Após cinco dias de greve, os metroviários ainda enfrentam a intransigência do governo do estado de São Paulo que, ao invés de negociar com a categoria, virou as costas às reivindicações, prendeu trabalhadores, acionou a tropa de choque, agrediu funcionários e demitiu 42 grevistas.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), declarou nesta segunda-feira, 9, que a proposta de reajuste de 8,7% oferecida pelo governo será mantida, bem como as demissões, ao contrário do que reivindicavam os manifestantes. “O reajuste já foi definido. É aquele que o governo ofereceu. Não tem mais o que discutir”, declarou o governador.
Em assembleia realizada no início da noite desta segunda, o Sindicato dos Metroviários de São Paulo decidiu suspender a greve até esta quarta-feira, 11, e manter o estado de greve. A assembleia aconteceu após uma reunião entre o sindicato, o secretário de Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, o superintendente regional do Trabalho e Emprego em São Paulo, Luiz Antonio Medeiros, e representantes das Centrais Sindicais, que terminou sem acordo.
Os metroviários foram à reunião buscando resolver o impasse e, principalmente, garantir o emprego dos 42 trabalhadores que foram demitidos por justa causa – o que resultaria em não recebimento de nenhum dos direitos previstos em lei para os demitidos. Mas o governo novamente não aceitou negociar.
Segundo Medeiros, faltou pouco para que fosse fechado um acordo. “Estranhamente, nós tínhamos recebido um sinal verde [do secretário da Casa Civil, Edson Aparecido] para resolver isso, e discutimos exaustivamente. O presidente do Metrô [Luiz Antonio Carvalho Pacheco] concordou [com a readmissão dos 42], exceto duas pessoas que não seriam readmitidas. Achamos que o acordo estava feito, mas quando foi consultar [o governador], o Palácio [dos Bandeirantes] disse não”, relata o superintendente.
Altino de Melo Prazeres Júnior, presidente do Sindicato dos Metroviários, chegou a declarar antes da reunião que ameaças de demissões por parte do governo estadual podem piorar a situação: “Acho que o governo está indo para um campo que aumenta o problema, em vez de diminuir. Tem espaço para negociação, queremos resolver, espero que isso aconteça ainda hoje”.
Os metroviários apresentaram reivindicação de reajuste em 16,5% nos salários e demais benefícios, plano de carreira – em especial para funcionários da segurança e da manutenção -, além de aumento na PLR (Participação nos Lucros e Resultados) e auxílio-creche. Eles chegaram a diminuir a reivindicação para 12,2% para procurar o acordo, mas afirmaram que não aceitariam reajuste abaixo de dois dígitos. No entanto, o governo insistiu em encerrar a negociação com 8,7%. Isso diante do aumento de “dois dígitos” de itens básico para o consumo, como carnes, energia, aluguel residencial, etc. (Ver matéria na página 2).
PM de Alckmin agride e prende manifestantes
Ainda durante a manhã de segunda os metroviários se reuniram para uma manifestação em frente à estação Ana Rosa do Metrô, na zona sul da capital. Por volta das 6h40, a Tropa de Choque da Polícia Militar (PM) apareceu e atacou os manifestantes com bombas de gás lacrimogêneo e gás de pimenta. 13 metroviários foram presos e levados para 36ª Delegacia de Polícia, localizada na Rua Tutóia. Esta não foi a primeira vez que houve confronto com a polícia. Na sexta-feira, 6, os funcionários que ocupavam a estação Ana Rosa foram expulsos pela Tropa de Choque da PM por meio de bombas de efeito moral e golpes de cacetete.
Depois do confronto pelo menos centenas pessoas seguiram em marcha até a Praça da Sé e pararam na Rua Boa Vista, em frente à Secretaria de Transportes, exigindo negociação com o governador. Também diversas entidades sociais, centrais sindicais e sindicatos apoiaram os metroviários com uma manifestação na capital.
Fábio Bosco, metroviário, disse ter sido ferido na testa durante o confronto com a PM. “Eles [os policiais] entraram agredindo todos que ali estavam. A forma da agressão foi jogar os escudos sobre nós e atingir a gente com golpes de cassetete de borracha. Também usaram gás contra nós. Colocaram a tropa de choque dentro da estação do metrô, um espaço confinado, é um absurdo fazer isso”, reclamou.
Governos estadual e federal respaldam decisão da Justiça que atenta contra o direito de greve
No domingo, o Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, ao invés de mediar à situação para encontrar um acordo, considerou a greve abusiva e estipulou uma multa de R$ 500 mil por dia de paralisação.
Na quarta-feira anterior à greve, o TRT já havia concedido liminar obrigando os trabalhadores a manterem 100% da frota em operação nos horários de pico, e ao menos 70% no restante do período, numa clara tentativa de suspensão do direito de greve dos trabalhadores.
De acordo com Jorge Luiz Souto Maior, jurista e professor livre docente de direito do trabalho brasileiro na USP, diante do anúncio da greve, o Metrô, “em vez de iniciar negociação, como determina a lei, se socorreu da via judicial, por meio de ação cautelar, para impedir a ocorrência da greve”. “Essa foi, portanto, a primeira ilegalidade cometida pelo Metrô, que pode ser vista, inclusive, como ato antissindical, o que é coibido pela Convenção 98 da OIT, ratificada pelo Brasil, e já mereceria repúdio imediato do Judiciário.”
Para o jurista, ao se valer da decisão judicial que obriga os metroviários a manterem 100% da frota em funcionamento no horário de pico, Metrô e governo “descumpriram sua obrigação legal de definirem essa questão de comum acordo com os trabalhadores, cometendo grave ato de natureza antissindical”.
Em entrevista à TV Globo, o secretário de Transportes Metropolitanos Jurandir Fernandes, disse que “depois do resultado do TRT, ainda insistir na greve é uma medida tresloucada, completamente insana. O bom senso deve prevalecer nessa reta final. Eles não só podem, como devem ser demitidos por justa causa. É uma obrigação”, ameaçou o secretário.
O sindicato dos metroviários de São Paulo enviou uma carta aberta à presidente Dilma Rousseff pedindo para ela intervir no impasse junto ao governo do Estado. A carta diz que “fizemos todos os esforços para evitar que a greve causasse prejuízos à população (sugerimos a realização de greve com catraca livre e funcionamento normal do Metrô) e para alcançar um acordo de maneira rápida e satisfatória. No entanto, o governador do Estado Geraldo Alckmin e o secretário Estadual dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, não permitiram evolução nas negociações com o sindicato e os trabalhadores”.
Não houve resposta por parte da presidente, mas o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, respaldou a tentativa do governo estadual e da Justiça de barrar o direito de greve: “No Estado de Direito nós temos que respeitar as regras que estão postas. O tribunal decidiu, e, então, isto tem que ser levado em conta pelos trabalhadores que, acredito eu, não podem colocar neste momento o interesse corporativo acima aquilo que é de interesse público. Seja por que for, o governo do estado pode contar com o apoio instrumental do governo federal”, disse Cardozo à rádio CBN.
ANA CAMPOS
Fonte: Hora do Povo