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O dia em que conheci a madrinha Beth Carvalho

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Publicamos abaixo um relato emocionado e emocionante de um ex-diretor da UMES, Milton Batista, de quando conheceu a Madrinha do samba, Beth Carvalho.

 

A oportunidade se deu na realização de um projeto cultural da UMES chamado Cantarena, realizado entre os anos de 1995 e 2001. Seu nome vem da época em que o Cine-Teatro Denoy de Oliveira chamava-se ainda Teatro da UMES e tinha a forma de arena. Por ele passaram mais de 150 compositores e 600 músicos acompanhantes.

 

Obrigado Milton por ter nos recordado tantos detalhes!

 

Cantarena1

 

“O ano era 1995, estávamos no show do poeta sambista Luiz Carlos da Vila que acontecia no projeto cultural estudantil, UMES Cantarena, o show estava maravilhoso e nós estudantes nem imaginávamos que ainda poderia melhorar.

 

Sem alarde e com a maior naturalidade do mundo, a madrinha apareceu para dar uma palhinha para mais um de seus afilhados. O teatro quase veio a baixo de tanta emoção, foi lindo, espontâneo  e inesquecível.

 

Com o show finalizado convidamos a madrinha para conhecer a entidade, ela, gentil como sempre, nos acompanhou.

 

Fomos para a sala de reunião e lá ficamos, todos jovens estudantes, ouvindo a rainha do samba.

 

Em um determinado momento eu saí para buscar uma água, e quando abri a porta da sala de reunião lá estava o “Toninho” motorista da entidade com um balde de lixo embaixo do braço, e me disse:

 

– Miltinho vou cantar a música do pinto pra dona Beth.

 

Respondi: – Você ‘tá’ maluco?! Se liga, rindo.

 

E sai para buscar a água. Quando retornei, o Toninho estava esperando e repetiu os seus planos. Respondi que nem pensar, nem a pau, ele iria entrar.

 

Mas, assim que abri a porta, o Toninho invadiu a sala, com o balde de lixo e tudo e já foi logo dizendo:

 

– Boa noite Dona Beth!

 

Ela respondeu:

 

– Boa noite!

 

Aí todos nós da sala, incluindo a madrinha, percebemos que o Toninho estava completamente bêbado!

 

Logo em seguida, quase me causando um infarto, o Toninho diz:

 

– Dona Beth posso lhe fazer uma pergunta?

 

Ela respondeu: – claro.

 

Eu gelei. Só pensava na música do pinto, pois não era lá muito adequada, principalmente para cantar na presença da madrinha, mas o Toninho me surpreendeu e perguntou:

 

– Dona Beth, a música “malandro” é da senhora?

 

Ela de pronto respondeu:

 

– Não, essa música é do poeta Jorge Aragão, uma música linda!

 

Logo em seguida ela emendou:

 

– E esta timba em baixo do seu braço? Você é do samba ou e só história? Dá pra levar?

 

O Toninho atônito como um fiel súdito na presença de sua rainha respondeu:

 

– Sim Dona Beth!

 

Logo em seguida ela começou:

 

“Malandro, eu ando querendo falar com você, você tá sabendo que o Zeca morreu, por causa de brigas que teve com a lei?…”

 

Nós todos da sala, acompanhamos em um maravilhoso coral, seguido ao fundo com o som da timba improvisada no balde de lixo.

 

Ao fim da música o Toninho se ajoelha chorando e beija a mão da Madrinha, neste momento todos choravam!

 

Durante mais de duas décadas narrei esta história, todas às vezes eu me emociono e os olhos enchem de lágrimas.

 

Ontem, quando soube da morte da madrinha eu não chorei, pois meu coração sabe que ela estará sempre viva e eternizada nas histórias, rodas de samba, nas lutas de classe e nos corações apaixonados!

 

O céu está em festa e meu coração se orgulha de ter conhecido pessoalmente esta rainha, que desceu do trono para cantar com um grupo de estudantes acompanhados por um balde de lixo!

 

 

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