 milhões de estudantes no país inteiro, não tiveram acesso às aulas remotas durante a pandemia. Tiveram seu direito à Educação negado e hoje se encontram num alto índice de evasão escolar. Evasão essa que coloca a rede estadual de ensino de São Paulo com 114 mil estudantes em recuperação, mas também, que faz com que uma criança que estava aprendendo a escrever na 1ª série, chegue na 2ª série sem nem escrever o seu próprio nome”, ressaltou. 

Ele afirma que a UPES defende o retorno das aulas presenciais porque “para nós é muito evidente que ele é uma necessidade da sociedade”.

“De acordo com as pesquisas que saem atualmente, elas nos dizem que vamos demorar pelo menos 4 anos para vacinar toda população. Nós não podemos permitir que os estudantes tenham 4 anos de prejuízos, 4 anos sem a escola, porque se não o nosso futuro será perdido. Nós estamos falando nesse momento do futuro de uma geração inteira que está sendo prejudicado por uma pandemia, mas também com uma grande responsabilidade do governo federal, de Jair Bolsonaro que não apresenta nenhuma solução, nenhum plano para a retomada das  aulas e ainda faz uma política anti-vacina, contra os tratamentos recomendados pelos especialistas e continua tratando a Covid-19 como se fosse uma ‘gripezinha’, sem se importar com a vida das milhares de pessoas que estão morrendo”, apontou o presidente da UPES que também defendeu que a vacinação dos profissionais da Educação seja prioritária.

“Manter o estudante fora da escola por tanto tempo tem várias problemáticas. Primeiro do ponto de vista educacional e da aprendizagem, mas também sobre a evasão escolar de milhares de estudantes que, durante a pandemia, perderam a perspectiva de conseguir enxergar a Educação como saída, porque, nesse período, o povo ficou cada vez mais desempregado, a fome voltou a ser uma realidade na vida de diversas famílias paulistas e brasileiras. Isso fez com que aquele jovem que estava dentro da sala de aula antes, precisasse sair para procurar emprego, muitas vezes menor de idade, burlando o sistema de aplicativos de entrega, por exemplo, ou encontrando no meio do seu caminho o tráfico, que a gente sabe atinge muito a população vulnerável,  principalmente os jovens negros”, afirmou o presidente da UPES.

 

Escola como referência à população

Lucas Chen destaca que o grande desafio pedagógico no próximo período será compensar “um 2020 onde não houve aula”. As aulas na capital paulista foram retomadas no início de fevereiro.

“A maioria dos estudantes passou por grandes dificuldades para assistir às aulas virtuais. Muitos sequer conseguiram acessar as plataformas. As condições de aprendizagem ficaram muito defasadas e temos muitos estudantes se formando sem condições de realizar as operações básicas de Matemática, ou conhecimento do Português”, relembrou Lucas Chen.

Lucas Chen ainda apontou a necessidade de tornar a escola uma referência de atividade com segurança para as famílias com maior vulnerabilidade social. “Precisamos fazer com que as escolas sejam referência para essas famílias. O isolamento social está muito baixo na nossa cidade e, se os estudantes não estão na escola, estão em algum outro lugar. Precisamos proteger aqueles que estão expostos às situações de vulnerabilidade e à violência. O que tem se provado é que a escola é um ambiente seguro para proteger os estudantes”, afirmou.

O presidente da UMES-SP destacou a criação, pelo governo do Estado, do Comitê da Saúde para fiscalizar o cumprimento dos protocolos de segurança, uma medida necessária para o retorno das atividades. Segundo Chen, “realizaremos reuniões para discutir as questões de segurança e também vistoria em escolas em que detectarmos problema’, disse.

O presidente da UPES, Hector Batista, também visitou escolas e garantiu que os protocolos de segurança estão sendo cumpridos. “Passado todo esse período sem aulas, nós sentimos e estamos vendo na prática que muitas coisas mudaram. Na última sexta-feira, 19, nós fomos na Escola Estadual Antônio José Leite, na Zona Norte de São Paulo e o que nos encontramos foi uma escola muito bonita, uma escola onde há marcação dizendo onde os estudantes devem ou não devem sentar, mesas demarcadas para que todos fizessem o distanciamento social, distribuição de máscaras, álcool em gel disponível por todos os lados, aferição de temperatura na entrada e bebedouros acionados com o pé, para que as pessoas não precisem encostar e encham seus copos, também distribuídos pela escola. Houve também a alteração na distribuição de merenda, os estudantes não se servem para que todos não tenham contato com a mesma concha para servir os alimentos”, contou.

Chen ponderou que ainda existem muitos colégios com problemas. Mas afirmou que o secretário de Educação se mostrou receptivo para atender as demandas apresentadas. “Ainda temos escolas com muitos problemas, inclusive com suspeitas de casos. Nesses casos precisamos dedicar mais atenção”, disse o presidente da UMES.  

Sobre casos suspeitos de contágio em escolas, o protocolo adotado prevê a realização de testagem dirigida, com aqueles que tiveram contato com o suspeito de infecção pela Covid-19 e isolamento dessas pessoas. Para as entidades, medidas como essa são determinantes para garantir o retorno seguro das aulas.

“Cientes que tudo que pautamos está sendo cumprido dentro das escolas, defendemos a retomada como uma vitória das entidades, que em todo este período não ficou distante da luta pela defesa da vida, do acesso a Educação e do futuro dos estudantes paulistas”, finalizou Hector Batista.

Publicado no Jornal Hora do Povo

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