SUSPENSÃO ATIVIDADES

UMES INFORMA SUSPENSÃO TEMPORÁRIA DAS ATIVIDADES

SUSPENSÃO ATIVIDADES

Comunicado

Tendo em vista a situação de emergência que se encontra o país e seguindo as recomendações da prefeitura e do governo do estado de São Paulo, a União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo – UMES informa a suspensão das atividades em sua sede central e subsedes regionais pelos próximos 30 dias.

A UMES informa ainda que toda a programação de cinema, teatro, ensaios e outras atividades oferecidas ao público no Cine-Teatro Denoy de Oliveira além das aulas e rodas do Projeto Capoeira da Umes somente serão retomadas após a confirmação das garantias de saúde pública, respeitando a orientação das autoridades oficiais.

Seguiremos acompanhando as informações sobre as providências a serem tomadas no próximo período e nos colocamos à disposição, por meio do nosso site e de nossas redes sociais, para informá-los de qualquer novidade.

 

UNIÃO MUNICIPAL DOS ESTUDANTES
SECUNDARISTAS DE SÃO PAULO

 

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COMUNICADO – Suspensão das Mostras de Cinema e atividades do Cine-Teatro

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Comunicado

Em função da recomendação do governo de São Paulo, anunciada neste domingo (15), o Cine-Teatro Denoy de Oliveira informa que irá suspender sua programação de cinema, teatro, ensaios e demais atividades pelos próximos 30 dias.

Desta forma, as exibições de “Os Girassóis da Rússia” na Mostra Permanente de Cinema Italiano desta segunda-feira (16), e de “O Julgamento do Macaco”, na 2ª Mostra Democrática Cinema com Partido, no sábado (21), estão suspensas, bem como a das três semanas seguintes, respeitando a orientação das autoridades oficiais.

Seguiremos acompanhando as informações sobre as providências a serem tomadas no próximo período e estamos aqui para informá-los de qualquer novidade.

Galileu e Andrea

Cinema com Partido: “A vida de Galileu” debate a perseguição contra o conhecimento

Galileu e Andrea

Galileu e seu discípulo Andrea Sarti

O filme “A vida de Galileu”, de Joseph Losey, iniciou no último sábado (14), a temporada de 2020 da Mostra Democrática Cinema com Partido. O filme, de 1975, é uma adaptação cinematográfica da peça teatral escrita por Bertold Brecht e apresenta a comprovação pelo cientista da teoria de Copérnico de que a Terra gira em torno do Sol.

O fato, no entanto, contava com a reprovação da Igreja Católica que para manter a estrutura de poder, colocava a Terra e a criação divina – o homem, como o centro do Universo.

Ao abrir o debate, o presidente da UMES, Lucas Chen, relembrou que o filme de Joseph Losey tornou-se ainda mais contemporâneo na atual situação do país. “No ano passado, quando passamos o filme pela primeira vez, nós não tínhamos ainda presenciado os cortes das verbas na Educação e na Ciência pelo governo Bolsonaro”, relembrou Chen.

“Temos um presidente que nega a ciência e que hoje fortalece ainda mais o discurso do obscurantismo e da perseguição”, destacou o estudante.

O presidente do Centro Popular de Cultura da Umes – CPC-UMES, Valério Bemfica, ofereceu ao público presente uma analogia entre o processo de perseguição vivido por Galileu e os tempos atuais.

“Essa peça traz questões muito semelhantes às que a gente vive hoje. Nos altos escalões do governo, a mentalidade criacionista é dominante. Veja, há 2,5 mil anos, já se considerava que a Terra era esférica. Mas hoje, tem gente dizendo que a Terra é plana, ou seja, um retrocesso de mais de 2 mil anos de conhecimento da humanidade.

A discussão que temos que fazer é onde está a ciência e onde está o obscurantismo. Acreditar somente na palavra que foi ‘revelada’ era o instrumento de dominação da época. E o conhecimento abala as estruturas.    

É isso que temos que ter consciência. E saber que uma entidade como a UMES, que defende a Educação, que defende o Saber e a Cultura, tem um papel fundamental neste momento que é fazer a defesa do conhecimento contra o obscurantismo”, apontou Valério.

Veja a íntegra do debate:

 

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Coronavírus: Veja como prevenir o contágio

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A pandemia de coronavírus é motivo de atenção para todos os brasileiros. Apesar de ainda serem poucos casos confirmados, o cenário tende a se agravar. Segundo projeção realizada por um grupo de médicos paulistas, são esperados ao menos 45 mil casos na Grande São Paulo.

Junto à pandemia, uma série de fake news também está sendo propagada. São inúmeras as falsas orientações que circulam na internet e nos grupos de whatsapp.

Para combatermos isso, não há outro remédio que não seja a informação. E para isso, nós brasileiros contamos com o Sistema Único de Saúde.

O Ministério da Saúde lançou app CORONAVÍRUS-SUS com o objetivo de conscientizar a população sobre o novo coronavírus. No aplicativo, há inclusive uma seção sobre as fake news que estão sendo propagadas pela internet sobre a doença.

Disponível para Android iOS.

Publicamos abaixo as principais recomendações para redução do risco de contágio e orientações sobre o procedimento a ser adotado em caso de sintomas:

Como reduzir o risco de infecção?

  • Evite aglomerações e ambientes sem ventilação adequada.
  • Evite contato próximo com pessoas doentes, ou com sinais ou sintomas respiratórios.
  • Tenha precaução com objetos possivelmente contaminados (corrimãos, maçanetas, celulares, interruptores, torneiras, carrinhos de supermercado).
  • Lave cuidadosamente as mãos com água e sabão por pelo menos 20 segundos, com muita frequência. Na falta, friccione-as com álcool em gel em concentrações ≥ 60% até 70%. Sempre evite tocar olhos, nariz e boca.

Deve ser considerada como caso suspeito a pessoa que se enquadre em uma das seguintes situações:

Situação 1: febre e pelo menos um sinal ou sintoma respiratório (tosse, dificuldade para respirar, entre outros) e histórico de viagem para área com transmissão local nos 14 dias anteriores ao aparecimento dos sinais ou sintomas.

Situação 2: febre e pelo menos um sinal ou sintoma respiratório (tosse, dificuldade para respirar, entre outros) e histórico de contato próximo de caso suspeito para o Coronavírus (SARS-CoV-2) nos 14 dias anteriores ao aparecimento dos sinais ou sintomas.

Situação 3: febre ou pelo menos um sinal ou sintoma respiratório (tosse, dificuldade para respirar, entre outros) e contato próximo de caso confirmado laboratorialmente para Coronavírus (SARS-CoV-2) nos 14 dias anteriores ao aparecimento dos sinais ou sintomas.

Na presença de sintomas:

  • Desinfete com frequência superfícies e objetos tocados.
  • Necessariamente cubra boca e nariz ao tossir ou espirrar, se possível com máscara descartável ou lenço de papel, a ser jogado no lixo após o uso.
  • Se as mãos tiverem entrado em contato com lenço de papel usado ou secreções, devem ser imediatamente higienizadas para não contaminar outras superfícies.
  • As máscaras de proteção (descartáveis) devem ser utilizadas pelos doentes (quando em contato com outros indivíduos) e pelas pessoas diretamente envolvidas no tratamento.
  • Deve ser levado em consideração, contudo, que apenas o uso de máscaras, sem a adoção de outras medidas de proteção (como lavar as mãos), é ineficaz.

Fonte: Grupo de combate ao Coronavírus da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

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Brizola: Se Freixo transitar da ‘frente de esquerda’ para a ‘frente ampla’ vai marcar um gol de placa

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Brizola Neto, ex-deputado e ex-ministro do Trabalho – Foto: Reprodução

 

O ex-deputado e ex-ministro do Trabalho Brizola Neto, pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro pelo PCdoB, afirmou na sexta-feira (13), em entrevista ao Jornal Hora do Povo, que tem visto com bons olhos a evolução da posição do candidato do PSOL Marcelo Freixo sobre a urgência de uma unidade ampla do “campo progressista” e a possibilidade por ele anunciada de apoiar outras candidaturas.

HP: O deputado Marcelo Freixo revelou, no dia 11 de março, à Revista Fórum, que está insatisfeito com a postura que o seu partido, o PSOL, vem adotando para a formação de uma aliança mais ampla, uma “frente progressista”. Ele reclama que não pode entrar em mais de 50 bairros no Rio, por risco de morte. E que, se terá de enfrentar esta extrema direita, não poderá entrar numa aventura. O pré-candidato do PSOL tem dito inclusive que não será candidato a prefeito do Rio de Janeiro “se não houver unidade das forças progressistas”. Você acha que a escalada do autoritarismo está levando Freixo a transitar da tática de “frente de esquerda” para a de “frente ampla”, que você e seu partido sustentam?

Brizola Neto: Vejo com bons olhos a evolução do posicionamento do Freixo, inclusive a possibilidade por ele anunciada de apoiar outras candidaturas. Seu partido vinha repetindo, aqui no Rio, a política hegemonista do PT de constranger os partidos de esquerda a apoiar seus candidatos a prefeito, governador e presidente da República – até mesmo no primeiro turno. A construção de uma frente ampla para barrar o avanço do fascismo não combina com esse tipo de comportamento.

HP: Como você vê a construção dessa frente ampla nas eleições deste ano na cidade do Rio de Janeiro?

Brizola Neto: O candidato do Bolsonaro é o Crivella. Então, é todo mundo contra o Crivella. Mas todo mundo mesmo. O Eduardo Paes é do DEM, o Bebianno é do PSDB, o Hugo Leal do PSD. São partidos de esquerda? Não. Mas desde quando a esquerda tem o monopólio da defesa da democracia? Em situações de grave ameaça ao regime democrático, como a que vivemos, nossa obrigação é reunir todas as forças contrárias ao retrocesso. As candidaturas do meu partido a prefeito estão a serviço dessa diretriz.

HP: É simples assim?

Brizola Neto: Quem achar que ajuda mais a essa causa apresentando candidato no primeiro turno deve ser estimulado e não constrangido. A diversidade de candidaturas do campo democrático amplia nosso alcance junto aos setores da sociedade e faz com que cheguemos mais fortes ao segundo turno. E como é raro um candidato à reeleição, como Crivella, não chegar ao segundo turno, quem for melhor no primeiro pega ele com o apoio de todos no segundo. É assim que se constrói a frente ampla nessas eleições, reunindo as forças contrárias à implantação da ditadura bolsonarista, sem deixar nenhuma de fora. Se o Freixo completar a transição e assumir essa posição é capaz até dele ganhar de mim.

 

 

 

coronavirus

Novo coronavírus pode causar estresse brutal sobre sistema de saúde

coronavirus

 

Emergência não será resolvida por economistas que defendem manter o teto de gastos para a Saúde

DRAUZIO VARELLA

Médico cancerologista, autor de “Estação Carandiru”

Publicado no jornal Folha de São Paulo em 13/03

 

Prever o futuro de uma epidemia é tarefa inglória. Quando se trata de um agente infeccioso que entra pela primeira vez em contato com seres humanos, fica pior.

Mesmo reconhecendo que as variáveis são tantas e as perguntas mais numerosas do que as certezas, já podemos tirar alguma conclusões.

1) Está claro que o atual coronavírus (chamado de Sars – COV-2) se adaptou muito bem à transmissão inter-humana, por meio das secreções das vias aéreas. A doença foi detectada na China, em dezembro, e se espalhou pelos continentes em três a quatro meses. É uma pandemia, quer dizer, todos corremos risco de adquirir esse coronavírus.

2) O isolamento forçado de regiões com milhões de habitantes na China, o fechamento da fronteira com a Rússia, a paralisação das atividades e a proibição de deslocamentos num país como a Itália, os policiais nas ruas das cidades atingidas, a fiscalização em aeroportos e o cancelamento de viagens aéreas foram medidas que talvez tenham retardado a entrada do vírus em algumas regiões e até reduzido a velocidade de disseminação, mas foram incapazes de deter a propagação pelo mundo.

3) O quadro clínico é variável, depende da idade, da presença de doenças crônicas, do tabagismo e da eficiência do sistema imunológico individual. A evolução é benigna em mais de 80% dos casos.

A taxa de mortalidade aumenta com a idade. As crianças com menos de dez anos são poupadas — no entanto, não sabemos até que ponto serão portadoras relativamente saudáveis do vírus que infectará os familiares.

Dos 10 aos 40 anos, as mortes são eventos raros: ao redor de 2 em cada 1.000 infectados. O problema é a mortalidade na faixa dos 70 aos 80 anos (cerca de 8% a 10%) e nas pessoas com mais de 80 anos (de 14 a 20%).

4) Como esses números variam muito, ficam difíceis de serem interpretados. A OMS estima que a mortalidade média no mundo está ao redor de 3,5%, mas na Itália passa dos 6%, enquanto na Coreia do Sul é de 0,7% e na Alemanha ocorreram apenas duas mortes em 1.300 infectados. Como explicar tamanha discrepância?

Até aqui, não surgiram evidências de que o vírus da Itália seja mais agressivo.

Certamente os coreanos e os alemães testaram mais gente, e detectaram maior número de infecções assintomáticas ou com sintomas mínimos, enquanto o sistema de vigilância italiano teria deixado de diagnosticar esses casos iniciais. Se contarmos apenas os doentes mais sintomáticos que procuram os hospitais, a porcentagem de óbitos aumenta. Por uma série de razões, os epidemiologistas consideram mais precisos os dados coreanos e alemães.

O fato de 22% dos italianos terem mais de 65 anos, enquanto na Coreia esse número é de 14%, talvez seja parte da explicação. Digo parte porque a Alemanha tem uma população de idosos próxima da Itália.

5) No Brasil, os casos iniciais foram diagnosticados em pessoas que se infectaram em outros países, principalmente na Itália, mas também em lugares como os Estados Unidos. Agora surgem as primeiras infecções comunitárias, isto é, as de brasileiros que adquiriram o vírus sem terem viajado para o exterior nem tido contato com viajantes. Isso é um marco: significa que o aumento do número de infecções será crescente nas próximas semana.

O que vai acontecer?

Embora a velocidade de propagação possa ser reduzida às custas da adoção de medidas preventivas individuais e coletivas, tudo indica que uma epidemia de proporções nacionais provavelmente vai acontecer.

Num país de dimensões continentais, ela vai adquirir características regionais, com diferenças entre o norte e o sul ou o sudeste, entre as cidades grandes e as pequenas, entre litoral e interior. O risco de uma trabalhadora que depende de transporte público na periferia de São Paulo ou Recife, não é o mesmo que o de um trabalhador rural do centro-oeste ou de um ribeirinho no Pará.

Uma coisa é certa: a depender da velocidade de disseminação da epidemia o estresse sobre o sistema de saúde poderá ser brutal. Vou explicar:

1) No mínimo 80% dos infectados desenvolverão quadros semelhantes aos dos resfriados comuns, que podem e devem obrigatoriamente ser tratados em casa, com isolamento para não transmitir o vírus. O doente e os familiares devem lavar as mãos com frequência, usar máscara, higienizar maçanetas e superfícies de uso comum, separar talheres e pratos e reduzir ao máximo a possibilidade de contato com outras pessoas.

Se todos que ficarem resfriados correrem para o pronto-socorro, será o caos na saúde pública ou privada. As salas de espera ficarão lotadas —como já acontece em hospitais particulares de São Paulo— de gente infectada que transmitirá o vírus para pacientes com outras enfermidades, à espera de atendimento, além de colocar em risco os profissionais de saúde.

Não podemos esquecer que mesmo a doença com pouco sintomas afastará enfermeiras, atendentes, médicos e outros profissionais da linha de frente.

2) E os outros 20% de doentes que evoluem com sintomas mais exuberantes? Embora representem a minoria dos pacientes, na China um quarto deles precisou de internação; na Itália, cerca de 50%.

Esse é o desafio que enfrentaremos. Os casos graves representarão uma carga pesadíssima para o SUS e para os planos de saúde, com repercussões graves na economia do país.

Salvo exceções, não podemos mandar para casa pacientes com dificuldade para respirar, sobretudo porque serão os mais velhos, os fumantes com enfisema, os que sofrem de insuficiência cardíaca, renal, pressão alta, diabetes, Aids, tuberculose e outras doenças que debilitam o sistema imunológico.

Quem chegar ao pronto-atendimento com falta de ar precisará ser internado. No mínimo para ficar em observação, mas pode necessitar de inalação contínua de oxigênio ou de entubação endotraqueal e aparelho de ventilação pulmonar, intervenções drásticas só disponíveis em unidades de terapia intensiva.

Como pneumonias virais não costumam ser curadas em menos de 10 a 15 dias e podem evoluir com complicações bacterianas, o período médio de internação será prolongado.

Quantas pessoas infectadas exigirão cuidados mais intensivos? Em termos porcentuais, o número não assusta: 5% a 10% talvez, mas a depender do total de portadores do vírus no país inteiro haverá falta de milhares de vagas nas UTIs. Sem esquecer que a atual demanda, já reprimida, por leitos para pacientes recém-operados, com septicemia, ataque cardíaco, acidente vascular cerebral, enfisema ou traumatismo continuará a mesma.

De onde virão os profissionais, as instalações, os equipamentos e a expertise para cuidar intensivamente de tantas mulheres e homens de idade? A falta de leitos de UTI sempre foi um dos calcanhares de Aquiles do SUS. De onde os estados mais pobres e os mais endividados conseguirão recursos financeiros e humanos?

Esta semana ficamos chocados quando o médico. Paolo Pelosi, de Gênova, referência mundial em terapia intensiva e ventilação mecânica, revelou que os médicos do seu hospital enfrentavam o dilema ético de decidir que pacientes devem ter preferência no tratamento, uma vez que não há aparelhos de ventilação para todos. Se isso acontece nos hospitais públicos da Itália, será diferente aqui?

O que fazer?

Várias medidas devem ser tomadas imediatamente para reduzir os riscos de transmissão e a velocidade de disseminação, com a finalidade de ganhar tempo para nos organizarmos:

1) O programa Estratégia Saúde da Família, considerado pelos especialistas da OMS como um dos melhores do mundo, precisa ser preparado rapidamente para impedir que os doentes procurem os hospitais sem necessidade.

Os agentes de saúde que batem na porta de 2/3 dos brasileiros devem ser treinados para orientar os moradores com quadro de resfriado. As equipes do Saúde da Família podem convencê-los a ficar em casa, em repouso, sendo tratados como no tempo de nossas avós. Imaginem o desastre se esse contingente, que representará pelo menos 80% de milhares de infectados, for parar nos serviços de pronto-atendimento.

Imaginem o desastre que representará se toda essa gente fizer como pessoas da classe média alta de São Paulo, que já procuram os hospitais de convênio para fazer o teste ao primeiro espirro ou acesso de tosse. Faltarão kits para testar os que de fato precisarem.

2) O desafio maior, no entanto, será o de tratar os doentes graves. Nem o SUS nem os planos de saúde estão preparados para internar tanta gente, especialmente aqueles com indicação de ventilação respiratória assistida.

Neste momento, todos os esforços do ministério e das secretarias de saúde devem estar concentrados na criação da melhor estrutura possível para receber esses casos, tarefa difícil, porém não impossível.

Haverá dificuldades financeiras e organizacionais, pontos fracos do nosso sistema de saúde, mas nossos dirigentes devem entender que estamos diante de uma emergência de saúde pública que não será resolvida por economistas que defendem manter o teto de gastos para a Saúde. Será um crime se os recursos ficarem condicionados à mentalidade dos que dizem: “O SUS tem dinheiro suficiente, o que falta é organização”.

O pessoal de enfermagem e demais profissionais da área têm que receber treinamento urgente. Nosso sistema de saúde centrado nos médicos deve ser deslocado para os agentes de saúde nas visitas domiciliares e para a enfermagem nos hospitais, porque são eles que passam o dia inteiro em contato físico com os pacientes. Se caírem doentes, será difícil encontrar profissionais treinados para substituí-los.

Quanto mais medidas preventivas adotarmos agora para reduzir a velocidade de disseminação do vírus, mais tempo teremos para investir na atenção primária e na estruturação de nossos hospitais e demais serviços de saúde. O problema ficará pior se os doentes graves vierem todos de uma vez.

Mas qual é o seu risco pessoal?

Uma das tarefas mais complexas na área da educação em saúde é explicar para a população a diferença entre a percepção do risco individual e o risco para a sociedade. Assim, quando vacinamos uma criança, a mãe pode ficar assustada com o fato de a vacina provocar determinado efeito colateral, mesmo que ocorra em duas crianças para cada milhão de vacinadas. Para a saúde pública, o raciocínio é outro: quantas ficarão doentes ou morrerão se não tomarem a vacina?

No caso desse coronavírus, o impacto da epidemia no sistema de saúde será grave, pelas razões apresentadas, mas o risco individual é baixo e desigual. Vamos relembrar: na China, o país com o maior número infectados, não morreu nenhuma criança com menos de 10 anos. A mortalidade dos 10 aos 40 anos foi de 2 casos em cada 1.000 infectados. As taxas começaram a aumentar a partir dos 60 anos e chegaram a cerca de 15% depois dos 80 anos.

Qual a razão para uma mulher ou homem de 40 anos correr para fazer o teste porque a tia chegou da Itália? O resultado vai servir para que? Se for positivo, o pior que pode acontecer é ficar resfriado; se for negativo, que garantia haverá de assim permanecer depois de entrar em contato com o vírus no bar da esquina?

Quando o ministério e nós, médicos, dizemos que não existe razão para pânico, acham que estamos minimizando a gravidade do problema. Não é verdade. Pelo menos até aqui, as medidas técnicas adotadas pelo Ministério da Saúde têm sido impecáveis. Se esse vírus causasse mortes indiscriminadas em metade da população, haveria motivos para estratégias radicais, inadequadas para este momento.

Por enquanto, pelo menos, o maior perigo é a correria aos hospitais, de pessoas que não entraram em contato com o vírus ou não correm risco de complicações. Elas vão congestionar e desestruturar o sistema de saúde e colocar em risco muito mais gente do que a epidemia.

E o que vai acontecer?

Futurologia não é o forte dos médicos, mas vou arriscar. Se a epidemia seguir o curso da chinesa, a mais antiga, o número de infecções deve crescer significativamente nas próximas semanas. Num período de três a quatro meses, o pior período, deverá estabilizar-se e começar a perder força, porque haverá tanta gente que já entrou em contato com o vírus, que entrará em cena o fenômeno batizado como “imunidade de rebanho”, pelos epidemiologistas, segundo o qual, as epidemias são controladas quando o número de não imunizados é insuficiente para manter a transmissão em massa.

O vírus desaparecerá para sempre? Acho que não. Fará parte do grupo de mais de 200 vírus causadores de resfriado comum.

Coronavírus, Bolsonaro e a fantasia

 

Suspeito de ter sido contagiado, Bolsonaro usou máscara em uma transmissão falou sobre a pandemia de coronavírus no início da noite desta quinta-feira (12).

Na quarta-feira, Bolsonaro havia dito que a pandemia de coronavírus era uma “fantasia” da mídia. “Obviamente temos no momento uma crise, uma pequena crise. No meu entender, muito mais fantasia, a questão do coronavírus, que não é isso tudo que a grande mídia propala ou propaga pelo mundo todo”, afirmou o presidente.

Já nesta quinta-feira, o ex-capitão afirmou:

“Estou de máscara porque uma das pessoas que veio no meu voo desceu em São Paulo, fez exames e deu positivo. Não tem o resultado do meu ainda. Estão dizendo que deu negativo. Tomara que esta fake news seja verdade”, afirmou na transmissão.

O Palácio do Planalto informou que o secretário de Comunicação da Presidência da República, Fabio Wajngarten, contraiu o vírus. Ele está em isolamento domiciliar em São Paulo.

Wajngarten integrou a comitiva presidencial que viajou para os Estados Unidos na semana passada. Ele teve contato com o presidente norte-americano Donald Trump.

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Weintraub, um homem doente

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Publicamos abaixo editorial do jornal “Estado de São Paulo” desta quarta-feira sobre as recentes ações do ministro da Educação de Bolsonaro, Abraham Weintraub

 

Se o presidente quisesse ter um ministro da Educação, já teria demitido Weintraub

 

A cada dia que Abraham Weintraub permanece como ministro da Educação, desmoraliza-se esta que é uma das principais – se não a principal – forças motrizes para o desenvolvimento sustentável e para a redução da brutal desigualdade no País. Consumido por desvarios persecutórios e pendor revanchista que só sua alma é capaz de explicar, Weintraub parece não dispor de tempo em seu dia útil para dedicar às questões que realmente interessam à causa da educação, supondo, evidentemente, que o ministro seja capaz de diagnosticá-las. Em vez disso, Weintraub lança-se numa cruzada permanente contra tudo e contra todos que discordam de suas visões e de seus métodos, incluídos num mesmo balaio a mídia profissional, o Congresso, os partidos políticos e estudiosos das políticas públicas para a área de educação. 

Nos últimos dias, o ministro manteve-se bastante ocupado com ataques ao Movimento Todos pela Educação, uma organização que há anos dedica-se a debater a formulação de políticas educacionais, com relevantes serviços prestados ao País. O Todos pela Educação é uma entidade apartidária que congrega profissionais de todas as orientações político-ideológicas. A uni-los, a visão da educação como vetor primordial para o avanço de uma nação.

Pelo Twitter, o ministro Weintraub acusou o Movimento Todos pela Educação, em especial a presidente da organização, Priscila Cruz, de encampar uma “articulação” para a sua queda. “Foi Priscila Cruz, presidente do Todos pela Educação, quem organizou o evento de hoje (anteontem) para apresentar alternativas ao que estamos fazendo no MEC. Lembrando, Priscila Cruz, fã de Paulo Freire, quer estratégia para me derrubar”, escreveu o ministro.

Em primeiro lugar, o evento ao qual Abraham Weintraub fez alusão é o Encontro Anual Educação Já, que contou com a presença do secretário do Tesouro, Mansueto Almeida, do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), além de deputados, senadores, secretários estaduais de Educação e dirigentes das principais ONGs voltadas à educação no País. O ministro foi convidado para o evento em Brasília, mas não participou. Preferiu alimentar suas teorias conspirativas nas redes sociais a contribuir para o debate acerca das políticas educacionais.

 

Em segundo lugar, não seria necessária uma “estratégia” para “derrubar” o ministro da Educação. Os resultados apresentados por Abraham Weintraub – ou melhor, a falta deles – falam por si sós. Para que fosse substituído, bastaria que seu chefe, o presidente Jair Bolsonaro, quisesse ter entre seus auxiliares diretos um ministro da Educação, e não só um vulgar propalador de suas próprias convicções. O presidente já advertiu que as críticas feitas a Weintraub, a depender de onde venham, são estímulos para mantê-lo no cargo. Ou seja, a inação do ministro da Educação, além de suas ofensas e grosserias, são mais propensas a lhe valer uma medalha de honra ao mérito do que admoestações, quiçá demissão.

 

O Estado de S. Paulo tem como marca indelével de sua história secular a defesa inarredável da educação como mola mestra do crescimento do País. Não se furtará a apontar os erros cometidos por quem quer que seja em função dos desdobramentos que essas críticas possam ter no destino do agente público criticado. Ao fim e ao cabo, é ao País que Jair Bolsonaro terá de prestar contas caso futuras gerações sejam condenadas ao atraso pela inépcia de seu ministro da Educação.

 

O Encontro Anual Educação Já teve de ser suspenso porque Priscila Cruz pode ter sido contaminada pelo novo coronavírus, o que ainda não foi confirmado. Diante disso, Weintraub celebrou. “Para fechar o bloco de informações sobre Priscila Cruz e sua ONG Todos pela Educação: CORONAVÍRUS!!!”, escreveu o ministro no Twitter. “Eu sou a antítese de Priscila Cruz”, prosseguiu Abraham Weintraub. Está claro. Priscila Cruz tem caráter.

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Surtado diz que ganhou no 1º turno e tem prova mas não vai acender agora

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Jair Bolsonaro disse na segunda-feira (09) que acredita que houve fraude nas eleições de 2018. A afirmação, para variar, foi feita sem nenhuma prova. Ele diz que tem, mas que não vai “apresentar agora”.

Além de mentirosa, a afirmação é uma afronta ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), órgão responsável pela fiscalização e aprovação do pleito.

Bolsonaro já havia inventado essas acusações antes – sobre fraude nas eleições de em 2018. Ele diz que foi eleito no primeiro turno. Nunca apresentou nenhum fato que corrobore o que afirma. Continua sem apresentá-los.

E, com a glutonia que lhe é peculiar, não respondeu às perguntas dos jornalistas sobre quais seriam essas provas da fraude. Bolsonaro é assim. Acha que, por ser presidente, pode mentir à vontade e não tem que dar satisfação.

Agora que o caldo está entornando, ele usa de novo essa invencionice de fraude para se passar por vítima e insuflar a convocação de seu ato golpista de 15 de março. Algumas pessoas aventaram a hipótese de que ele criou essa história da fraude para fugir de explicar o desastre econômico de seu governo. Afinal, o país está literalmente afundando.

Mas, parece mesmo que é um aceno a seus milicianos para convencê-los de que ele estaria sendo perseguido pelo “sistema”. A “vítima” [ele] precisa ser defendida. Esse é o mote da encenação para agitar as fileiras milicianas.

A “fraude” faz parte da convocação do ato golpista. “Eu acredito que, pelas provas que tenho em minhas mãos, que vou mostrar brevemente, eu tinha sido, eu fui eleito no primeiro turno, mas no meu entender teve fraude. E nós temos não apenas palavra, nós temos comprovado, brevemente eu quero mostrar”, disse o orador, sem ter a menor preocupação em mostrar as provas que diz possuir.

Ninguém pode, muito menos o presidente, fazer uma acusação dessa gravidade sem comprovar o que diz. São ministros da mais alta corte eleitoral do país que estão sendo acusados por ele de terem validado um pleito roubado.

Aliás, por falar em roubo e fraude, o TSE está querendo saber dos mortos que assinaram a ficha de filiação do partido de Bolsonaro.

Se fazer de vítima para insuflar sua militância. Esse é o plano dos golpistas. Já na base militar em Boa Vista, ele disse que levou uma facada no pescoço dentro do palácio. Como assim? Quem o esfaqueou? Uma mentira a mais, inventada para indignar seus seguidores. Tudo para insinuar que “estão agredindo o presidente”. “Não querem deixar o presidente governar”.

Foi este o discurso escorregadio de Augusto Heleno, chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), na base militar em Rondônia. Falou em facada, disse que não querem deixar ele governar, etc, etc. Quem não quer deixar? Ele está governando… e afundando o país. É isso o que eles querem esconder.

As mentiras são ditas assim sem o menor pudor.

Fixado no papel de vítima para motivar as pessoas a irem às ruas em defesa do “mito” ameaçado, Bolsonaro lembrou, em seu discurso em Miami, o episódio da facada na campanha. A representação não dispensou nem o melodrama. A narrativa teve até choro no meio do relato. O discurso era para “emocionar” um auditório de religiosos.

E o pior é que a invencionice da fraude em 2018 não é nem original. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que jantou com Bolsonaro no sábado, também costuma deslegitimar o sistema eleitoral americano, afirmando que acredita ter havido fraude nas eleições que o levaram a poder em 2016. Até nisso, Bolsonaro macaqueou o seu guru, Trump.

A presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Rosa Weber, respondeu aos ataques do presidente surtado. Ela reafirmou, nesta terça-feira (10), a “absoluta confiabilidade e segurança do sistema eletrônico de votação”. A ministra lembrou ainda que “o sistema é auditado, o que permite a apuração de eventuais denúncias e suspeitas, sem que jamais tenha sido comprovado um caso de fraude, ao longo de mais de 20 anos de sua utilização”.

Quando terminava esta matéria, o Tribunal Superior Eleitoral, também publicou nota contra as aleivosias de Bolsonaro.

Leia a nota na íntegra do TSE:

“Ante a recente notícia, replicada em diversas mídias e plataformas digitais, quanto as suspeitas sobre a lisura das eleições 2018, em particular o resultado da votação no 1º turno, o Tribunal Superior Eleitoral reafirma a absoluta confiabilidade e segurança do sistema eletrônico de votação e, sobretudo, a sua auditabilidade, a permitir a apuração de eventuais denúncias e suspeitas, sem que jamais tenha sido comprovado um caso de fraude, ao longo de mais de 20 anos de sua utilização.

Naturalmente, existindo qualquer elemento de prova que sugira algo irregular, o TSE agirá com presteza e transparência para investigar o fato. Mas cabe reiterar: o sistema brasileiro de votação e apuração é reconhecido internacionalmente por sua eficiência e confiabilidade. Embora possa ser aperfeiçoado sempre, cabe ao Tribunal zelar por sua credibilidade, que até hoje não foi abalada por nenhuma impugnação consistente, baseada em evidências.

Eleições sem fraudes foram uma conquista da democracia no Brasil e o TSE garantirá que continue a ser assim.”

10-30-2020 Tribunal Superior Eleitoral

Publicado no Jornal Hora do Povo

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A Cultura em tempos de Bozo

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         Vivemos em um momento crítico de nossa história. O ano de 2019 marca a chegada ao Governo Federal de um grupo de extrema direita. Todos os valores mais caros a uma sociedade democrática são colocados em risco. O primeiro escalão do governo – a começar pelo supremo mandatário – é ocupado por uma plêiade de desajustados, interesseiros, boçais.

Temos um Ministro da Educação que não sabe escrever. Um dos principais responsáveis pela ciência no país, o Presidente da CAPES, é criacionista. O Ministro do Meio Ambiente é réu por crime ambiental. A Ministra da Mulher acha que a mulher deve submissão ao homem porque foi criada depois. O Ministro das Relações Exteriores acredita que o Presidente dos EUA foi escolhido por Deus para salvar o Ocidente. Abundam no governo terraplanistas, monarquistas e outros malucos do mesmo quilate. A palavra chave para definir o atual governo é obscurantismo.

E a Cultura, como ficou? Perdemos a condição de Ministério e fomos rebaixados a “Secretaria Especial”, subordinados a um ministro denunciado por desvio de verbas do Fundo Eleitoral. Depois de três Secretários em um ano – o último demitido por papagaiar um dos mais odiosos líderes nazistas –, a atriz Regina Duarte acaba de assumir o posto. Apesar do respeito devido à sua carreira, não devemos nos enganar: este continua sendo o governo que mais odeia a Cultura em toda a nossa história. Regina pode estar cheia de boas intenções e, pelo menos, não xingará a Fernanda Montenegro. Mas a tônica de Bolsonaro continuará sendo a censura, a perseguição aos artistas, o cerceamento das liberdades, o enfrentamento a tudo o que lembre humanismo, criatividade, arte e cultura. Ao lado da Educação, a Cultura foi escolhida por Bolsonaro como inimiga central.

Em um momento como esse o trabalho desenvolvido pelo CPC-UMES reveste-se de importância fundamental. Nosso foco sempre foi produzir, defender e divulgar a Cultura Brasileira. Aqui pensamos como Plínio Marcos: Um povo que não ama e não preserva suas formas de expressão mais autênticas jamais será um povo livre.Radicalizando: procuramos defender o caráter Nacional e Popular de nossas manifestações culturais.

Nacional, porque somos um país que surge como colônia e que, ao longo dos últimos cinco séculos, luta para livrar-se da exploração das potências estrangeiras. Desde a metrópole original, passando pela Inglaterra até chegar aos EUA, os dominadores sempre tentaram sepultar os desejos, os interesses, as manifestações e os sentimentos nacionais, impondo seus gostos, suas formas de viver e de pensar, sua cultura.

Isso, é claro, não quer dizer aderir ao falso nacionalismo de Bolsonaro e sua turma, que na verdade idolatram seus patrões norte-americanos. Falam em ensinar o patriotismo, mas batem continência para a bandeira estadunidense e falam “I love you” para Trump. Tampouco significa adotar uma postura chovinista, que desconsidere toda a cultura universal da qual somos de alguma maneira caudatários. Significa, apenas, dar-se conta de que, em todos os aspectos, a verdadeira independência nacional ainda não foi conquistada.

E popular, pois somente o povo consegue realizar a síntese necessária entre todas as nossas origens e gerar uma cultura rica, original, única. O Brasil de 1500 era habitado por seis milhões de índios, de diversas etnias. Aqui chegaram os Portugueses, sonhando em retornar ricos para sua terra, mas que acabaram deitando raízes. Vieram também judeus, fugindo da inquisição. Chegaram depois os negros, sequestrados e escravizados. Ao longo do tempo vieram mais europeus, escapando da fome e da perseguição política, vieram árabes, vieram orientais, mais africanos, desta vez exilados ou refugiados, assim como irmãos latino-americanos. A Cultura Brasileira não é a soma de todas estas. Tampouco é fusão, como querem alguns moderninhos. Menos ainda é o resultado da submissão de uma a outra. A Cultura Brasileira é a síntese de todos os elementos que aqui aportaram, temperada com a nossa terra, nosso sol, nossa habilidade ímpar de receber e conviver. Foram – e ainda são – processos complexos de integração, com episódios de dominação e de resistência, amalgamados por muita solidariedade, luta e heroísmo de nosso povo.

Alguns exemplos do processo: o Candomblé e a Umbanda são religiões de matriz africana. Mas não existem na África. O Carnaval é uma festa de origem europeia. Mas o brasileiro é diferente de todos os realizados naquele continente. O Choro tem nítidas raízes em músicas de outros países, mas só existe no Brasil. Os tambores africanos espalharam-se por toda a América. Mas só no Brasil se faz samba. Festas populares trazidas da Península Ibérica aqui ganharam características e temáticas únicas.

Defender a Cultura Nacional e Popular significa defender nossa independência, nossa vida, nosso futuro. Defender o Brasil, que Mário de Andrade definiu como “(…) o ritmo do meu braço aventuroso, / O gosto dos meus descansos, / O balanço das minhas cantigas, amores e danças. / Brasil que eu sou porque é a minha expressão muito engraçada, / Porque é o meu sentimento pachorrento, /Porque é o meu jeito de ganhar dinheiro, de comer e de dormir.

E o governo Bolsonaro odeia isso, tudo o que cheire a Brasil e a Povo. Na economia isso é facilmente verificável, olhando para as milhares de empresas brasileiras desnacionalizadas no último ano e para as crescentes remessas de lucro ao exterior. Ou, ainda, para a reforma da previdência, que escandalosamente roubou direitos do povo para financiar os banqueiros, nas filas do INSS e do Bolsa Família. Na educação também é evidente pela invasão de capital externo, que compra instituições já não muito qualificadas e as transforma em máquinas de impressão de diplomas. Vê-se ainda pela tentativa de imposição de modelos educacionais completamente esvaziados de qualquer conteúdo humanista, voltados unicamente à formação de mão de obra barata e precarizada.

Na Cultura os ataques ao Brasil e à brasilidade também são notórios. Faz tempo que vivemos uma disputa feroz pelo imaginário de nosso povo. A indústria cultural, principalmente norte-americana, despeja em nosso país seus enlatados e usa práticas comerciais desleais para sufocar a produção nacional. Mas as coisas pioraram no atual governo: além dos ataques às estruturas estatais da Cultura, procura-se desqualificar os seus criadores. Os artistas são tratados pelas hordas bolsonaristas como bandidos, ladrões, perigosos subversivos defensores do “marxismo cultural”. Chegamos ao cúmulo de uma Secretaria Estadual de Educação, de um estado governado pelo mesmo partido do Bozo, mandar recolher livros de Machado de Assis e de Euclides da Cunha. Dois dos maiores nomes da Literatura Brasileira tratados como nocivos para os jovens.

Mas nós resistiremos. Nunca foi do feitio nem dos estudantes e nem dos artistas brasileiros assistirem calados às tentativas de destruição do nosso país. Muitos já tentaram e foram parar nos esgotos da história. Em 1978, em plena ditadura militar, Fernando Brant e Milton Nascimento já nos apontavam um caminho, em uma canção chamada “Credo”: “Vamos, caminhando de mãos dadas com a alma nova / Viver semeando a liberdade em cada coração / Tenha fé no nosso povo que ele acorda / Tenha fé em nosso povo que ele assusta”.

A educação já começou a dar a sua resposta. As primeiras e mais importantes manifestações contra o absurdo que tentava se estabelecer foram justamente dos estudantes: as manifestações de 15M e 30M. As entidades estudantis se levantaram e levaram junto os professores e trabalhadores da educação e demonstraram com firmeza que não irão aceitar o desmonte da Educação, o corte de verbas e a transformação das escolas em uma feira do Paraguai. O governo foi obrigado a recuar. Foi assustado pelo povo!

E a Cultura também está dando a sua. Basta ver o festival de bordoadas que foram distribuídas no governo no último carnaval. Produzir e divulgar a Cultura Brasileira: essa é a tarefa. Esse é o compromisso do CPC-UMES. Contra a censura, falaremos mais alto. Se queimam livros, escrevemos outros. Se fecham os teatros, ocupamos a praça. Por mais que os bolsonaristas reclamem, cantaremos mais canções, faremos mais peças, mais filmes, mais poesia, dançaremos mais.

Nos inspiram os versos de Paulo César Pinheiro na canção “Pesadelo”, escrita em parceria com Maurício Tapajós, em 1972, em plena vigência do AI5:

Você corta um verso, eu escrevo outro

Você me prende vivo, eu escapo morto

De repente olha eu de novo

Perturbando a paz, exigindo troco

UMES, 07/03/20