Fotos: César Ogata
Mais de três mil estudantes de mais de 100 escolas da cidade de São Paulo marcharam da Avenida Paulista ao Largo São Francisco e se somaram ao ato em defesa da democracia da Faculdade de Direito da USP
Nesta quinta-feira, 11 de agosto, mais de 3 mil estudantes percorreram a Avenida Paulista, em um novo ato contra o governo Bolsonaro e em defesa da educação e da democracia. O dia 11 de agosto é a data que se celebra o Dia do Estudante e, historicamente um marco de defesa das liberdades democráticas brasileiras.
O Dia do Estudante foi convocado pela União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES-SP) e contou com a participação de milhares de jovens de toda a capital paulista que denunciaram as ameaças à democracia realizadas pelo governo Bolsonaro e repudiar os ataques à Educação e os casos de corrupção envolvendo os prepostos bolsonaristas no Ministério da Educação (MEC). Também se somaram ao ato representantes da União Brasileira dos Estudantes Secuntaristas (UBES), União Paulista dos Estudantes Secundaristas (UPES), União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE-SP) e União Nacional dos Estudantes (UNE).
“Hoje os estudantes tomaram as ruas em defesa da educação e da democracia. A gente veio mostrar que o Brasil pertence aos brasileiros, que o Brasil não cabe nas mãos desse fascista que está na Presidência da República. Saímos do Masp com milhares de estudantes até o Largo de São Francisco para somar a leitura da carta em defesa da democracia, com milhares de brasileiras e brasileiros, para mostrar que não vai ter golpe, para mostrar que terá resistência e que a democracia permanecerá no nosso país”, disse Lucca Gidra, presidente da UMES.
De acordo com o manifesto de convocação do ato dos estudantes, apenas dois meses antes das eleições, Bolsonaro mostra o espírito de jogo sujo com que tem tratado a disputa. “Bolsonaro quer ficar no poder de qualquer jeito para continuar sua política de fome e violência. Tenta tumultuar o processo eleitoral para, caso não ganhe, consiga levar pela força e pela mentira. Bolsonaro orquestra um grande golpe contra a nossa democracia acusando o sistema eleitoral de fraudulento sem prova alguma, promovendo diariamente a violência política, incentivando o armamento de seus apoiadores e constantemente tentando jogar as Forças Armadas contra a democracia”, denunciam os estudantes.
A entidade denuncia ainda que o governo Bolsonaro “está mergulhado em corrupção” enquanto o “país atinge níveis recordes de desemprego e fome”. “A inflação fez com que o preço da gasolina, do gás de cozinha, dos alimentos chegassem às alturas, consumindo a renda dos trabalhadores”.
“O Brasil precisa que a gente consiga se mobilizar e trazer o povo pra rua. Bolsonaro já está há quatro anos no poder e se nós contássemos cada mentira, cada corte, cada descaso dele com a pandemia, com as mortes de quase 700 mil pessoas vítimas da Covid-19, vítimas do desemprego, da fome, os números são gigantescos. Os estudantes estão na rua hoje, não só para garantir que Bolsonaro não vai ficar no poder, e também garantir que haja um Brasil amanhã, que haja um Brasil com real desenvolvimento, que haja um Brasil com empregos, um Brasil que seja pensado pelo povo brasileiro, então a gente precisa ser gigante. Há 30 anos a UMES puxa uma manifestação no 11 de Agosto e hoje não será diferente, é Fora Bolsonaro, em defesa da democracia e da educação”, disse Tayne Paranhos, vice-presidente da UMES.
Da mesma forma, a presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), Jade Beatriz, afirmou que é preciso defender uma educação pública, gratuita e de qualidade, além da soberania nacional e da democracia.
“Estudantes de norte a sul do país ocupam as ruas para dizer quais são os nossos objetivos que é a defesa da educação pública, gratuita e de qualidade, uma escola sem assédio, sem racismo, sem LGBTfobia, com estrutura, com um modelo de ensino que nos caiba, mas sobretudo, defender a soberania nacional e a democracia através da escola pública, além da defesa das eleições limpas”, disse.
Guilherme Lucas, secretário geral da UBES afirmou que “o dia do estudante é um dia fundamental para que a gente mostre a sociedade que o Brasil também é nosso, pois ao longo dos períodos nós vemos que os estudantes eles estão desmotivados com a política por acharem que o Brasil não é de fato nosso, mas o 11 de Agosto com os estudantes na rua, a gente consegue hoje mostrar que podemos sim construir um projeto de nação, defender a educação e principalmente defender a democracia e derrotar o Bolsonaro”, disse.
Quando indagado sobre a importância da frente em defesa da democracia que está se formando, Guilherme respondeu que: “hoje é fundamental porque nós vemos o quanto o governo Bolsonaro está se esquematizando para dar um golpe. E a partir disso, após aquela reunião que ele fez com os embaixadores, houve uma resposta dos mais amplos setores da democracia e é preciso se juntar hoje ao Brasil, nem que seja aquela mínima contradição ao Bolsonaro, nós precisamos nos juntar na frente ampla. Seja PSDB, seja PMDB, seja aqueles que em outros momentos estavam em um lado oposto ao nosso, precisamos aglutinar todo mundo, porque quanto mais força a gente tiver, mais certo é a derrota que o governo Bolsonaro vai ter”, concluiu.
ESTÃO NA RUA OS QUE DEFENDEM A DEMOCRACIA
No dia, também foi realizada a leitura da carta em defesa da democracia, na Universidade de São Paulo, no Largo de São Francisco, onde fica a Faculdade de Direito da USP. Os estudantes marcharam da Avenida Paulista para o Largo São Francisco para acompanhar a leitura da carta e se somarem à frente ampla em defesa da democracia que ali se formou.
“Historicamente a gente constrói o 11 de agosto como o Dia do Estudante. Foi assim durante muito tempo e muitas batalhas conseguiram ser travadas nas ruas. Agora temos uma batalha principal que é a defesa da democracia. E hoje, não são só os estudantes que estão na rua, também estão na rua, todos os que defendem a democracia. Por isso que a gente consegue fazer frente tão ampla para discutir a importância de mantermos o nosso status quo atual, inclusive a nossa democracia. Por isso, daqui os estudantes vão em marcha na defesa das eleições limpas e da democracia no Brasil”, disse Marcos Kauê, diretor de universidades públicas da União Nacional dos Estudantes (UNE).
Além dos estudantes, participaram também congressistas, o movimento social, sindical, entre outros. Para Bira, vice-presidente da Confederação de Trabalhadores do Brasil, é preciso aumentar a frente ampla para a derrocada de Bolsonaro.
Presente no ato do Largo São Francisco, a presidente da União Nacional dos Estudantes, Bruna Brelaz, relembrou que o 11 de agosto é também a data em que celebra o aniversário da UNE e disse que não pode mais haver espaço para autoritarismo no Brasil.
“Em um país como o Brasil não pode haver mais espaço para autoritarismo. Reitero nosso compromisso em lutar pelo Estado Democrático de Direito que atravesse desafio de superar desigualdades sociais e econômicas”, disse Bruna, no Salão Nobre da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), onde representantes da sociedade civil e empresários estão presentes para leitura das cartas pela democracia.
Ela lembrou que a UNE mobilizou milhares pela redemocratização do País e lutou contra a ditadura militar. “Não aceitamos tentativas de golpismo que flertam com o esgoto mais sombrio da nossa história. Acreditamos na força do nosso povo e na educação como motor chave da sociedade”, disse, defendendo também uma sociedade livre de racismo, machismo e desigualdade.
“Nós estamos aqui esquentando os motores na na Avenida Paulista numa concentração dos estudantes a convite do presidente Lucca, que está se preparando aqui para se encontrar com o Brasil no Largo de São Francisco em defesa do nosso sistema eleitoral, em defesa da democracia e unir ainda mais essa frente, ampliar ainda mais essa frente, para que a gente possa isolar e derrotar esse genocida do Bolsonaro e assim abrir caminho para um Brasil livre, democrático e soberano, junto com os estudantes, trabalhadores, intelectuais, democratas de todo Brasil. Fora Bolsonaro”, concluiu Bira.
A deputada estadual Marina Helou (Rede-SP) participou do ato e se somou à luta dos estudantes. “Hoje é um dia que as lutas se encontram, é o dia do estudante junto ao dia da democracia, é o dia que a gente constrói nosso presente e nosso futuro e é uma honra estar aqui com os estudantes secundaristas que se responsabilizam pelo presente e pelo futuro pra gente somar nesta luta”, disse.
Ela também falou sobre seu projeto de lei na Assembleia Legislativa de São Paulo (ALESP) sobre a questão do assédio nas escolas.
“Infelizmente, o assédio ainda é um problema gravíssimo no nosso sistema de ensino, são diários os casos de assédio e é muito ruim esse nosso sistema, ainda tem gente que passa pano pra assediador, para professor assediador e as alunas não têm respostas, por isso nós somos autoras de um projeto de lei construído com as alunas, que estudaram juntas e protocolaram projetos de lei que coloca uma lei contra o assédio nas escolas de São Paulo. Nós temos trabalhado com as ETECs, com o Centro Paula Souza, com a rede pública de ensino, para garantir que nenhuma aluna seja assediada nas escolas”, disse a deputada.
Keila Pereira, liderança do movimento cultural e da zona sul da cidade de São Paulo, considerou que a mobilização do 11 de agosto é “marcante e necessária”.
“A campanha eleitoral certamente vai começar com grande força na defesa do Estado democrático, como deve ser. Retrocedemos, nós não falamos em desenvolver o Brasil, mas essencialmente em salvar o país da miséria, da carestia, da violência, do golpismo, do negacionismo. É aí que mora a urgência de tirar Bolsonaro do poder e nós vamos conseguir. Viva o dia do estudante!”, declarou Keila, que é candidata a deputada estadual pelo PCdoB.
FRENTE AMPLA
A diretora de cultura da UMES, Evelyn Heloise, afirmou que esse dia é histórico e que os estudantes vão lutar pela democracia e não vão deixar Bolsonaro dar um golpe no país.
“É um dia muito importante pro Brasil como um todo, não somente para os estudantes. O dia dos estudantes é dia travado de lutas, que culmina na leitura da carta pela democracia. Em um ano em que o governo Bolsonaro ataca as urnas, ataca as eleições e acima de tudo, ataca o Brasil, a gente ter um povo na rua com uma grande frente ampla é importante para mostrar pro governo Bolsonaro que não estamos dormindo, é importante para mostrar que Bolsonaro não vai acabar com o Brasil. Bolsonaro acha que esse ano vai conseguir dar um golpe no Brasil, mal sabe ele que hoje vai ser um dia histórico. Todo mundo se une em uma única luta que é em defesa do povo do Brasil e da educação, com uma grande frente ampla para barrar o governo Bolsonaro”, disse em seu discurso.