a noite do massacre

Assista ao filme “A Noite do Massacre“, de Florestano Vancini, na Mostra Permanente de Cinema Italiano

a noite do massacre

 

 

A Mostra Permanente de Cinema Italiano do Cine-Teatro Denoy de Oliveira apresenta:

 

 

06/05 – 19H: “A NOITE DO MASSACRE” (1960), DE FLORESTANO VANCINI

 

 

SINOPSE

Durante a guerra civil italiana, Anna, a jovem esposa de Pino, um químico de cadeira de rodas, começa um caso com Franco, um desertor do exército. Sciagura, um fanático líder fascista local, encena uma tentativa de assassinato de se livrar de seus oponentes no Partido Fascista e culpa-o em alguns partidários da resistência. Entre eles está o pai de Franco. Sciagura ordena que os suspeitos do costume sejam baleados na noite contra a parede do Castelo de Estense. Pino pode ver tudo da janela, mas não diz uma palavra.

 

O DIRETOR

Após alguns curtas e colaboração com os diretores Mario Soldati (1906-99) e Valerio Zurlini (1926-82), Vancini realizou em 1960 seu primeiro longa-metragem, “La Lunga Notte del ‘43”, que revive o massacre de 11 resistentes pelas brigadas fascistas da República de Salò. Com roteiro de Pier Paolo Pasolini (1922-1975), adaptado da coletânea “Cinco Histórias de Ferrara”, de Giorgio Bassani, o filme recebeu indicação para o Prêmio Primeira Obra e o Leão de Ouro, no 21º. Festival de Veneza. Vancini dirigiu 15 longas, entre os quais, “La Calda Vita” (1963); “Le Stagioni del Nostro Amore” (1965), que obteve o Prêmio da Crítica no Festival de Berlim; “Dio E’ Com Noi” (1970); “Bronte” (1972); “Il Delitto Matteotti” (1973); “Amore Amaro” (1974); “Un Dramma Borghese” (1983). Nos anos 1980, realizou séries para televisão: “La Neve nel Bicchiere” (1984) – história de três gerações de camponeses da planície ferrarense, sua terra natal – e “Lettera dal Salvador” (1987), telefilme político sobre médico francês em El Salvador no período da guerra civil, para a série francesa “Médecins des Hommes”.

 

 

Confira nossa programação completa!

 

 

SERVIÇO

Filme: A Noite do Massacre (1960), de Florestano Vancini

Duração: 105 minutos

Quando: 06/05 (segunda-feira)

Que horas: pontualmente às 19 horas.

Quanto: entrada franca

Onde: Rua Rui Barbosa, 323 – Bela Vista (Sede Central da UMES SP)

 

 

 

germinal

Cinema Com Partido apresenta “Germinal“, de Claude Berri

germinal

 

 

O Cine-Teatro Denoy de Oliveira apresenta: CINEMA COM PARTIDO – MOSTRA DEMOCRÁTICA

 

Trabalhadores sem direitos; colonialismo; imperialismo; racismo; discriminação das mulheres; extermínio das populações indígenas; degradação do meio-ambiente; ciência e escola sob censura de pretensos intérpretes das Escrituras; aversão à democracia e seu fundamento, o livre debate entre partidos políticos; exaltação das ditaduras, do pensamento único , da violência, da intolerância, da corrupção, da hipocrisia (qualquer semelhança com o governo da família Bolsonaro será mera coincidência?) são temas que o cinema universal tem denunciado com vigor ao longo do tempo.

Para a extrema-direita, isto é doutrinação.

Para as correntes de opinião comprometidas com a democracia é cultura e arte.

 

 

 

04/05 – 10H: “GERMINAL” (1993), DE CLAUDE BERRI

 

 

SINOPSE

Adaptado do romance de Emile Zola, “Germinal” narra a greve dos mineiros de Voreux contra as degradantes condições de trabalho existentes na Europa nos idos de 1870, época em que o confronto entre as concepções marxistas e anarquistas polarizava a Associação Internacional dos Trabalhadores (1ª Internacional).

 

 

 

Confira nossa programação completa!

 

 

 

SERVIÇO

Filme: Germinal (1993), de Claude Berri

Duração: 170 minutos

Quando: 04/05 (sábado)

Que horas: pontualmente às 10 horas da manhã.

Quanto: entrada franca

Onde: Rua Rui Barbosa, 323 – Bela Vista (Sede Central da UMES SP)

 

 

 

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O dia em que conheci a madrinha Beth Carvalho

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Publicamos abaixo um relato emocionado e emocionante de um ex-diretor da UMES, Milton Batista, de quando conheceu a Madrinha do samba, Beth Carvalho.

 

A oportunidade se deu na realização de um projeto cultural da UMES chamado Cantarena, realizado entre os anos de 1995 e 2001. Seu nome vem da época em que o Cine-Teatro Denoy de Oliveira chamava-se ainda Teatro da UMES e tinha a forma de arena. Por ele passaram mais de 150 compositores e 600 músicos acompanhantes.

 

Obrigado Milton por ter nos recordado tantos detalhes!

 

Cantarena1

 

“O ano era 1995, estávamos no show do poeta sambista Luiz Carlos da Vila que acontecia no projeto cultural estudantil, UMES Cantarena, o show estava maravilhoso e nós estudantes nem imaginávamos que ainda poderia melhorar.

 

Sem alarde e com a maior naturalidade do mundo, a madrinha apareceu para dar uma palhinha para mais um de seus afilhados. O teatro quase veio a baixo de tanta emoção, foi lindo, espontâneo  e inesquecível.

 

Com o show finalizado convidamos a madrinha para conhecer a entidade, ela, gentil como sempre, nos acompanhou.

 

Fomos para a sala de reunião e lá ficamos, todos jovens estudantes, ouvindo a rainha do samba.

 

Em um determinado momento eu saí para buscar uma água, e quando abri a porta da sala de reunião lá estava o “Toninho” motorista da entidade com um balde de lixo embaixo do braço, e me disse:

 

– Miltinho vou cantar a música do pinto pra dona Beth.

 

Respondi: – Você ‘tá’ maluco?! Se liga, rindo.

 

E sai para buscar a água. Quando retornei, o Toninho estava esperando e repetiu os seus planos. Respondi que nem pensar, nem a pau, ele iria entrar.

 

Mas, assim que abri a porta, o Toninho invadiu a sala, com o balde de lixo e tudo e já foi logo dizendo:

 

– Boa noite Dona Beth!

 

Ela respondeu:

 

– Boa noite!

 

Aí todos nós da sala, incluindo a madrinha, percebemos que o Toninho estava completamente bêbado!

 

Logo em seguida, quase me causando um infarto, o Toninho diz:

 

– Dona Beth posso lhe fazer uma pergunta?

 

Ela respondeu: – claro.

 

Eu gelei. Só pensava na música do pinto, pois não era lá muito adequada, principalmente para cantar na presença da madrinha, mas o Toninho me surpreendeu e perguntou:

 

– Dona Beth, a música “malandro” é da senhora?

 

Ela de pronto respondeu:

 

– Não, essa música é do poeta Jorge Aragão, uma música linda!

 

Logo em seguida ela emendou:

 

– E esta timba em baixo do seu braço? Você é do samba ou e só história? Dá pra levar?

 

O Toninho atônito como um fiel súdito na presença de sua rainha respondeu:

 

– Sim Dona Beth!

 

Logo em seguida ela começou:

 

“Malandro, eu ando querendo falar com você, você tá sabendo que o Zeca morreu, por causa de brigas que teve com a lei?…”

 

Nós todos da sala, acompanhamos em um maravilhoso coral, seguido ao fundo com o som da timba improvisada no balde de lixo.

 

Ao fim da música o Toninho se ajoelha chorando e beija a mão da Madrinha, neste momento todos choravam!

 

Durante mais de duas décadas narrei esta história, todas às vezes eu me emociono e os olhos enchem de lágrimas.

 

Ontem, quando soube da morte da madrinha eu não chorei, pois meu coração sabe que ela estará sempre viva e eternizada nas histórias, rodas de samba, nas lutas de classe e nos corações apaixonados!

 

O céu está em festa e meu coração se orgulha de ter conhecido pessoalmente esta rainha, que desceu do trono para cantar com um grupo de estudantes acompanhados por um balde de lixo!

 

 

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Beth Carvalho, a madrinha do samba estará sempre em nossa memória e nossos corações!

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Beth Carvalho, a madrinha do samba estará sempre em nossa memória e nossos corações!
 
A Madrinha do Samba partiu no dia de hoje, mas deixou como legado a luta do povo e a construção da cultura popular brasileira por meio de sua imensa obra em tamanho e importância. 
 
Deixamos nossa mensagem de homenagem, lembrando a alegria de poder recebê-la em nosso Cine-Teatro.
 
Descanse em paz, Madrinha do Samba.
 
 
 
BOLSONARO-27

Bolsonaro e as milícias

BOLSONARO-27Bolsonaro: Milícias “oferecem segurança e conseguem manter a ordem e a disciplina nas comunidades” (foto: AP)

Em 12 de agosto de 2003, o então deputado Jair Bolsonaro foi ao microfone do plenário da Câmara dos Deputados e discursou, dando os parabéns a grupos de extermínio que operavam na Bahia, afetuosamente chamados por ele de companheiros.

Quero dizer aos companheiros da Bahia — há pouco ouvi um parlamentar criticar os grupos de extermínio — que enquanto o país não tiver coragem de adotar a pena de morte, o crime de extermínio, no meu entender, será muito bem-vindo. Se não houver espaço para ele na Bahia, pode ir para o Rio de Janeiro. Se depender de mim, terão todo o meu apoio… Na Bahia, pelas informações que tenho — lógico que são grupos ilegais —, a marginalidade tem decrescido. Meus parabéns”!

A transcrição é, rigorosamente, literal. Bolsonaro não “se atrapalhou” no que disse. Não cabe aqui o tipo de explicação costumeira dos generais Mourão e Heleno para dissolver os impactos negativos da incontinência verbal do capitão – ele não só falou o que está escrito, reafirmou tudo em vídeos e entrevistas que estão disponíveis na internet a quem tiver o interesse de acessar.

Na época, esses grupos, que eram embriões de milícias, cobravam de R$ 50,00 a R$ 100,00 de comerciantes locais por marginal morto. E a família Bolsonaro estava empenhada em organizar uma forte rede de apoio entre os “companheiros” milicianos, especialmente no Rio de Janeiro.

Flávio-B-768x461Flávio Bolsonaro (foto: Adriano Machado/Reuters)

Alguns anos depois, valendo-se da impunidade que blindou sua ação criminosa, as milícias ganharam terreno. Em 2007, o deputado estadual Flávio Bolsonaro, em discurso na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) afirmava:

A milícia nada mais é do que um conjunto de policiais, militares ou não, regidos por uma certa hierarquia e disciplina, buscando, sem dúvida, expurgar do seio da comunidade o que há de pior: os criminosos… Eu não me importaria em pagar R$ 30,00 ou R$ 40,00 para ter mais segurança, para não ver meus filhos aliciados por traficantes… Façam consultas populares na comunidade do Rio das Pedras, na própria favela do Batan”.

Hoje o senador, eleito em 2018, diz em sua defesa que tais declarações não representavam endosso ou apoio a ação das milícias. Ele acha que pode escamotear sua responsabilidade na expansão dessas organizações criminosas com a surrada alegação de que “foram declarações retiradas do contexto”. Mas, em 2008, Papai Bolsonaro usava e abusava do plenário da Câmara Federal para defender a atuação desses grupos criminosos:

Existe miliciano que não tem nada a ver com ‘gatonet’ e venda de gás. Como ele ganha R$ 850,00 por mês, que é quanto ganha um soldado da PM ou do bombeiro, e tem a sua própria arma, ele organiza a segurança na sua comunidade… Eles oferecem segurança e, desta forma, conseguem manter a ordem e a disciplina nas comunidades. É o que se chama de milícia. O governo deveria apoiá-las, já que não consegue combater os traficantes de drogas”.

No Rio de Janeiro, milícias, como a “Liga da Justiça”, do então vereador Jerominho (Jerônimo Guimarães Filho), tinham dominado territórios e diversificado as atividades.

A CPI da Alerj apurou, naquele ano (2008), que a milícia do Rio das Pedras monopolizava, sob ameaças à população, serviços como segurança de moradores (entre R$ 10,00 e R$ 50,00 mensais); taxa para funcionamento do comércio (R$ 50,00 e R$ 200,00 por estabelecimento); pedágio para entregadores de mercadorias no bairro (R$ 20,00); taxa para barracas (R$ 30,00); venda de gás (R$ 39,00); sinal de TV a cabo irregular, mais conhecido como “gatonet” (R$ 18,00); além do transporte alternativo (R$ 270,00 a R$ 325,00 por semana).

Não parou aí. Dez anos mais tarde, os procuradores do Ministério Público incluíam entre as atividades exploradas pela milícia os seguintes itens:

Grilagem de terrenos, construção, venda e locação ilegais de imóveis, receptação de carga roubada, ocultação de bens adquiridos com os proventos das atividades ilícitas, falsificação de documentos públicos, pagamento de propina a agentes públicos, agiotagem, utilização de ligações clandestinas de água e energia para o abastecimento dos empreendimentos imobiliários ilegalmente construídos, e, sobre tudo, prática de homicídio”.

Mas, para que a família Bolsonaro não venha dizer que sua apologia das milícias não passou de “xixi na cama”, passemos aos atos derivados dessas ideias que eles veicularam fartamente em discursos e entrevistas.

Em setembro de 2007, Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, mulher do ex-capitão da PM Adriano Magalhães da Nóbrega, foi nomeada assessora do gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, onde ficou empregada por 11 anos, até 13 de novembro de 2018. A mãe do ex-capitão, Raimunda Veras Magalhães, também se tornaria assessora do deputado, permanecendo no cargo, como a nora, até o final do mandato.

ADRIANO-1Adriano da Nóbrega, um dos chefes do Escritório do Crime (foto: Polícia Civil/RJ)

Seis meses antes da nomeação de Danielle, Fabrício Queiroz, “amigo de churrasco e futebol” de Jair Bolsonaro, chegara ao gabinete para ser motorista, segurança e “faz- tudo” de Flavio Bolsonaro.

Segundo Queiroz, denunciado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras do Ministério da Fazenda (Coaf) pela movimentação “atípica” de R$ 7 milhões em sua conta bancária entre janeiro de 2014 e janeiro de 2017, tanto a contratação de Danielle, quanto a de Raimunda, se deram por iniciativa dele.

A nota assinada pelo advogado Paulo Márcio Ennes Klein, que trabalha na sua defesa, formaliza essa versão:

Queiroz é ex-policial militar e conheceu o sr. Adriano na época em que ambos trabalhavam no 18º Batalhão da Polícia Militar e, após a nomeação dele como assessor do ex-deputado estadual, solicitou ao gabinete moção para o sr. Adriano, bem como a nomeação dele para trabalhar no referido gabinete… Ademais, vale frisar que o sr. Fabrício solicitou a nomeação da esposa e mãe do sr. Adriano para exercerem atividade de assessoria no gabinete em que trabalhava, uma vez que se solidarizou com a família que passava por grande dificuldade pois à época ele estava injustamente preso...”

De fato, Queiroz serviu com Adriano no 18º Batalhão da Polícia Militar, situado na região de Jacarepaguá. Morador da Taquara, bairro localizado naquela região, a um passo da comunidade do Rio das Pedras, não tinha como ignorar a expansão e o poder crescente da milícia que dominava a área. Seus familiares, inclusive, chegaram a ter autorização fornecida pela milícia, e não pelo poder público, para explorar serviço de transporte “alternativo” – isto é, irregular – de vans na comunidade.

QUEIROZ-1-768x530Queiroz, o amigo de Bolsonaro que era “faz-tudo” no gabinete de seu filho, Flávio

Entusiasta, conforme suas próprias palavras, dos “rolos” para “fazer dinheiro”, e habituado com a violência, pois tem na conta dez autos de resistência (mortes em decorrência da atividade policial), Queiroz acompanhou a sucessão de sangrentos assassinatos que regiam as mudanças de chefia na milícia do Rio das Pedras. Otacílio Biondi (1989), depois Elita Biondi (1995), inspetor de polícia Félix Tostes (2007), vereador Nadinho do Rio das Pedras (2009), até que, num passe de mágica, o comando daquela força caiu no colo do “injustiçado” companheiro do 18º Batalhão da Polícia Militar, que, hoje, foragido da Justiça e caçado pela Interpol, é também apontado como fundador do sinistro Escritório do Crime.

Sob comando de Adriano Magalhães da Nóbrega, ex-capitão, com passagem pelo BOPE, expulso da PM em dezembro de 2013, depois de preso em 2006, 2008 e 2011, por suspeita de assassinato, a milícia do Rio das Pedras tornou-se a maior, mais atrevida e mais perigosa do Rio de Janeiro. Enquanto isso, a esposa e a mãe do “injustiçado” operavam no gabinete do deputado Flávio Bolsonaro, com salário pago pela Alerj, ao lado de Queiroz, que movimentava em sua conta bancária milhões cuja procedência e destino ele não consegue explicar.

Diante de fatos tão eloquentes, Flávio Bolsonaro abandonou a tese da “mera coincidência” e tratou de tirar o corpo fora, dizendo que não sabia de Adriano nem tomava conhecimento de quem trabalhava em seu gabinete. Segundo ele, era Queiroz que contratava e administrava o pessoal, com plena autonomia.

Em nota, Bolsonaro afirma:

A funcionária que aparece no relatório do Coaf foi contratada por indicação do ex-assessor Fabrício Queiroz, que era quem supervisionava seu trabalho. Não posso ser responsabilizado por atos que desconheço… Quanto ao parentesco constatado da funcionária, que é mãe de um foragido, já condenado pela Justiça, reafirmo que é mais uma ilação irresponsável daqueles que pretendem me difamar.

Ao confirmar a narrativa do chefe e chamar para si a responsabilidade sobre as ligações temerárias, Queiroz talvez não tenha reparado que invalidou o álibi que pretendia reforçar. Seu ingresso no gabinete do deputado ocorreu em 1° de abril de 2007, dois anos depois que Bolsonaro premiou Adriano com a mais alta condecoração da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, a medalha Tiradentes – a mesma que ele concedeu, em 2011, ao autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, uma espécie de Rasputin da corte bolsonarista. A homenagem ao tenente que viria a acumular alguns anos mais tarde o comando do Escritório do Crime e o da milícia do Rio das Pedras foi realizada em agosto de 2005.

Também cabe registrar que, embora a nota do advogado de Queiroz passe a ideia de que a esposa e a mãe de Adriano foram contratadas no gabinete de Flávio Bolsonaro ao mesmo tempo, quando passavam por “grande dificuldade”, Raimunda Veras Magalhães, a mãe, só entrou na Alerj em 2015, passando a receber pelo gabinete em 2016. Em 2009, a dificuldade era tanta que ela abriu um restaurante no bairro do Rio Comprido – rua Aristides Lobo, 224.

O Escritório do Crime começou como uma equipe de matadores de aluguel contratados por contraventores para eliminar concorrentes. Em seu portfólio há uma longa lista de homicídios que ficaram impunes, como o do presidente da Portela, ex-PM Marcos Falcon, morto em Oswaldo Cruz, próximo ao comitê de sua campanha para vereador, em setembro de 2016, e o do sargento reformado da PM Geraldo Antônio Pereira, da milícia de Curicica, abatido a tiros de AK-47 no estacionamento do Novo Rio Country Club (Recreio dos Bandeirantes), em maio de 2016.

Outro ruidoso crime encomendado ao Escritório foi a execução de Haylton Escafura – jogo do bicho e caça-níqueis – com mais de 20 tiros de armas de três calibres num apartamento no 8.º andar do hotel Transamérica (Recreio dos Bandeirantes), em 29 de abril de 2017. A policial militar Franciene de Sousa, que o acompanhava na ocasião, também foi fuzilada.

Em 14 de março de 2018, superestimando a sua blindagem, o Escritório do Crime metralhou a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, com 13 disparos. Desta vez a polícia, após 12 meses de diligente investigação, apontou os assassinos – PM reformado Ronnie Lessa e ex-PM Élcio Vieira de Queiroz – e o mandante, ex-deputado estadual Domingos Brazão.

A família Brazão – Chiquinho, Pedro e Domingos – se tornou dona dos votos da comunidade do Rio das Pedras depois que o vereador Nadinho (Josinaldo Francisco da Cruz) foi riscado do mapa. Chiquinho foi vereador, hoje é deputado federal, Pedro é deputado estadual e Domingos – o chefe do clã – passou ao Tribunal de Contas do Estado (TCE), em 2015, por indicação da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

Mas a investigação policial ainda não está concluída. É bom que não esteja. Falta precisar o motivo do crime. No caso de ter sido uma ação terrorista para excitar a extrema-direita, no início da campanha para presidente da República, ainda que Brazão tenha pago a fatura, a decisão teria que vir mais de cima.

A milícia do Rio das Pedras e o Escritório do Crime, na época do atentado, estavam sob domínio do amigo de Queiroz, o ex-capitão Adriano Magalhães da Nóbrega. O amigo do amigo de Jair Bolsonaro só passou à condição de fugitivo em 22 de janeiro de 2019, por consequência da “Operação Os Intocáveis”, realizada pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio de Janeiro, com apoio da Polícia Civil, que prendeu cinco membros da cúpula da milícia do Rio das Pedras e desarticulou o Escritório do Crime.

Com todo o respeito à família Bolsonaro, num contexto como esse não há como aceitar que o atentado possa ter sido realizado pelas suas costas. Mas se foi apenas uma “disputa local” e não uma “ação terrorista”, não está mais aqui quem falou. Daí a necessidade da investigação não ser concluída antes do motivo do crime estar devidamente esclarecido.

Ronnie Lessa, apontado pela polícia como o assassino que efetuou os disparos contra a vereadora Marielle Costa e o motorista Anderson Gomes, foi preso em sua luxuosa casa, por sinal vizinha à de Jair Bolsonaro, no Condomínio Vivendas da Barra. O Mito diz que não reparou no vizinho e que seu filho Jair Renan “não se lembra” de ter namorado a filha dele. “Não se lembra” é a resposta típica que advogados de defesa orientam seus clientes a dar quando estes não estão em condições de negar, sem cometer perjúrio, a participação em eventos comprometedores. Ronnie é subtenente reformado, cujo soldo, por volta de R$ 7 mil, jamais permitiria que ele morasse ali. Também não permitiria que ele tivesse, na casa de um amigo no Méier, um lote de 117 fuzis M-16, de procedência não declarada, avaliados em R$ 4 milhões.

Ronnie-Lessa-1Ronnie Lessa, assassino de Marielle Franco (foto: Pablo Jacob/Ag. O Globo)

Como Queiroz, Ronnie Lessa passou pelo Exército antes de ingressar na Polícia Militar. Como Adriano, atuou no Bope e foi segurança de contraventores antes de passar ao Escritório do Crime. Como Bolsonaro – e, aliás, como todos eles -, é um fanático adorador da Scuderie Le Cocq, a ponto de possuir carteirinha da associação, emitida em 1989, com o número de matrícula 3127, cujo fac-símile foi apresentado pela revista Época em reportagem publicada no dia 4 de abril. E tinha só 18 anos quando se matriculou.

CARTEIRA-RONNIE-LESSA-768x461A carteirinha de Ronnie Lessa da Scuderie Le Cocq

O símbolo da Scuderie Le Cocq é uma caveira que repousa sobre duas tíbias cruzadas, tendo embaixo as iniciais EM, que, segundo seus criadores, significam “Esquadrão Motorizado” e não “Esquadrão da Morte” – exibição de cinismo explícito que os levou também a registrar a associação como entidade “filantrópica”. Ativa na década de 70, ela celebrava a união dos grupos de extermínio de todas as procedências – torturadores e homicidas das bandas podres da Polícia, Exército, Marinha e Aeronáutica, irmanados no imundo ofício de matar por dinheiro.

Com o fim da ditadura, a Scuderie perdeu o viço e refluiu para as sombras. As milícias atuais introduziram inovações naquele modus operandi e criaram outras oportunidades de negócios, mas o espírito continua o mesmo. Expurgado do Exército, em 1988, Bolsonaro mergulhou de cabeça nesse submundo.

Há menos de 15 dias, desabaram, sem aviso prévio, dois empreendimentos imobiliários construídos ilegalmente em terreno público grilado, na comunidade da Muzema, vizinha do Rio das Pedras: 24 mortos e 35 feridos.

Os moradores pagaram de R$ 40 mil a R$ 100 mil pelos apartamentos aos donos dos prédios – milicianos comandados pelo foragido Adriano Magalhães da Nóbrega, o amigo de Queiroz. Perderam tudo, e muitos a própria vida.

Pelo Censo de 2010, a Muzema tinha 4.000 habitantes e Rio das Pedras 50.000. E de lá para cá não parou de chegar gente. Há mais de 200 prédios na região, levantados desse modo. É uma prévia do que Bolsonaro e as forças que creem poder manipulá-lo estão chocando no front da Segurança Pública.

 

(SÉRGIO RUBENS)
 Por  Publicado em 24 de abril de 2019

 

 

 

pao amor e 2

Assista ao filme “Pão, Amor e…”, de Dino Risi, na Mostra Permanente de Cinema Italiano

pao amor e 2

 

 

A Mostra Permanente de Cinema Italiano do Cine-Teatro Denoy de Oliveira apresenta:

 

 

29/04 – 19H: “PÃO, AMOR E…” (1959), DE DINO RISI

 

 

SINOPSE

O mulherengo Antonio Carotenuto (Vittorio de Sica), que é um marechal aposentado, volta para sua terra natal, Sorrento, para assumir o cargo de comandante da guarda municipal. Ele jura não se meter mais em aventuras amorosas, mas sua primeira missão é despejar Sofia (Sophia Loren), uma vendedora de peixes e que vive em sua antiga casa, que tenta agradá-lo com presentes na intenção de fazê-lo mudar de ideia.

 

O DIRETOR

Dino Risi nasceu em Milão, estudou medicina, formou-se em psiquiatria. Foi crítico de cinema, roteirista, trabalhou como assistente de Mario Soldati e Alberto Lattuada. Nos anos 50 se instalou em Roma, se tornando um dos grandes inventores da commedia all’italiana, ao lado de Ettore Scola, Mario Monicelli e Pietro Germi. Dirigiu 54 filmes, entre os quais “Férias com o Gangster” (1951), “O Signo de Venus” (1955), “Belas, mas Pobres” (1956), “Essa Vida Dura” (1961), “Aquele que Sabe Viver” (1962), “Operação San Genaro” (1966), “Esse Crime Chamado Justiça” (1971). “Perfume de Mulher” valeu a Vittorio Gassman o grande prêmio de interpretação masculina no Festival de Cannes de 1975. Em 2002, recebeu um Leão de Ouro, no Festival de Veneza, pelo conjunto da obra.

 

 

Confira nossa programação completa!

 

SERVIÇO

Filme: Pão, Amor e… (1955), de Dino Risi

Duração: 106 minutos

Quando: 29/04 (segunda-feira)

Que horas: pontualmente às 19 horas.

Quanto: entrada franca

Onde: Rua Rui Barbosa, 323 – Bela Vista (Sede Central da UMES SP)

os companheiros

Cinema Com Partido apresenta “Os Companheiros”, de Mario Monicelli

os companheiros

 

O Cine-Teatro Denoy de Oliveira apresenta: CINEMA COM PARTIDO – MOSTRA DEMOCRÁTICA

 

Trabalhadores sem direitos; colonialismo; imperialismo; racismo; discriminação das mulheres; extermínio das populações indígenas; degradação do meio-ambiente; ciência e escola sob censura de pretensos intérpretes das Escrituras; aversão à democracia e seu fundamento, o livre debate entre partidos políticos; exaltação das ditaduras, do pensamento único , da violência, da intolerância, da corrupção, da hipocrisia (qualquer semelhança com o governo da família Bolsonaro será mera coincidência?) são temas que o cinema universal tem denunciado com vigor ao longo do tempo.

Para a extrema-direita, isto é doutrinação.

Para as correntes de opinião comprometidas com a democracia é cultura e arte.

 

 

27/04 – 10H: “OS COMPANHEIROS” (1963), DE MARIO MONICELLI

 

SINOPSE

Turim, 1890. Operários de uma fábrica têxtil trabalham 14 horas por dia, com pausa de meia hora para comer o alimento trazido por suas famílias. A fadiga provoca terrível acidente – um trabalhador perde a mão numa máquina de fiação. No dia seguinte, a revolta começa a se transformar numa greve organizada.

 –

 

 

Após a exibição do filme, a sessão fará um debate que contará com a presença de Dorberto Carvalho, que é Presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos de Espetáculos e Diversões do Estado de São Paulo, além de Diretor da Cooperativa Paulista de Teatro. Integra o grupo teatral Companhia do Miolo, e é escritor, dramaturgo e diretor de teatro.

 

 

Confira nossa programação completa!

 

SERVIÇO

Filme: Os Companheiros (1963), de Mario Monicelli

Duração: 125 minutos

Quando: 27/04 (sábado)

Que horas: pontualmente às 10 horas da manhã.

Quanto: entrada franca

Onde: Rua Rui Barbosa, 323 – Bela Vista (Sede Central da UMES SP)

 

 

 

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Assista ao filme “O Viúvo”, de Dino Risi, na Mostra Permanente de Cinema Italiano

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A Mostra Permanente de Cinema Italiano do Cine-Teatro Denoy de Oliveira apresenta:

 

 

22/04 – 19H: “O VIÚVO” (1959), DE DINO RISI

 

 

SINOPSE

Alberto Nardi é um jovem industrial com sonhos de grandeza e que vive perseguido por credores. Casado com Elvira, uma empresária de sucesso em Milão, a quem Nardi recorre, não sem resistência dela, sempre que precisa de investimento para suas ideias delirantes. Como Elvira já havia decidido a não lhe emprestar mais um tostão, Nardi passa a ter ideias ainda mais mirabolantes para obtê-lo.

 

O DIRETOR

Dino Risi nasceu em Milão, estudou medicina, formou-se em psiquiatria. Foi crítico de cinema, roteirista, trabalhou como assistente de Mario Soldati e Alberto Lattuada. Nos anos 50 se instalou em Roma, se tornando um dos grandes inventores da commedia all’italiana, ao lado de Ettore Scola, Mario Monicelli e Pietro Germi. Dirigiu 54 filmes, entre os quais “Férias com o Gangster” (1951), “O Signo de Venus” (1955), “Belas, mas Pobres” (1956), “Essa Vida Dura” (1961), “Aquele que Sabe Viver” (1962), “Operação San Genaro” (1966), “Esse Crime Chamado Justiça” (197 1). “Perfume de Mulher” valeu a Vittorio Gassman o grande prêmio de interpretação masculina no Festival de Cannes de 1975. Em 2002, recebeu um Leão de Ouro, no Festival de Veneza, pelo conjunto da obra.

 

 

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SERVIÇO

Filme: O Viúvo (1959), de Dino Risi

Duração: 87 minutos

Quando: 22/04 (segunda-feira)

Que horas: pontualmente às 19 horas.

Quanto: entrada franca

Onde: Rua Rui Barbosa, 323 – Bela Vista (Sede Central da UMES SP)

 

 

 

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Cinema Com Partido apresenta “Matewan, A Luta Final“, de John Sayles

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O Cine-Teatro Denoy de Oliveira apresenta: CINEMA COM PARTIDO – MOSTRA DEMOCRÁTICA

 

Trabalhadores sem direitos; colonialismo; imperialismo; racismo; discriminação das mulheres; extermínio das populações indígenas; degradação do meio-ambiente; ciência e escola sob censura de pretensos intérpretes das Escrituras; aversão à democracia e seu fundamento, o livre debate entre partidos políticos; exaltação das ditaduras, do pensamento único , da violência, da intolerância, da corrupção, da hipocrisia (qualquer semelhança com o governo da família Bolsonaro será mera coincidência?) são temas que o cinema universal tem denunciado com vigor ao longo do tempo.

Para a extrema-direita, isto é doutrinação.

Para as correntes de opinião comprometidas com a democracia é cultura e arte.

 

 

20/04 – 10H: “MATEWAN, A LUTA FINAL” (1987), DE JOHN SAYLES

 

SINOPSE

Baseado numa história real, o filme narra os acontecimentos ocorridos em 1920 numa região de mineração, na Virgínia Ocidental (EUA). Tudo começa quando Joe Kenehan chega à cidade de Matewan. Para organizar um sindicato, ele terá que unir dois grupos que se digladiam: os brancos, formados por imigrantes italianos, e os negros descendentes dos escravos.

 

 

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SERVIÇO

Filme: Matewan, A Luta Final (1987), de John Sayles

Duração: 135 minutos

Quando: 20/04 (sábado)

Que horas: pontualmente às 10 horas da manhã.

Quanto: entrada franca

Onde: Rua Rui Barbosa, 323 – Bela Vista (Sede Central da UMES SP)

 

 

 

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Cadê a cultura que ‘tava aqui?

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O grande maestro Tom Jobim, em suas divertidas tertúlias nas mesas do Leblon, dizia que um de seus sonhos de juventude seria realizar um filme sobre a história brasileira do séc. XX, na qual retrataria a batalha de Itararé da seguinte forma: de repente, a tela ficaria em branco e sem nenhum som, assim permanecendo por infindáveis 30 segundos. Na verve do maestro soberano, assim se faria a melhor representação do que seria o momento mais épico da Revolução de 30, quando as forças revolucionárias do Sul, comandadas por Getúlio Vargas, se defrontariam com as forças governistas de Washington Luís, no município de Itararé, SP. Mas a célebre batalha de Itararé, como se sabe, simplesmente não aconteceu: furou, deu cano, no entanto rendendo um título de barão ao humorista Aparício Torelly, que o exerceu muito bem, aliás.

Falar de Cultura nos tempos de agora é mais ou menos a mesma coisa. É falar sobre algo que não há e não se tem certeza de que possa haver. Vivemos o momento da Cultura de Itararé, a que não foi, nem é: trata-se, por enquanto, de uma conversação sobre o nada, para remeter ao título de uma obra musical contemporânea, de cujo autor não me lembro. Por enquanto, estamos falando mais de não-cultura que propriamente de Cultura. De concreto, pouco temos além das tradicionais manifestações de intolerância retaliatória, nas quais se anunciam cortes de verbas, extinção de órgãos, perseguição a artistas e pensadores e outras edificâncias que-tais. Fala-se que somente das empresas estatais cerca de 128 milhões de reais podem deixar de ser direcionados à Cultura. Mas, frise-se, não se trata de cortes: na novilíngua ora entronizada, são só “reavaliação das aplicações de recursos.” Outros engodos são divulgados impunemente nos tuítes da vida: foi dito, como pretexto para maior redução de verbas para a Cultura, que só a Caixa Econômica Federal teria gastado R$ 2,5 bilhões em patrocínio e publicidade em 2018, quando na realidade R$ 685 milhões é que tiveram tal destinação. E assim se está precarizando ainda mais o que já é precário, se vem pauperizando o que já é insuficiente para atender às demandas da área. Com isso, a desmontada Cultura brasileira vem se desmontando cada vez mais.

Mas talvez pior que essa derrocada material seja o desprezo institucional pela Cultura que a inépcia, a carência moral e o autoritarismo de alguns governantes vêm impondo à sociedade brasileira. Símbolo disso é a caça predatória à Lei Rouanet, levada à cabo por palpiteiros ignaros, com pouco ou nenhum conhecimento dos mecanismos de financiamento à Cultura. Hoje, artistas e empreendedores culturais vêm sendo genérica e massivamente demonizados como oportunistas que mamam nas tetas do Estado, como se nada de positivo houvesse nos modelos de financiamento cultural público. Claro que todos estes modelos podem – e devem – ser continuamente revistos e aprimorados, mas jamais extintos, principalmente para atender à argumentação farisaica dos que acham que os gastos com a Cultura são um desperdício e um pesado ônus para o país. Os incentivos à Cultura (existentes em todo o mundo, principalmente para as áreas do audiovisual e das artes performáticas), no Brasil não significam nada diante dos estratosféricos recursos que os governos transferem ao sistema financeiro e/ou às grandes corporações privadas, inclusive multinacionais, seja através de “financiamentos” diretos de recursos, seja por meio de concessões vantajosas para que atuem nos mercados, apropriando-se depois dos resultados obtidos. Mas isso, parece que ninguém vê…

As distorções no financiamento público à Cultura em geral derivam do concurso simultâneo de três agentes: dos próprios criadores e produtores culturais que buscam recursos do Estado para realizar empreendimentos de eficácia social, cultural e mercadológica duvidosa; dos “patrocinadores” e atravessadores privados, que se valem das leis de incentivo para usufruir do marketing mais barato que existe, o que é pago com dinheiro público; e dos maus agentes estatais, que se prevalecem de estar na posição concedente de guichê pagador para obter benefícios de variada ordem.

Pelo andar da carruagem, o governo recém-instalado parece disposto a seguir esse mesmo (des)caminho na gestão dos recursos para a Cultura. Mas ele vai além: erra feio ao conceber como Cultura apenas a perfumaria intelectual e artística, subjugando-se ao varejo cultural e ao consumismo desenfreado ditado pelas corporações que dominam a indústria criativa mundial, como se o país não pudesse (e devesse) ter uma pauta cultural própria; abdica de sua obrigação de defender a diversidade cultural nacional, assumida quando o Brasil firmou a Convenção da UNESCO pela Diversidade Cultural (2005), em lugar disso preferindo ser caudatário da massificação mercadológica imposta pelo mainstream cultural mundial. Mais grave que isso, o atual governo, não vê a Cultura como um dos itens fundamentais a um projeto de Nação. Como decorrência disso, tudo indica não haver interesse governamental em investir na infraestrutura cultural nem em bens de produção cultural nacionais, deixando lugar apenas para o imediatismo dos bens de consumo. Com raras exceções, estamos produzindo hoje apenas cosméticos e bugigangas culturais, esquecendo-nos da lição do grande Guimarães Rosa: “Não faça biscoitos, faça pirâmides.” Para atender à mediocrização cultural crescente, estamos perdendo espaço no rankingmundial da qualidade: nossa música popular, p. ex., antes tida como uma das três mais importantes do mundo, hoje está sumindo do mercado internacional, perdendo espaço para os sub-produtos made in Miami, made in Hong-Kongmade in Seoul ou coisa que o valha. A falta de vigor cultural explica por que nosso próprio mercado fonográfico interno, que foi o sexto do mundo até o início dos anos 80, hoje amarga a décima-quarta colocação mundial e ainda com viés de baixa, como dizem os economistas. E assim o Brasil está perdendo lugar no mundo não só em excelência cultural como também em termos econômicos, visto que, como se sabe, a Economia Criativa é hoje um item significativo no PIB de muitos países. No Brasil, até mesmo na crise atual, ela chegou a significar 2,64% do PIB… mas com viés de baixa, infelizmente.

A ironia de Jobim sobre Itararé diz muito sobre a Cultura (melhor dizendo, a não-cultura) dos tempos atuais. Mas como analogia das ameaças à Cultura e à Democracia no Brasil de hoje, são mais eloquentes dois outros episódios históricos: o discurso do general fascista Millán Astray contra o filósofo Miguel de Unamuno, em outubro de 1936, durante a Guerra Civil Espanhola, quando o primeiro gritou: “Abajo la inteligência, viva la muerte!”; e o desaforo do nunca assaz mal-lembrado Joseph Goebbels, o marqueteiro de Hitler, que dizia: “Quando ouço falar em cultura, tenho ganas de pegar minha pistola!”. Ao nazista reagiu certeiramente Millor Fernandes, que afirmou que preferia sacar sua cultura quando ouvia alguém falar em pistola.

É sintomático e preocupante que no Brasil atual também pareça se estar propondo, de novo, a opção entre inteligência e morte, entre cultura e pistola. Eis a marca desses novos tempos, que não podemos aceitar. Temos de resistir, recuperando a dignidade institucional da Cultura, reinserindo-a como parte fundamental de nosso projeto de Nação e lutando para que os mecanismos de sua proteção não fiquem em mãos dos que querem aviltá-la e controlá-la por meio do garrote orçamentário, da burocracia excessiva e da coerção sobre suas instituições. Por que querem fazer isso? A resposta está nas palavras de Jorge Coli, professor de história da arte na Unicamp: “A linguagem, a música, as artes, o conhecimento e a cultura são hoje violentados, ridicularizados, negligenciados, porque de fato são eles as grandes forças poderosas contra a barbárie.”

Abaixo a barbárie, pois. Façamos como Millor: contra a pistola de hoje, saquemos a Cultura de sempre.

* A conferência acima foi proferida pelo maestro Marcus Vinicius, da Fundação Instituto Cláudio Campos, na reunião do Observatório da Democracia que analisou os 100 dias do governo Bolsonaro. O Observatório da Democracia é composto pela Fundação João Mangabeira (PSB), Fundação Leonel Brizola-Alberto Pasqualini (PDT), Fundação Mauricio Grabois (PCdoB), Fundação Perseu Abramo (PT), Fundação Lauro Campos e Marielle Franco (PSOL), Fundação Instituto Claudio Campos (PPL) e Fundação da Ordem Social (PROS).

MARCUS VINICIUS DE ANDRADE*
 Por  Publicado em 15 de abril de 2019