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Ciro: culpa não é do vírus. “É a falta de projeto. É o Brasil entregue ao financismo”

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O ex-governador se refere ao caos na economia brasileira com a disparada do dólar e a queda nas bolsas

O ex-governador e ex-ministro da Fazenda, Ciro Gomes (PDT), usou sua rede social no sábado (29) para opinar sobre o os motivos que estão levando ao agravamento da crise econômica no Brasil.

Ele falou sobre a recente disparada do dólar e a queda nas bolsas. Para o ex-governador, não é o coronavírus o responsável pelo caos que está se instalando na economia brasileira. “É a falta de projeto. “É o Brasil entregue ao financismo”, denuncia o pedetista.

“‘Sem política industrial e de comércio exterior, quebraremos de novo’. Assim escrevi aqui em nov/2019. Assim permanece. Não é coronavírus, é falta de projeto, é política econômica que só privilegia os ricos. É incompetência e despreparo! É o Brasil entregue ao financismo”, avaliou o ex-governador.

A economia brasileira já vem ladeira abaixo antes da emergência da epidemia com o novo coronavírus. A produção industrial já havia caído 1,1% em 2019. As projeções para o PIB apontam para números muito próximos de 1% no ano passado. Bem abaixo das previsões otimistas, feitas pelo Banco Central, que divulgaram entusiasmados que o PIB cresceria em torno de 2,5% em 2019. Nem isso se confirmou. Os investimentos são os menores em 50 anos.

O economista Nilson Araújo de Sousa, em entrevista ao HP, (v. Nilson Araújo de Souza: Bolsonaro e Guedes estão destruindo o Brasil) citou o Monitor do PIB da FGV, que mostra que a taxa de investimento (FBCF/PIB) foi de apenas 15,3%, a menor taxa em 50 anos, segundo estudo do economista da FGV Marcel Balassiano.

O professor Nilson afirmou também que “as contas externas vêm se deteriorando desde o ano passado”. “O déficit em transações correntes (que registra o intercâmbio de mercadorias e serviços com o exterior, bem como as transferências de renda) subiu drasticamente de US$ 14,5 bilhões em 2018 para US$ 50,7 bilhões em 2019, resultante, sobretudo, da forte queda do superávit comercial, que foi de US$ 53 bilhões para US$ 39 bilhões”, disse ele.

“O quadro se agravou em janeiro deste ano, quando o déficit em transações correntes foi de US$ 11,9 bilhões (cifra próxima à do ano inteiro de 2018), devido, principalmente, a queda das exportações (19,5%). Teria que haver um amplo programa nacional de desenvolvimento, puxado pelo investimento público e pelo mercado interno, que desse o norte para o conjunto da economia”, acrescentou o professor.

Eduardo Moreira, economista e operador do mercado financeiro, também argumenta que a crise no país está sendo causada pelo desgoverno. No dia em que a bolsa caiu 7% logo após o carnaval, ele lembra que a bolsa de valores brasileira já vem caindo há muito mais tempo do que o surgimento da epidemia do coronavírus. “A bolsa de valores brasileira teve uma queda em dólares de 20% desde o seu pico no final do ano passado”, disse ele.

Moreira disse que as demais bolsas pelo mundo afora caíram muito menos do que isso. A Dow Jones (bolsa americana), segundo ele, caiu 9% e, na bolsa do México, por exemplo, a queda não passou de 10%. Ele citou outras bolsas, como a da Espanha, para mostrar que a instabilidade política brasileira, provocada pela insanidade de Bolsonaro e Guedes, é a principal causa da disparada do dólar e pela queda nas bolsas. Para ele, “a epidemia do coronavírus é apenas mais um fator a agravar a situação caótica da economia brasileira”.

Publicado no Jornal Hora do Povo

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Servidores protestam na Alesp contra projeto que destrói a Previdência estadual

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Servidores de diversas categorias estaduais realizam protesto nesta terça-feira para barrar a aprovação do projeto de reforma da Previdência do estado em segundo turno.

O presidente da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), deputado Cauê Macris (PSDB), convocou duas sessões extraordinárias para votação em segundo turno da PEC da reforma da Previdência dos servidores nesta terça-feira (3). A primeira sessão está marcada para as 9h15.

A votação do texto em primeiro turno ocorreu na sessão extraordinária das 19h do dia 18 de fevereiro, há quase duas semanas. A segunda etapa deveria ter acontecido no dia seguinte, mas a sessão foi cancelada após discussões entre deputados.

O horário da sessão provocou indignação de deputados e servidores. A expectativa era de que o expediente começasse apenas à tarde ou à noite, como ocorre normalmente.

Deputados da oposição denunciam que a convocação para a parte da manhã é manobra para conter mobilizações de servidores, que estavam se programando para chegar na Alesp às 14h.

“É um grande golpe contra os servidores para tentar neutralizar o ato e as manifestações que ocorrerão. Querem se esconder, mas não conseguirão, amanhã teremos milhares de pessoas aqui na Alesp a partir das 9h”, disse ao Agora o deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL).

“Nós vamos lotar a Alesp e as imediações, não vamos deixar que façam as coisas dessa forma. É um golpe dado pelo presidente da Alesp”, disse a deputada estadual Professora Bebel (PT), também presidente da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de SP).

O deputado Campos Machado (PTB), que na última sexta-feira (28) entrou com mandado de segurança na Justiça estadual contra a tramitação da PEC, também se posicionou contra a convocação.

“A decisão do presidente Cauê Macris é abusiva, desrespeitosa e acintosa, pois além de temer a decisão do judiciário paulista, ainda busca impedir a presença democrática de servidores na Assembleia Legislativa.”

Emídio de Souza (PT), que foi à Justiça estadual em dezembro também com um mandado de segurança contra a tramitação da PEC (disputa que foi parar no STF), utilizou as redes sociais pedir a mobilização de servidores.

“Peço a vocês que façam um esforço e, a partir das 8h, já se concentrem. Para mostrar que não é com esse tipo de golpe baixo que vai se desmobilizar qualquer área do funcionalismo”, publicou em sua página do Facebook.

“Com uma forte pressão, poderemos impedir mais este ataque contra os servidores públicos estaduais”, disse a deputada Bebel.

Para ela, o governador quer aprovar às pressas a reforma para “fazer caixa para o Estado às custas dos servidores e realizar às escondidas uma reforma administrativa”.

Em entrevista ao Jornal O Estado de São Paulo, nesta semana, a Professora Bebel disse que “tanto sob o olhar do Estado, quanto sob o olhar dos servidores, a reforma da previdência estadual não é necessária. Se estivesse faltando dinheiro, o governador não daria tanta isenção fiscal quanto dá. O governo diz que, ao criar, quer economizar R$ 32 bilhões em dez anos – o que significa cerca de R$ 3,2 bilhões por ano. Ora, a renúncia fiscal já está acima de R$ 3 bilhões. O Estado de São Paulo já teve uma reforma previdenciária em 2007, como o próprio governador reconheceu em campanha. Os servidores já estão pagando a alíquota de 11% desde então, portanto o governo deveria ter um “colchão” de recursos suficiente para a sustentabilidade da previdência”.

De acordo com a deputada Bebel, dentro da reforma está contida também uma reforma administrativa. “Isso porque a reforma abre a possibilidade de transformar o salário dos servidores em subsídio, o que impede o acréscimo de gratificações e adicionais. Com isso, trata-se o funcionário público como se ele tivesse cargo eletivo. O subsídio é para o governador, seus secretários, os deputados estaduais. Para o servidor, que tem carreira, não”, ressalta.

Por tudo isso, na avaliação da deputada e presidenta da Apeoesp, “o bom senso demandaria que o governador melhorasse essas distorções todas, antes da votação em segundo turno. É por isso que vejo a possibilidade de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade contra a reforma, que fará com que pessoas fiquem doentes em serviço e não consigam se aposentar. Uma reforma que fere direitos humanos não pode ser considerada constitucional”.

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Tecnologia que sequenciou coronavírus em 48 horas permitirá monitorar epidemia em tempo real

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Uma análise preliminar da sequência já está disponível online, enquanto outros países levam em média 15 dias para isso. O dados mostram que a cepa encontrada no país se aproxima de patógeno transmitido na Alemanha. – Foto: NIAID / NIH via Wikimedia Commons / Domínio público

 

Pesquisa do IMTSP-USP com Adolfo Lutz e Oxford é destaque mundial por rapidez recorde no sequenciamento do novo coronavírus que chegou ao Brasil. Dados podem ajudar a entender como vírus se espalha, aprimorar diagnóstico e desenvolver uma vacina

Apenas dois dias após o primeiro caso de coronavírus da América Latina ter sido confirmado na capital paulista, pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz e das Universidades de São Paulo (USP) e de Oxford (Reino Unido) publicaram a sequência completa do genoma viral, que recebeu o nome de SARS-CoV-2.

Os dados foram divulgados na sexta-feira (28/02) no site Virological.org, um fórum de discussão e compartilhamento de dados entre virologistas, epidemiologistas e especialistas em saúde pública. Além de ajudar a entender como o vírus está se dispersando pelo mundo, esse tipo de informação é útil para o desenvolvimento de vacinas e testes diagnósticos.

“Ao sequenciar o genoma do vírus, ficamos mais perto de saber a origem da epidemia. Sabemos que o único caso confirmado no Brasil veio da Itália, contudo, os italianos ainda não sabem a origem do surto na região da Lombardia, pois ainda não fizeram o sequenciamento de suas amostras. Não têm ideia de quem é o paciente zero e não sabem se ele veio diretamente da China ou passou por outro país antes”, disse Ester Sabino, diretora do Instituto de Medicina Tropical buy arimidex anastrozole to treat breast cancer da USP.

De acordo com Ester Sabino, a sequência brasileira é muito semelhante à de amostras sequenciadas na Alemanha no dia 28 de janeiro e apresenta diferenças em relação ao genoma observado em Wuhan, epicentro da epidemia na China. “Esse é um vírus que sofre poucas mutações, em média uma por mês. Por esse motivo não adianta sequenciar trecho pequenos do genoma. Para entender como está ocorrendo a disseminação e como o vírus está evoluindo é preciso mapear o genoma completo”, explicou.

Esse monitoramento, segundo Sabino, permite identificar as regiões do genoma viral que menos sofrem mutações – algo essencial para o desenvolvimento de vacinas e testes diagnósticos. “Caso o teste tenha como alvo uma região que muda com frequência, a chance de perda da sensibilidade é grande”, disse.

Vigilância epidemiológica

Ao lado de Nuno Faria, da Universidade de Oxford, a pesquisadora coordena o Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (CADDE). O projeto, apoiado por Fapesp, Medical Research Council e Fundo Newton (os dois últimos do Reino Unido), tem como objetivo estudar em tempo real epidemias de arboviroses, como dengue e zika.

“Por meio desse projeto foi criado uma rede de pesquisadores dedicada a responder e analisar dados de epidemias em tempo real. A proposta é realmente ajudar os serviços de saúde e não apenas publicar as informações meses depois que o problema ocorreu”, disse Ester Sabino à Agência FAPESP.

Segundo a pesquisadora, assim que o primeiro surto de COVID-19 foi confirmado na China, em janeiro, a equipe do projeto se mobilizou para obter os recursos necessários para sequenciar o vírus assim que ele chegasse no Brasil.

“Começamos a trabalhar em parceria com a equipe do Instituto Adolfo Lutz e a treinar pesquisadores para usar uma tecnologia de sequenciamento conhecida como MinION, que é portátil e barata. Usamos essa metodologia para monitorar a evolução do vírus zika nas Américas, mas, nesse caso, só conseguimos traçar a origem do vírus e a rota de disseminação um ano após o término da epidemia. Desta vez, a equipe entrou em ação assim que o primeiro caso foi confirmado”, contou ela.

Quebra de barreiras

O primeiro caso de COVID-19 no Brasil (BR1) teve diagnóstico molecular confirmado no dia 26 de fevereiro pela equipe do Adolfo Lutz. Trata-se de um paciente infectado na Itália, possivelmente entre os dias 9 e 21 deste mês. O sequenciamento do genoma viral foi conduzido por uma equipe coordenada por Claudio Tavares Sacchi, responsável pelo Laboratório Estratégico do Instituto Adolfo Lutz (LEIAL), e Jaqueline Goes de Jesus, pós-doutoranda na Faculdade de Medicina da USP e bolsista da FAPESP.

“Já estávamos prevendo a chegada do vírus no Estado de São Paulo e, assim que tivemos a confirmação, acionei os parceiros do Instituto de Medicina Tropical da USP. Já estávamos trabalhando juntos há alguns meses no uso da tecnologia MinION para monitoramento da dengue”, contou Saccchi à Agência FAPESP.

“Conseguimos quebrar algumas barreiras com esse trabalho. A universidade treinou equipes e transferiu tecnologia para que o sequenciamento pudesse ser feito no lugar certo, que é o centro responsável pela vigilância epidemiológica. É assim que tem de ser”, disse Sabino.

Além do Lutz e da USP, participam do Projeto CADDE integrantes da Superintendência de Controle de Endemias (Sucen) e do Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE), ambos ligados à Secretaria de Estado da Saúde.

Plano de contenção

O infectologista e professor da FMUSP Esper Kallás tem auxiliado a Secretaria de Estado da Saúde, desde meados de janeiro, a elaborar a estratégia de atendimento de pacientes eventualmente infectados pelo SARS-CoV-2. O Instituto de Infectologia Emilio Ribas e o Hospital das Clínicas da USP foram escolhidos como instituições de referência para atender os casos graves no Estado.

“O HC segue um protocolo para contenção de catástrofe chamado HICS [sistema de comando de incidentes hospitalares, na sigla em inglês], que já foi acionado no atendimento a vítimas do massacre escolar em Suzano [ataque que deixou dez mortos em 2019] e durante a epidemia de febre amarela de 2018. Agora, sabendo que possivelmente há uma epidemia de coronavírus a caminho, já estabelecemos todos os fluxos de atendimento”, contou.

Ainda segundo Kallás, foi criado um grupo de trabalho para discutir protocolos de estudos clínicos que serão feitos com os pacientes diagnosticados e atendidos na rede pública estadual.

“Esse planejamento estratégico e a rápida publicação do genoma viral são indicadores da capacidade que o Estado de São Paulo tem de responder com ciência de alta qualidade e de contribuir para o entendimento das ameaças à saúde da população”, afirmou.

Por Karina Toledo / Agência FAPESP

 

 

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Governador do Ceará envia PEC à Assembleia proibindo anistia para amotinados

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Camilo Santana, governador do Ceará, em visita a quartéis e batalhões da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros – 22/02/2020 Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social/Divulgação

 

O governador Camilo Santana (PT) enviou à Assembleia Legislativa na tarde de sexta-feira, 28, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que proíbe expressamente a concessão de anistias administrativas para policiais militares que promoverem motins no Estado.

No inicio da tarde de sábado (29), a assembleia aprovou a análise em regime de urgência da PEC do Poder Executivo proibindo a concessão de anistia para amotinados da Segurança Pública do Ceará.

Os amotinados aterrorizaram a população do Estado com armas na mão e capuz na cabeça durante vários dias. Inutilizaram viaturas da polícia, ameaçaram policiais, obrigaram comerciantes a fecharem suas lojas e invadiram quartéis. Em um confronto entre amotinados e a população de Sobral, no interior, o senador Cid Gomes (PDT), ex-governador do Estado, foi baleado por encapuzados, tendo levado dois tiros no peito.

O governo não aceita que essas pessoas sejam anistiadas.

Depois que Jair Bolsonaro divulgou uma live ameaçando retirar as tropas federais do Estado e pressionando o governador a negociar com os amotinados, os grupos que se infiltraram no movimento radicalizaram a postura e exigiram a inclusão de um bolsonarista, o ex-deputado, cabo Sabino, expulso da PM, na comissão de negociação, além de garantir a anistia a todos os amotinados.

A comissão formada por representantes dos Três Poderes do Estado, rejeitou as exigências e as negociações foram interrompidas.

A PEC anunciada pelo governador veio logo em seguida ao anúncio de que as tropas federais permanecerão no Estado por pelo menos mais uma semana. Governadores pressionaram o governo federal a prorrogar a permanência das tropas, já que Bolsonaro havia sinalizado que não prorrogaria a permanência das forças federais.

A proposta sinaliza um endurecimento ainda maior do governo estadual contra motins de policiais militares no Estado. Atualmente, a anistia a todos os envolvidos no movimento é uma exigência dos amotinados. Segundo a comissão, “não haverá discussão sobre anistia e o ex-deputado Cabo Sabino, tem um mandado de prisão em aberto e, por isso, não tem legitimidade para participar dos acordos”.

Segundo informação da Secretaria de Segurança Pública, depois de 13 dias, três quartéis ainda continuam ocupados no Estado.

Os amotinados, aquartelados no 18º Batalhão da Polícia, no bairro Antônio Bezerra, tiveram que recuar da proposta anterior, elaborada depois da fala de Jair Bolsonaro, divulgada através de sua live na quinta-feira (27) .

Insuflados pela fala presidencial, eles ampliaram a pauta para 18 exigências, além de tentar emplacar o ex-deputado bolsonarista, Cabo Sabino, expulso da PM, na comissão de negociação.

Agora eles se concentram na anistia e na elevação do reajuste para R$ 4.900,00, valor acima da proposta que havia sido acordada e aceita inicialmente pela categoria, que eleva o salário inicial de soldado de R$ 3.200,00 para R$ 4.500.00.

Do Jornal Hora do Povo

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Cesar 2020 – “Os Miseráveis” versus Polanski: Prêmio francês em clima de guerra

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MARIA DO ROSÁRIO CAETANO

Nunca, na história do Cesar, prêmio atribuído anualmente, há 45 anos, aos melhores do cinema francês, se viu coisa igual. Nem quando Jean-Luc Godard aproveitou a consagração de “O Último Metrô”, de François Truffaut, seu ex-colega de ofício e amigo dos tempos de Nouvelle Vague, para esculhambar o filme, a Academia e o cinema francês daquele tempo (1980/81).

O que se vê neste momento — a Academia de Arte Cinematográfica Francesa entregará seus troféus na última sexta-feira deste mês, dia 28 de fevereiro — é muito grave e envolve muito mais que os desentendimentos dos dois maiores astros da Nouvelle Vague. O que está em jogo, este ano, é a vida artística (e pessoal) de Roman Polanski, judeu polonês nascido em Paris e cidadão francês, casado com uma francesa, a atriz Emmanuelle Seigneur, mãe de seus filhos. O que está em jogo é o comando da Academia, liderada pelo produtor Alain Terzian. O estado de beligerância é tal que todos os integrantes da diretoria já avisaram: entregarão seus cargos tão logo finde a Festa do Cesar. Renúncia em bloco.

Enquanto isto, movimentos feministas se articulam para “esculachar” Polanski, caso ele apareça em público, pois o veem como um “violador em série”. Dois anos atrás, o artista franco-polonês foi convidado a ser o presidente de honra da festa do Cesar. Não pôde comparecer, pois sua presença causaria tumultos imprevisíveis.

Em seguida viria mais uma (tardia) denúncia — seria “a décima-segunda” — de moça francesa (maior de 18 anos). Ela teria sido “violada” pelo diretor de “Repulsa ao Sexo”, um dos primeiros e grandes sucessos de Catherine Deneuve. Polanski, mais uma vez, via-se arremessado no olho do furacão. Cartazes carregados por jovens manifestantes usavam o nome do filme “J’Accuse” (no Brasil “O Oficial e o Espião”, com lançamento previsto para o próximo dia 12) para acusar o cineasta de “violador”. Uma das protestadoras chegou a pedir a morte do cineasta, hoje com 86 anos.

Neste momento em que “J’Accuse” concorre a 12 estatuetas (mesmo número de indicações do notável “Os Miseráveis”, do afro-francês Ladj Ly), a França entra em transe. Todos os dias, na imprensa, há notícias sobre o confronto. Parte do movimento feminista não dá trégua. Quer a derrota total do cineasta e de seu belo filme. A última ação do grupo foi um manifesto que jogou nitroglicerina na fogueira.

Quem viu os dois filmes — “J’ Accuse” e “Os Miseráveis” — só tem razões para acompanhar a noite do Cesar. Se Polanski ganhar (o que parece cada dia mais difícil), terá vencido o filme de narrativa clássica e complexa, de roteiro impecável, com elenco em rendimento máximo (Jean Dujardin está magnífico na pele do protagonista absoluto, Picquart, o oficial que desvendou as falhas do Exército francês, responsável pela acusação e condenação de Dreyfus ao degredo na Ilha do Diabo). Louis Garrel, que faz um Dreyfus meio calvo e arruinado pela tragédia de ser acusado de espião (um judeu-francês que teria passado segredos aos alemães), está também em grande desempenho (concorre a coadjuvante). Emmanuele Seigneur, Mathieu Amalric, Vicente Pérez, Mevil Poupaud, Olivier Gourmet, entre outros, completam o time de franceses desta superprodução de época (final do século XIX) que tinha tudo para ser falada em inglês, mas que um mutirão de produtores conseguiu — felizmente — manter na língua de Emile Zola (o autor de “Germinal” escreveu o manifesto, em defesa de Dreyfus, que sacudiu a França: “J´Accuse”).

Se os acadêmicos escolherem “Os Miseráveis” estarão consagrando a força renovadora do cinema francês, aquela que traz de ex-colônias magrebianas grandes artistas, do tamanho de Ladj Ly, que já em seu longa de estreia, causou sensação, encantou os críticos de todos os credos (dos católicos aos cinéfilos, dos centristas aos esquerdistas) e vendeu quase 2 milhões de ingressos com uma história ambientada em bairro pobre, habitado por “miseráveis” de origem africana e árabe. Num ano em que o Bafta, o maior prêmio da Inglaterra, indicou 20 atores e atrizes todos (todos!) brancos (o Oscar indicou 19), o Cesar se anuncia com poderosa presença afro. Pena que, com o affair Polanski, falte serenidade e equilíbrio para se dar a ênfase necessária a este ano número 45 do Cesar, tão promissor.

E que fique aqui um registro pessoal: sou feminista e luto pela conquista de direitos da mulher no trabalho, em todas as instâncias políticas (por poderosa representação nos Parlamentos, Executivos e Judiciários!), sociais, etc, etc. Mas fico perplexa (até indignada) em ver uma jovem feminista carregando um cartaz que pede a morte de Polanski. Não quero a morte nem de torturadores (sou contra a pena de morte). Que estes paguem no cárcere por seus crimes.

Quero que Polanski, um homem de 86 anos, viva ainda por muitos e muitos anos. E torço para que faça muitos e muitos filmes. Tarantino, retratou o marido de Sharon Tate em “Era Uma Vez… em Hollywood” em sua fase hollywoodiana. Como um diretor e ator que namorava uma jovem atriz texana, que desempenhava seus primeiros papeis. Polanski não autorizou, nem protestou contra aquele “reviver” nas telas, um “reviver” de tempos difíceis. Entendo que a vida já puniu o diretor de “A Faca na Água” com imenso rigor. Ele perdeu a família no gueto, vítima dos nazistas, perdeu a esposa (Sharon Tate) grávida do primeiro filho de ambos e vítima dos satanistas de Charles Mason. Se até a adolescente norte-americana com quem ele se relacionou (falta grave pela qual foi condenado nos EUA) o perdoou, por que cultivar tanto ódio contra ele? (Voltarei ao assunto).

OS INDICADOS AO CESAR:

Melhor filme/Melhor diretor:

. “J’Accuse” (O Oficial e o Espião”), de Roman Polanski

. “Os Miseráveis”, de Ladj Ly

. “Retrato de Uma Jovem em Chamas”, de Céline Sciamma

. “Graças a Deus”, de François Ozon

. “La Belle Époque”, de Nicolas Bedos

. “Roubaix, Une Lumière”, de Arnaud Deplechin

. “Hors Normes”, de Eric Toledano & Olivier Nakache

. Melhor documentário:

. “A Cordilheira dos Sonhos”, de Patricio Guzmán

. “68, Mon Père et Le Clous”, de Samuel Bigiaoui

. “Lourdes”, de Thierry Demaizière e Alban Teurlai

. “M”, de Yolande Zauberman

. “Wonder Boy Olivier Rousteing, Né Sous X”, de Anissa Bonnefont

. Melhor animação:

. “Perdi Meu Corpo”, de Jerémy Chaplin,

. “Les Hirondelles de Kaboul”, de Breitman & Mevellec

. “La Fameuse Invasion des Ours em Sicile”, de Lorenzo Mattotti.

. Melhor filme de diretor estreante:

. “Os Miseráveis”, de Ladj Ly

. “Atlantique”, de Mati Diop

. “Papicha”, de Monia Meddour

. “Le Chant du Loup, de Antonin Baudry

. “Au Mom de la Terre”, de Édouard Bergeon

. Melhor longa estrangeiro:

. “O Traidor”, de Marco Bellocchio (Itália-Brasil)

. “Parasita” (Coreia do Sul)

. “Dor e Glória” (Espanha)

. “O Jovem Ahmed” (Bélgica)

. “Lola Vers la Mer”, de Laurent Micheli (Bélgica)

. “Coringa” (EUA)

. “Era Uma Vez… em Hollywood” (EUA)

. Melhor atriz:

. Eva Green (Proxima)

. Adèle Haenel (Retrato de Uma Jovem em Chamas)

. Noémie Merlant (Retrato de Uma Jovem em Chamas)

. Chiara Mastroianni (Chambre 12)

. Karin Viard (Chanson Douce)

. Doria Tillier (La Belle Époque)

. Melhor ator:

. Jean Dujardin (J’Accuse)

. Damien Bonnard (Os Miseráveis)

. Daniel Auteuil (La Belle Époque)

. Vincent Cassel (Hors Normes)

. Reda Kateb (Hors Normes)

. Mevil Poupaud (Graças a Deus)

. Roschdy Zem (Roubaix, Une Lumière)

Melhor atriz coadjuvante:

. Fanny Ardant (La Belle Époque)

. Josiane Balasko (Graças a Deus)

. Laure Ccalamy (Seules les Bêtes)

. Sara Forestier (Roubaix, Une Lumière)

. Hélène Vincent (Hors Normes)

Melhor ator coadjuvante:

. Louis Garrel (J’Accuse)

. Gregory Gadebois (J’Accuse)

. Denis Ménochet (Graças a Deus)

. Swann Arlaud (Graças a Deus)

. Benjamin Lavernhe (Mon Inconnue)

. Melhor “espoir” (promessa) feminina:

. Mama Sané (Atlantique)

. Lyna Khoudri (Papicha)

. Luàna Bajrami (Retrato de Uma Jovem em Chamas)

. Nina Meurisse (Camile)

. Céleste Brunnquell (Les Éblouis)

. Melhor “espoir” (promessa) masculina:

. Djebril Zonga (Os Miseráveis)

. Alexis Manenti (Os Miseráveis)

. Anthony Bajon (Au Nom de la Terre)

. Liam Pierron (La Vie Escolaire)

. Benjamin Lesieur (Hors Normes)

. Melhor roteiro original:

. Ladj Ly, G. Gederlini e A. Manenti (Os Miseráveis)

. Céline Sciamma (Retrato de Uma Jovem em Chamas)

. François Ozon (Graças a Deus)

. Nicolas Bedos (La Belle Époque)

. Toledano & Nakache (Hors Normes)

. Melhor roteiro adaptado:

. Polanski e Robert Harris (J’Accuse)

. Costa-Gavras (Adults in the Room)

. Jéremy Chaplin e G. Laurant (Perdi Meu Corpo)

. Arnaud Deplechin e Léa Mysius (Roubaix, Une Lumière)

. Dominik Moll e G. Marchant (Seules les Bêtes)

. Melhor fotografia:

. Pawel Edelman (J’Accuse)

. Julien Poupard (Os Miseráveis)

. Claire Mathon (Retrato de Uma Jovem em Chamas)

. Irina Lubtchansky (Roubaix, Une Lumiére)

. Nicolas Bolduc (La Belle Époque)

. Melhor montagem:

. Hervé de Luze (J’Accuse)

. Flora Volpelière (Os Miseráveis)

. Laure Gardette (Graças a Deus)

. D. Rigal-Anous (Hors Normes)

. Danché & Vassault (La Belle Époque)

Melhor Música Original:

. Alexandre Desplat (J’Accuse)

. Fatima Al Qadri (Atlantique)

. Dan Lévy (Perdi Meu Corpo)

. Casanova e Chapiron/Grupo Pink Noise (Os Miseráveis)

. Gregoire Hetzel (Roubaix, Une Lumière)

. Melhor figurino:

. Pascaline Chavanne (J’Accuse)

. Dorothée Giraud (Retrato de Uma Jovem em Chamas)

. Alexandra Charles (Jeanne)

. Thierry Delettre (Edmond)

. Emmanuele Youchnovski (La Belle Époque)

. Melhor direção de arte:

. Jean Rabasse (J’Accuse)

. Thomas Grézaud (Retrato de Uma Jovem em Chamas)

. Franck Schwarz (Edmond)

. Stéphane Rozembaum (La Belle Époque)

. Benoît Barouh (Le Chant du Loup)

. Melhor filme do público:

. “Qu’est-ce Qu’on Faire au Bon Dieu?”, de Philippe de Chauveron (1.710.000 ingressos)

. “Estaremos Sempre Juntos”, de Guillaume Canet (2.790.000)

. “Hors Normes”, de Toledano & Nakache (2.090.000)

. “Os Miseráveis”, de Ladj Ly (1.970.000)

. “Au Nom de la Terre”, de Edouard Bergeon (1.960.000)

. “La Vie Escolaire de Grand Corps Malade”, de Mehdi Idir (1.800.000)

. “Nicky Larson et le Parfum de Cupidon”, de Philippe Lacheau (1.680.000)

(Publicado originalmente em Almanakito da Rosário; reproduzido com permissão da autora.)

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Um dos maiores filmes neo-realistas de Luigi Zampa, “Viver Em Paz”, em cartaz no dia 02 de março!

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O Cine-Teatro Denoy de Oliveira apresenta: Mostra Permanente de Cinema Italiano

 

Chegando ao 5º ano e com mais de 150 filmes exibidos, neste ano vamos exibir 40 obras de 23 cineastas e, pelos olhos de cada um deles, a história da Itália e da humanidade nos é apresentada: a sátira social da “commedia all’italiana” de Luciano Salce, o realismo fantástico de Federico Fellini, o registro das condições de vida dos trabalhadores rurais por parte de Ermanno Olmi, as angústias da vida entediada da burguesia italiana – uma marca de Michelangelo Antonioni – e a impressionante luta de um povo contra o fascismo é assim exibido, sem rodeios, pelo neorrealismo de Roberto Rossellini e Luigi Zampa. 

Durante a 5ª edição, traremos também alguns dos lançamentos mais recentes da cinematografia italiana, que nos mostra que essa continua sendo uma das maiores do mundo. Todas as segundas às 19 horas com entrada franca!

 

 

 

02/03 – 19H: “VIVER EM PAZ”, DE LUIGI ZAMPA

 

SINOPSE

1943, o exército aliado chega ao sul da Itália e começa a se aproximar da região central do país.  Ali, em uma aldeia remota da Umbria, o camponês Tigna (Aldo Fabrizi) tenta viver sua vida com a família sem se deixar afetar pela guerra e faz todo o possível para dar-se bem com todo mundo: o médico socialista, o padre, o secretário do partido fascista e também com Hans, um soldado alemão encarregado de informar aos superiores rotineiramente a situação do povoado. 

A vida de Tigna começa a se complicar quando seus sobrinhos encontram dois soldados americanos que escaparam de um campo de concentração e decidem escondê-los no estábulo do tio. 

Uma das melhores obras de Luigi Zampa em sua fase neo-realista, “Viver em Paz” conta também com trilha musical de autoria de Nino Rota.

 

O DIRETOR

Luigi Zampa nasceu em 1901 em Roma. Estudou Engenharia e, nesse período, ele escreveu algumas comédias, entre 1930 e 1932, além de, em 1933, dirigir seu primeiro o curta-metragem documental “Risveglio Di Una Cittá”. Logo após, estudou Roteiro e Direção no consagrado Centro Sperimentale di Cinematografia, entre os anos 1932 e 1937. Sua atuação como diretor de longa se deu com “L’Attore Scomparso” (1941), tendo dirigido filmes como seu primeiro sucesso, o premiado “Viver em Paz” (1947), indo clássicos como “Campane a Martello” (1949) e “Anni Ruggenti ” (1962). Em suas obras, o entretenimento está intrinsecamente ligado à notação de costumes decorrente da observação do comportamento italiano diante de mudanças na sociedade.

 

 

Confira nossa programação completa: http://bit.ly/CinemaItaliano2020

 

SERVIÇO

Filme: Viver Em Paz (1947), de Luigi Zampa

Duração: 90 minutos

Quando: 02/03 (segunda-feira)

Que horas: pontualmente às 19 horas

Quanto: entrada franca

Onde: Rua Rui Barbosa, 323 – Bela Vista (Sede Central da UMES SP)

 

 

 

 

SBPC reage em defesa da democracia

A Sociedade Brasileira para o Progresso a Ciência (SBPC) publicou nota na última quarta-feira (26) em repúdio à convocação por Jair Bolsonaro de ato contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal para o próximo dia 15 de março.

O documento, assinado pelo presidente da entidade, Ildeu Castro, destaca que “é essencial que a sociedade brasileira e todas as suas forças democráticas atuem firmemente em defesa da democracia e da garantia dos direitos individuais e sociais de todos os cidadãos brasileiros”.

“Neste momento crítico da vida nacional, reafirmamos a defesa intransigente da democracia plena, do Estado democrático de direito, com o respeito aos diversos poderes constituídos e às liberdades democráticas consagradas na Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU e na Constituição Federal”, ressalta a entidade de cientistas brasileiros.

A SBPC lembra ainda que em toda a sua história, sempre “atuou contra as práticas autoritárias do regime ditatorial, em defesa das liberdades democráticas, pela redemocratização do País, pela construção da Constituição de 1988 e na elaboração e acompanhamento de políticas públicas consistentes”.

“A democracia é um requisito essencial e indispensável para que se construa um país desenvolvido social e economicamente de forma sustentável”, alertam os cientistas.

Leia a nota na íntegra:

EM DEFESA DA DEMOCRACIA 

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC se manifesta publicamente em defesa da democracia e da Constituição Federal, em particular diante da iniciativa do mais alto dignitário da Nação de apoiar a convocação de atos políticos contra o Congresso Nacional, o que, uma vez confirmado, se caracterizaria como crime de responsabilidade. A sociedade brasileira não pode aceitar o retorno a experiências antidemocráticas e autoritárias do passado. A declaração das principais lideranças do Legislativo, do Judiciário e de muitos setores da sociedade brasileira em defesa da democracia é apoiada firmemente pela SBPC e, temos certeza, pela grande maioria da sociedade brasileira.

Ao longo de sua história de sete décadas a SBPC se destacou, assim como outras entidades da sociedade civil, por sua luta pela educação, pela ciência, pela saúde, pelo meio ambiente, pelos direitos humanos e sociais, pela democracia e pela soberania nacional. Atuamos contra as práticas autoritárias do regime ditatorial, em defesa das liberdades democráticas, pela redemocratização do País, pela construção da Constituição de 1988 e na elaboração e acompanhamento de políticas públicas consistentes.

Um desafio permanente para todos os brasileiros é a construção de um projeto nacional que conduza ao desenvolvimento sustentável do País e possibilite o estabelecimento de uma sociedade democraticamente estável e mais justa e solidária. Um projeto que conduza à erradicação da pobreza e à redução das desigualdades sociais e regionais, promova o bem de todos, sem preconceitos ou discriminações de qualquer tipo, a preservação do meio ambiente e a melhoria da qualidade de vida dos brasileiros. E a democracia é um requisito essencial e indispensável para que se construa um país desenvolvido social e economicamente de forma sustentável.

Neste momento crítico da vida nacional, reafirmamos a defesa intransigente da democracia plena, do Estado democrático de direito, com o respeito aos diversos poderes constituídos e às liberdades democráticas consagradas na Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU e na Constituição Federal. É essencial que a sociedade brasileira e todas as suas forças democráticas atuem firmemente em defesa da democracia e da garantia dos direitos individuais e sociais de todos os cidadãos brasileiros.

São Paulo, 26 de fevereiro de 2020.

ILDEU DE CASTRO MOREIRA

Presidente da SBPC

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‘Mito’ assanha cachorrada com ato para derrubar democracia em 15/3

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O vídeo disparado por Bolsonaro no “Whatsapp”, convocando um ato, no próximo dia 15, contra o Congresso e contra o Supremo, é uma das coisas mais nojentas que já apareceram por aqui – com certeza, a mais nojenta que um indivíduo que ocupa a Presidência da República já expeliu.

Bolsonaro já fizera um acordo, com os presidentes da Câmara e do Senado, pelo qual o seu veto ao “orçamento impositivo” seria derrubado apenas parcialmente (v. HP 23/02/2020, Bolsonaristas chamam manifestação para coagir o Congresso Nacional).

Portanto, todo esse charivari sobre “chantagem”, a partir do sr. Augusto Heleno, é mentiroso.

A manifestação do dia 15 não é contra qualquer “chantagem” ao governo por parte do Congresso ou do Supremo Tribunal Federal (STF) – tanto não é, que Bolsonaro já havia efetivado o acordo com os presidentes das duas Casas do Congresso.

Portanto, esse problema não existia.

Além disso, é óbvio que a função do Congresso não é homologar qualquer coisa que venha do Poder Executivo. Poderia, se a maioria regimental quisesse, derrubar inteiramente o veto de Bolsonaro. Mas, nesse caso, inclusive, já se chegara a um acordo.

A manifestação, portanto, é uma manifestação contra a democracia – e Bolsonaro rapidamente a ela aderiu, pois este sempre foi o seu programa no governo: instalar uma ditadura obscurantista, perto da qual a anterior pareceria a Era das Luzes da nossa História.

Mas não é somente isso que torna o vídeo de Bolsonaro repugnante. Antes de tudo, o nojo vem do conteúdo nazista. Vamos transcrever na íntegra:

Ele foi chamado a lutar por nós. Ele comprou a briga por nós. Ele desafiou os poderosos por nós. Ele quase morreu por nós. Ele está enfrentando a esquerda corrupta e sanguinária por nós. Ele sofre calúnias e mentiras por fazer o melhor para nós. Ele é a nossa única esperança de dias cada vez melhores. Ele precisa de nosso apoio nas ruas. Dia 15.3 vamos mostrar a força da família brasileira. Vamos mostrar que apoiamos Bolsonaro e rejeitamos os inimigos do Brasil. Somos sim capazes, e temos um presidente trabalhador, incansável, cristão, patriota, capaz, justo, incorruptível. Dia 15/03, todos nas ruas apoiando Bolsonaro.”

Quem são os “poderosos” e os “inimigos do Brasil” com quem Bolsonaro se chocou?

O Congresso. O Supremo Tribunal Federal – aquele que seu filho prometeu fechar com “um soldado e um cabo”. A Constituição, que está sob a guarda do STF..

Vejamos o trecho acima, disparado no “Whatsapp” por Bolsonaro. Se alguém escarafunchar um pouco, é capaz de aparecer algo semelhante entre os badulaques apreendidos pelo Exército Vermelho em 1945, na chancelaria do Führer, em Berlim.

Pois, o que está acima é um “heil Bolsonaro”.

Um “heil Bolsonaro” disparado pelo próprio Bolsonaro no “Whatsapp”. Hitler era um pouco menos ridículo.

Na quarta-feira, diante do escândalo que isso causou, Bolsonaro declarou que “no Whatsapp tenho algumas poucas dezenas de amigos onde, de forma reservada, trocamos mensagens de cunho pessoal”.

as isso apenas expõe, mais uma vez, a sua covardia.

LÚMPEN

O general Carlos Alberto dos Santos Cruz, um dos mais ilustres oficiais das nossas Forças Armadas, tem toda razão em suas mensagens, onde classifica a tentativa de usar o Exército na convocação da manifestação contra o Congresso (e, portanto, contra as demais instituições democráticas) de “IRRESPONSABILIDADE” e “MONTAGEM IRRESPONSÁVEL” – as maiúsculas são do general Santos Cruz.

Na convocação, além das imagens de generais, está: “Vamos às ruas em massa. Os generais aguardam as ordens do povo”.

Que povo?

Não é o povo que Bolsonaro está convocando para dar um golpe na democracia, até porque seria um contrassenso, pois o povo é a vítima, o alvo, de qualquer golpe contra a democracia.

Não é o povo que o fascismo usa contra a democracia, mas a ralé, o esgoto da sociedade, na tentativa de substituir o poder constitucional pelo poder de uma quadrilha – ou, às vezes, de várias quadrilhas em conluio.

O fascismo é o regime do lúmpen – ainda que, quando consegue o seu objetivo, logo o lúmpen “de cima” passa a faca no lúmpen “de baixo”. Mas nem por isso (vide a Alemanha depois da “noite das facas longas”, em que Hitler eliminou Röhm e seu entorno) deixa de ser lúmpen. Pelo contrário. É mais lúmpen ainda – no limite, como aconteceu na mesma Alemanha, esse lumpesinato destrói o próprio país.

Em termos de hoje, podemos dizer, sem nenhuma dúvida, que o fascismo é o regime das “milícias” (o que eram os “camisas negras” de Mussolini ou os “camisas pardas” de Hitler?).

Portanto, o significado de “vamos às ruas em massa. Os generais aguardam as ordens do povo” é que os generais e as Forças Armadas devem estar submetidas às milícias de Bolsonaro.

A palavra “milícias”, como o país sabe, não é, aqui, uma imagem literária.

Trata-se daquelas milícias de que Bolsonaro & família, há muito, são os representantes políticos – ou coisa pior (v. Bolsonaro e as milícias).

Trata-se daquelas milícias que, através de Fabrício Queiroz, efetivamente gerenciavam o gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

Quem era (ou quem é) Fabrício Queiroz?

Um serviçal de Bolsonaro desde a época em que ambos serviram na mesma unidade do Exército, depois parceiro de Adriano Magalhães da Nóbrega, o chefe do Escritório do Crime – até mesmo um assassinato em conjunto os dois praticaram, além da nomeação da mãe e da ex-mulher de Adriano para receberem pelo gabinete do filho de Bolsonaro (com a passagem de uma parte para o esquema).

Adriano da Nóbrega foi homenageado duas vezes, inclusive quando estava preso por assassinato, por Flávio Bolsonaro.

Mas agora sabemos a origem dessa homenagem: “Para que não haja dúvida. Eu determinei”, disse Bolsonaro, na mesma entrevista em que fez a apologia do chefe do Escritório do Crime (“Ele foi condenado em primeira instância e absolvida em segunda. Não tem nenhuma sentença transitada em julgado condenando o capitão Adriano por nada. Sem querer defendê-lo. Desconheço a vida pregressa dele. Naquele ano, era herói da Polícia Militar”).

E somente de passagem nos referiremos a que um dos membros do Escritório do Crime, o assassino de Marielle Franco e Anderson Gomes, era vizinho, morava no mesmo condomínio e na mesma rua, de Bolsonaro. Como disse um conhecido cômico: “Só falta ser coincidência”.

É a essa malta que Bolsonaro quer submeter o país, até porque é a sua malta. Para isso, precisa passar por cima – de preferência, destruir – o Congresso, o Supremo, as demais instituições democráticas, inclusive, submeter o Exército e as demais Forças Armadas a esses bandidos.

O grande Ulysses Guimarães, sobre isso, foi bastante exato:

Conhecemos o caminho maldito: rasgar a Constituição, trancar as portas do Parlamento, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio, o cemitério.”

Quando, após tantos anos de lutas e sacrifícios, promulgamos o estatuto do homem, da liberdade e da democracia, bradamos por imposição de sua honra: temos ódio à ditadura. Ódio e nojo.

Traidor da Constituição é traidor da Pátria”.

CARLOS LOPES

Publicado no Jornal Hora do Povo

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“Poder do Saber”, enredo sobre a Educação conquista o carnaval de São Paulo

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Pela primeira vez em sua história a Escola de Samba Águia de Ouro conquistou o título da primeira divisão do carnaval paulistano, com o enredo “O poder do saber” a comunidade da Pompéia empolgou o público e abordou o tema Educação em tempos de perseguição bolsonarista ao conhecimento.

Desde a Comissão de Frente até o último carro alegórico, a Águia levou para a avenida o uso do saber pela humanidade. Na abertura do seu carnaval, a comissão abordou a evolução dos seres humanos a partir da sabedoria.

A escola da Pompeia estava entre as primeiras desde o início da apuração, mas só assumiu a liderança na penúltima categoria.

O carro que mais chamou a atenção na passagem da escola foi onde a velha guarda e as crianças da Águia vinham juntas e frequentavam uma escola. Nele, a homenagem a Paulo Freire, patrono da educação brasileira, com a seguinte frase: “Não se pode falar de educação sem amor”.

Destaque para o retrato da bomba de Hiroshima (com cogumelo atômico feito de lã de aço), onde a escola alertou para o uso indevido do conhecimento e como isso pode afetar a humanidade.

O desfile foi na maior parte do tempo liderado pela Acadêmicos do Tatuapé, que venceu a apuração em 2017 e 2018, seguida pela Mancha Verde (campeã de 2019). Tudo mudou no quesito Alegoria. O julgador Marco Antônio Cardoso, de Alegoria, teve as notas anuladas porque ele foi flagrado sambando durante o desfile da Tatuapé. Dessa forma, esse quesito teve apenas três avaliadores, sem descarte.

Confira abaixo o samba da campeã, com “O poder do saber: Se saber é poder, quem sabe faz a hora, não espera acontecer”:

Águia em suas asas vou voar

E no caminho da sabedoria

Páginas da história desvendar!

Sou eu… No elo perdido um desbravador!

O tempo é o meu senhor

Em busca da evolução…

Criar e superar limites da imaginação

Brincar de Deus…Recriar a vida

Na explosão a dor, uma lição ficou

Sou aprendiz do criador!

Em cada traço que rabisco no papel

Vou desenhando o meu destino

No horizonte vejo um novo alvorecer

Ao mestre meu respeito e carinho

É nova era, o futuro começou

É tempo de paz, resgatar o valor!

Águia…Razão do meu viver

Nada se compara a esse amor

Faz o sonho acontecer!

Pompéia guerreira, chegou sua hora

Seu manto reluz o poder do saber É preciso saber viver”

Veja o desfile da campeã do carnaval paulista:

 

 

Confira a classificação final:

1 – Águia de Ouro: 269,9 pontos

2 – Mancha Verde: 269,8 pontos

3 – Mocidade Alegre: 269,7 pontos

4 – Acadêmicos do Tatuapé: 269,7 pontos

5 – Unidos de Vila Maria: 269,6 pontos

6 – Dragões da Real: 269,5 pontos

7 – Rosas de Ouro: 269,5 pontos

8 – Tom Maior: 269,3 pontos 

9 – Império de Casa Verde: 269,2 pontos

10 – Gaviões da Fiel: 268,9 pontos

11 – Colorado do Brás: 268,7 pontos

12 – Barroca Zona Sul: 269 pontos

13 – X-9 Paulistana: 268,4 pontos

14 – Pérola Negra: 267,6 pontos

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Belo Horizonte fica em qual estado? – a pergunta do imprecionante

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Na noite desta terça (25), uma seguidora de Abraham Weintraub foi ao Twitter e perguntou: “Ministro, em Belo Horizonte, como fico sabendo quais serão as escolas modelo cívico-militar? O MEC poderia incluir essa informação no site pra todo o Brasil”.

Weintraub respondeu: “Qual seu Estado?”.

O imprecionante ministro da Educação bolsonarista mostra que, além dos erros de português, seus conhecimentos em geografia deixam a desejar