Agravamento da crise amplia a necessidade da escola pública

Foto: Leonardo Varela

 

Em entrevista ao Hora do Povo, o presidente da União Municipal dos Estudantes Secundaristas (UMES), Marcos Kauê, condenou o fechamento de escolas, anunciado por Geraldo Alckmin (PSDB) e ressaltou que a tendência é de um aumento da procura de vagas nas escolas públicas já no inicio de 2016, devido à gravidade da crise que o país passa. Segundo ele, fechar escolas em tempos de crise “é no mínimo insanidade”. 

 

Hora do Povo – O governo Alckmin pretende fechar ao menos 94 escolas e afirma ainda que isto tem o objetivo de melhorar a qualidade da educação? Como a UMES enxerga esta proposta?

 

Marcos Kauê – Como um ataque aos estudantes. Os governos tucanos destruíram a educação pública. Nossas salas estão superlotadas, os professores ganham uma miséria, as escolas parecem presídios caindo aos pedaços. É um completo descaso.

 

Para afundar de vez a educação, Alckmin resolveu criar a tal reestruturação, ele diz isso, que é pra melhorar a qualidade, mas, na verdade seu objetivo é cortar ainda mais a verba gasta com educação. Fechar escola pública em plena crise econômica é uma insanidade.

 

A política tucana é cruel com a juventude. Justamente por causa da crise é que o governador deveria trabalhar para manter mais salas de aula funcionando. O pessoal vai migrar o ano que vem para a escola pública, é obvio. Ao final desse ano, graças a recessão econômica causada pelo governo Dilma, teremos no país mais de 2 milhões de desempregados. Onde os filhos desses trabalhadores irão estudar?

 

A situação é crítica, a inadimplência nos colégios particulares aumentou 27,2% nos primeiros seis meses desse ano. Estimasse que, já em 2016, serão pelo menos 144 mil novos alunos no ensino fundamental e médio público, e o Alckmin fechando escola. As salas que hoje já tem 50 alunos vão ter quantos? 70?

 

HP – Segundo eles, as escolas estão vazias e há ociosidade das vagas…

 

 Kauê – Claro que há certa ociosidade. Mas, ela está mais ligada à evasão escolar do que a ida dos estudantes para a escola privada, principalmente no ensino médio. E isso também é fruto da política do PSDB no estado. Hoje 15% dos jovens de 15 e 16 anos estão fora da escola, não estão sequer matriculados.

 

Além disso, a política da aprovação automática fez com que muitos desistissem de freqüentar as aulas. Eles dizem que não, mas demanda tem sim, mas o jovem não quer ir pra essa escola que não é nem um pouco atrativa, que não contempla de nenhuma forma as nossas expectativas. Se Alckmin quisesse fazer uma mudança séria na Educação, abriria diálogo com os estudantes.

 

HP – A própria Secretaria de Educação admite que a mudança atingirá 74 mil professores. Com o fechamento das 94 escolas e mudanças de períodos letivos em muitas outras, os professores estão com seus empregos garantidos?

 

Kauê – O secretário Herman [da Educação], já deu declarações em que afirma que os professores efetivos não serão demitidos. Entretanto, ele não se pronuncia sobre os professores temporários, da tal categoria O, que são quase 25% do total, e tem contratos de até dois anos.

 

Agora, se eles querem fechar as escolas, encerrar períodos noturnos e alterar outras turmas. Haverá realmente vaga para todos os outros professores?  Estou certo que não.

 

HP – Por que vocês, da UMES, afirmam que “Quem fecha uma escola, abre uma prisão?”

 

Kauê – Porque é esta a política deles. Não existe nenhum interesse em manter a juventude na escola. Em dar uma educação de qualidade para o conjunto dos jovens. Enquanto o número de escolas públicas no país caiu, o número de presídios construídos aumentou e muito, 250%, se não me engano.

 

Ao mesmo tempo em que, por um lado, as escolas estão fechando, por outro, o desemprego causado pela crise criada por Dilma atinge também a nós, jovens.

 

São os jovens os primeiros a serem impactados pelo desemprego. E uma parcela grande da juventude, caí no crime devido à falta de oportunidade.

 

Por isso, os estudantes parafrasearam o escritor Victor Hugo e dizem: “Quem fecha uma escola, abre uma prisão”.

 

 HP – E o que está sendo feito para barrar o fechamento das escolas?

 

 Kauê – As mobilizações estão acontecendo em todo o estado. Aqui na capital, são dezenas de escolas em mobilização. Estamos fazendo atos e protestos em conjunto com os professores e todos os que são contra esta desestruturação. No começo seriam transferidos de escola um milhão de estudantes e 155 escolas fechariam, em 2016. Com todas essas ações, os tucanos, recuaram e agora o que dizem é fechar ao menos 94 escolas e mudar 311 mil alunos de unidade. Essa é uma importante vitória do movimento.

 

Porém é só uma batalha. Esta guerra só será vencida quando nenhuma sala de aula for fechada e nenhum estudante transferido de escola. As mobilizações continuam.

 

Nesta sexta, dia 6, tem protesto unificado na Paulista.

 

Fonte: Jornal Hora do Povo

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