“O interesse cultural dos brasileiros alimentou o sucesso da mostra”, afirma Bogdasarov
No encerramento da mostra Mosfilm – 90 Anos, o presidente do Centro Popular de Cultura da União Municipal dos Estudantes Secundaristas (CPC-UMES), Gabriel Alves, destacou que "foram 7 dias, 10 filmes que não haviam sido exibidos no Brasil, apresentando diversas linguagens, comédia, ficção, documentários". "Tudo isso foi fruto da parceria do Mosfilm com o CPC, que se manifestou na Mostra, mas se desenvolve muito maior, envolvendo o lançamento de 18 filmes da Mosfilm em DVD. Uma parceria que deve ser ampliada. Já foram iniciadas conversações e, com certeza, virão outras atividades conjuntas".
"A Mostra foi um sucesso, mais de mil pessoas passaram pela Cinemateca durante estes 7 dias", finalizou Gabriel, agradecendo à Mosfilm, à Cinemateca e a todos que contribuíram pelo sucesso da atividade.
Assim que chegou a Moscou, o vice-diretor-geral do estúdio Mosfilm, Igor Bogdasarov, que veio ao Brasil para representar o Mosfilm durante a Mostra, concedeu entrevista a Elena Fedotova, publicada no site da Mosfilm e traduzida e reproduzida abaixo. Na entrevista, Bogdasarov destaca o interesse revelado pelo público brasileiro e uma capacidade dos brasileiros de se identificar com os filmes assistidos. "A sala reagia como se o filme estivesse sendo exibido na Rússia", afirmou o diretor do Mosfilm.
O diretor do Mosfilm também destacou a diversidade dos filmes apresentados que incluíram obras dos mais conhecidos e consagrados diretores do cinema russo e soviético, entres eles Eisenstein, Pudovkin, Panfilov, Gaidai, Mikhail Romm e Karen Shakhnazarov, diretor-geral do estúdio Mosfilm.
Na Cinemateca de São Paulo foi realizada uma mostra dos melhores filmes do MOSFILM em comemoração aos 90 anos do Estúdio. Os espectadores brasileiros puderam assistir filmes como "O tigre branco", de Karen Shazhnazarov; "Às seis da tarde depois da guerra", de Ivan Pyryev; "Primavera", de Grigori Aleksandrov; "O retorno de Vassily Bortnikov", de Vsevolod Pudovkin; "A mãe", Buy antidepressants online inexpensively from an international pharmacy "Doze cadeiras", de Leonid Gaidai; "Lenin em Outubro" e "O fascismo de todos os dias", de M khail Romm; "Sonhos", de Karen Shakhnazarov e Aleksandr Borodyansky; "O Velho e o Novo", de Serguei Eisenstein e Grigori Aleksandrov. O MOSFILM destacou para acompanhar o evento o vice-diretor-geral Igor Bogdasarov.
ELENA FEDOTOVA
Elena -Igor, como foi recebido o cinema russo-soviético no Brasil?
Igor – Os espectadores brasileiros conhecem bem o cinema soviético. Naquela época, na América Latina exibiam regularmente nossos filmes, na Cinemateca de São Paulo foram preservados alguns dos nossos originais. E eu tive a impressão de que a vontade de ver o cinema russo se manteve. Os intelectuais brasileiros entendem que não é suficiente mostrar apenas o cinema norte-americano, que é necessário ver todas as faces do cinema. O interesse na cinematografia russa e na cultura como um todo é o potencial que alimentou o sucesso dos dias do MOSFILM em São Paulo.
Elena – Pelo que estou sabendo, o programa oficial não se limitou às mostras de cinema…
Igor –No marco da Semana do MOSFILM foram também organizadas duas atividades oficiais. Uma no Consulado Geral da República Russa em São Paulo, e outra no Ministério da Cultura do Brasil em São Paulo. Nelas participaram o Cônsul Geral da Rússia em São Paulo, Konstantin Sergueievich Kamenev, o presidente do Centro Popular de Cultura, Gabriel Alves, o representante do Ministério da Cultura do Brasil em São Paulo, Valério Bemfica, e muitos outros.
Como já disse, no Brasil existe hoje um grande interesse na cultura russa, por isso alguns meios de comunicação organizaram entrevistas – o jornal Hora do Povo, a Revista Cult, o site de internet da organização estudantil UMES e outros. O Sindicato de Técnicos de Cinema (Sindcine), por exemplo, organizou um debate durante o qual sentimos o enorme interesse dos participantes em relação ao MOSFILM. Cada um buscava conseguir o máximo de informação sobre o trabalho do estúdio.
Elena – Qual foi o principal público na Mostra?
Igor – Espectadores preparados e interessados na arte do cinema. Apesar de que os únicos espectadores russófonos na Mostra, além de mim, eram os membros e funcionários do Consulado, a sala reagiu como se a exibição acontecesse na Rússia, sentindo com sutileza os momentos trágicos e cômicos. Participaram da mostra na Cinemateca pessoas dos mais diferentes setores: representantes de sindicatos de trabalhadores, por exemplo, estudantes…
Elena – Segundo que critérios se realizou a escolha das películas exibidas?
Igor – Os organizadores se esforçaram por escolher filmes incomuns, com uma história complexa. Por exemplo, "A Linha Geral" foi filmado por Serguei Eisenstein e Grigori Aleksandrov. Stalin não gostou do resultado, e Serguei Eisenstein perdeu o interesse no filme. Aleksandrov fez uma remontagem e o nome "Velho e Novo" foi dado por Stalin. O filme ficou meia hora mais curto, o final foi mudado, alguns planos foram alterados de lugar – em suma, ele sofreu uma modificação. Porém, a bilheteria da versão de Aleksandrov não teve grande sucesso. E há ainda "O Retorno de Vassily Bortnikov", o último filme de Vsevolod Pudovkin. "Primavera" é o primeiro filme em que aparece o logotipo do MOSFILM. A película "Lenin em outubro" realizou-se para os 20 anos de Outubro e foi o primeiro filme em que Lenin fala. "Às seis da tarde depois da guerra" foi feito em 1944, um ano antes da Vitória. Enquanto a película de Ivan Pyryev era filmada aqui, no MOSFILM, ao mesmo tempo, Serguei Eisenstein trabalhava na Ásia central, no filme "Ivan o terrível". Em uma palavra, os organizadores da mostra buscaram abranger toda a história soviética e pós-soviética do cinema nacional.
Elena – Os gêneros também foram apresentados em sua diversidade?
Igor – Sim, e às vezes esta escolha foi muito inesperada. A novela de Máximo Gorky, "A mãe", é um clássico do realismo socialista, mas os organizadores da semana do MOSFILM no Brasil escolheram, ao invés da primeira versão, de Vsevolod Pudovkin, a variante de Gleb Panfilov, de 1989. O filme "As 12 cadeiras", de Leonid Gaidai, é um clássico da comédia soviética, e o longa "Sonhos", de Karen Shakhnazarov e Aleksandr Borodyansky, é uma comédia satírica que versa totalmente sobre outro assunto, da época pós-soviética.
Da mesma forma, na Mostra foram apresentados três filmes sobre a guerra. "O tigre branco", de Karen Shakhnazarov, é um filme místico. "Às seis da tarde depois da guerra", de Ivan Pyryev, é um musical e "O fascismo de todos os dias", de Mikhail Romm, é um longa-metragem documental, também muito pouco comum. Quando o filme "Lenin em Outubro" foi às telas, muitos diretores se relacionaram com ele com ceticismo, pela abordagem romanceada do filme sobre a revolução. Dizem que isso magoou muito Mikhail Romm e, por isso, ele quis fazer um filme sobre a guerra sobre cuja veracidade ninguém pudesse duvidar. Romm pegou materiais autênticos, por exemplo, fotografias que pertenciam a alemães feridos e a soldados mortos. Eles levavam fotos espantosas nos bolsos das camisas, considerando isso como algo normal, o que os caracterizava. A estréia do filme aconteceu em Leipzig. Embora a Alemanha naquela época fosse um país amigo da URSS, a sessão foi pesada. Contam que alguns espectadores reconheceram seus parentes e pessoas próximas tanto entre os mortos, como entre os verdugos. Depois que o filme acabou, por cerca de 10 minutos as pessoas ficaram sentadas em silêncio. Mikhail Romm admitiu que seu objetivo principal havia sido chocar o espectador, e ele escolheu o método de combinar cenas de tempos de guerra e de paz.
Elena – Quem organizou o evento? E quem selecionou os filmes?
Igor – A Mostra foi organizada pelo Centro Popular de Cultura da União Municipal de Estudantes Secundaristas de São Paulo (CPC-UMES).
Gostaria de agradecer especialmente a sua equipe. Eles poderiam ter escolhido filmes de percepção simples, mas fixaram-se nos mais significativos. A seleção dos filmes foi feita pela jovem direção, mas em torno deles há verdadeiros especialistas, preparados para divulgar o cinema soviético e russo.
Assista abaixo a cobertura da abertura da mostra:
(Clique para assistir)