Tirar Petrobrás da produção de biocombustível é um equívoco, diz Maranhão
“O etanol de cana somado ao produzido a partir do milho representa hoje 82% do mercado de biocombustíveis. Juntos, Brasil e Estados unidos dominam 90% desse mercado. É um equívoco total, revelando má fé ou absoluta falta de estratégia afastar a Petrobrás da produção de biocombustíveis”, afirmou o ex-deputado federal Ricardo Maranhão, conselheiro da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet) e do Clube de Engenharia.
A saída da estatal do setor de biocombustíveis faz parte dos “desinvestimentos” anunciados em 20 de setembro deste ano quando da divulgação do Plano de Negócios 2017-2021: “Otimizar o portfólio de negócios, saindo integralmente das atividades de produção de biocombustíveis, distribuição de GLP. Produção de fertilizantes e da participação em petroquímica…”
Segundo Maranhão, “a Shell, por exemplo, abandonou investimentos em energia solar e eólica para apostar todas as fichas no etanol brasileiro”. Ele lembra que em 2010, a multinacional anglo-holandesa se associou à brasileira Cosan numa joint venture de R$ 40 bilhões que deu origem à empresa Raizen – principal fabricante de etanol de cana-de-açúcar do Brasil e maior exportadora individual de açúcar de cana no mercado internacional – numa operação que mudou o mapa energético mundial.
“Na época, Peter Heijen, analista do setor petróleo em Amsterdã, Holanda (sede da Shell), disse se tratar de ‘um negócio fantástico, que faz todo sentido’, para a Shell, é claro”, ressaltou o ex-deputado federal.
Já o presidente da Shell no Brasil, Vasco Dias, afirmou que o Brasil hoje “é o centro da estratégia de biocombustíveis” da empresa. Não é para menos. A agência americana de proteção ambiental classificou o etanol de cana brasileiro como combustível limpo, classificação que abre as portas desse produto aos 40 mil postos que a Shell detém no mundo inteiro, com receita de US$ 278 bilhões anuais.
“Tanto que, para o dono da Cosan, Rubens Ometto, a associação com a Shell formou o dream team (time dos sonhos) do etanol”, disse Maranhão, destacando que o etanol de cana-de-açúcar diminui em 61% as emissões de CO2 na atmosfera, enquanto o produzido a partir do milho reduz essas emissões em apenas 21%.
“Em 2015, quando por sinal o Próalcool completou 40 anos, o consumo mundial de etanol cresceu 37,5%, enquanto a demanda por gasolina regrediu 7,3% no mesmo período”, ressaltou Maranhão.
No dia 6 de outubro, a Petrobras Biocombustível comunicou que irá encerrar as atividades produtivas da Usina de Biodiesel de Quixadá, no Ceará, a partir de 1º de novembro e que estuda alternativas para as outras duas unidades, a de Montes Claros, em Minas Gerais, e Candeias, na Bahia.
No dia 21 de outubro, a companhia anunciou as negociações com a Tereos Internacional S.A. para a venda de participação de 45,9% da Petrobras Biocombustível na empresa do setor sucroenergético Guarani S.A.
A Guarani, que é controlada pela multinacional francesa Tereos, é a terceira maior produtora de açúcar no Brasil, além de produzir etanol em larga escala e energia elétrica. A empresa é parceira da Petrobrás em sete usinas em São Paulo: Severínia, Cruz Alta, São José, Andrade, Vertente, Tanabi e Mandu.
Fonte: Hora do Povo