Lobby de Gleisi e Bernardo quer reduzir ICMS devido pelas teles

Argumento que é para baixar o preço da banda larga é conversa para boi dormir.

 

Na última quinta-feira, a senadora Gleisi Hofmann (PT-PR), até há pouco ministra da Casa Civil e, hoje, líder de fato do Planalto, apresentou projeto de resolução para limitar em 10% “a alíquota de ICMS sobre os serviços de internet em banda larga fixa”. Segundo ela, “essa redução tem o condão de aumentar a penetração do acesso em até dois milhões de assinaturas”.

Nessa linguagem algo fálica, segundo disse, o condão da penetração teria também o dom de aumentar a “velocidade nominal” (sic) da Internet e aumentar em “R$ 103 bilhões” (sic) o PIB.

Naturalmente, ninguém precisa de “velocidade nominal”. Já temos bastante “velocidade nominal” nos contratos das teles com os usuários. Mas o problema é que, do que a senadora falou, nada significa nada, exceto que ela quer favorecer os bandidos da telefonia. Aos incrédulos, a senadora citou a frase de um sábio, o “ex-Presidente Fernando Collor[segundo o qual] a verdade é um barco que balança, mas não afunda, e o tempo é sempre o senhor da razão” (cf. SF, notas taquigráficas, 15/05/2014).

O Congresso não pode, pela Constituição, determinar a alíquota do ICMS sobre as comunicações, pois isso é privativo dos Estados (CF, artigo 155, inciso II). Mas a senadora acha que pode eludir a Lei, porque, “para resolver conflito específico que envolva interesse de Estados”, o Senado pode “fixar alíquotas máximas na operação de ICMS”.

Nem a ditadura pensou num casuísmo tão vigarista e tão tolo. Resta à senadora provar que há algum conflito na questão específica do ICMS sobre as teles – e obter a votação de 2/3 do Senado – para cortar mais ainda as verbas dos Estados.

A derrubada do ICMS é a principal campanha atual dos monopólios externos que passaram a dominar as telecomunicações, após a sua privatização. Literalmente, diz o último documento do cartel:

“Cumpre assinalar que a maior parcela desta carga tributária é imposta pelos Governos Estaduais (ICMS sobre Serviços de Comunicações) que, deste modo, trabalham contra a Política de Universalização dos Serviços de Telecomunicações adotada pelo Governo Federal, pois, onerando o valor pago pelo usuário, inibem o acesso dos usuários de menor renda aos serviços, inclusive nos celulares pré-pagos e nos terminais de uso público (orelhões)” (cf. Telebrasil, “O Desempenho do Setor de Telecomunicações no Brasil 2013, página 10, 03/04/2014).

Tudo isso é mentiroso, a começar pelos orelhões, que sumiram porque as teles desrespeitaram o contrato assinado na época da privatização para obrigar a população a comprar celulares e impor suas contas extorsivas – e nenhum governo cobrou delas o cumprimento do contrato.

Segundo: não são os impostos que encarecem a banda larga ou qualquer outro preço praticado pelas teles.

A prova disso é que, entre 2002 e 2011, segundo o IBGE, a receita operacional líquida (ou seja, já pagos os impostos, mas sem somar os ganhos financeiros) delas foi R$ 991,8 bilhões.

Além disso, com o atual ICMS, elas aumentaram em 150% suas remessas de lucro para o exterior entre 2009 e 2013. A senadora deve saber disso, pois saiu em “O Globo”:

“… as subsidiárias brasileiras de telefonia vêm aumentando o envio de seus lucros para fora do país,impedindo um avanço maior nos investimentos aqui. Em alguns casos, a alta na remessa de dividendos atingiu 150% entre 2009 e 2013. E há empresas que ‘exportaram’ até 95% de seus ganhos anuais. TIM e Vivo enviaram para suas matrizes cerca de R$ 15 bilhões em dividendos desde 2009.

“A Oi, dizem analistas, remeteu R$ 1,2 bilhão para a Portugal Telecom (PT) no período. A GVT, da francesa Vivendi, não divulga o quanto envia, assim como as empresas do grupo mexicano América Móvil no Brasil: Embratel, Claro e Net. Na TIM, 67% dos dividendos vão para o caixa da Telecom Italia.

“O envio subiu cerca de 150% de 2009 a 2013, de R$ 327,4 milhões para R$ 843 milhões. A Telefônica (dona da Vivo) destina 73,8% de seus dividendos para a Espanha. Assim, dos R$ 18 bilhões pagos entre 2009 e 2013, R$ 13 bilhões foram enviados à sede.

“A PT, cuja geração de caixa é declinante, tende a se beneficiar da fusão com a Oi, prevista para ser concluída em junho. Entre 2011 e 2013, o grupo português reduziu o pagamento de dividendos em quase 60% à Telemar Participações (holding que controla a Oi e 10% da PT), de R$ 187,8 milhões para R$ 75,9 milhões. Já os dividendos da Oi à PT aumentaram mais de quatro vezes, diz uma fonte” (cf. Bruno Rosa, “Remessa de teles brasileiras às sedes sobe até 150%”, O Globo, 09/03/2014, grifos nossos).

O lucro líquido das teles, segundo a última edição da “Melhores e Maiores” da revista Exame, foi o seguinte: Vivo/Telefonica: US$ 3 bilhões e 492 milhões; Oi: US$ 1 bilhão e 234 milhões; TIM: US$ 752,8 milhões; GVT: US$ 338,8 milhões; Embratel/Net: US$ 198,5 milhões.

Houve algum setor que tivesse lucro líquido maior? Apenas um: os bancos. Mesmo assim, só os quatro maiores bancos privados. Porém, isso é apenas a parte visível dos lucros das teles. A maior parte está oculta pelo superfaturamento das importações – e são tão grandes que o rombo acumulado na balança comercial, causado especificamente pelas teles, chegou, no ano passado, a US$ 11,5 bilhões.

As teles dizem que investem muito no Brasil. Também é mentira. Em termos de percentual do PIB, o investimento das teles caiu de 1,3%, quando foram privatizadas, para,segundo o cálculo das próprias teles, certamente superestimado, 0,5% do PIB (cf. Telebrasil, rel. cit., p. 70).

Além disso, desde a privatização até 2013, o BNDES forneceu R$ 45,9 bilhões às teles – e não foi a “juros de mercado”.

Derrubar o ICMS da banda larga fixa favorece três empresas, que monopolizam 75% do mercado: Telefónica, Net (isto é, Telmex/AT&T) e Portugal Telecom/Oi, aumentando ainda mais a sua margem de lucro. Dizer que é uma medida para baixar o preço da banda larga é conversa para boi dormir…

O impressionante é a desinibição – preferimos não usar o termo exato: despudor – com que a senadora se atira a um lobby indecente, tendo o marido no principal cargo que se ocupa do assunto.

É verdade, o ministro também é a favor de derrubar o imposto estadual sobre as teles, assim como “desonerou-as” (?!) dos impostos federais. Mas isso apenas piora o chamado conflito de interesses: marido e mulher fazendo lobby, um no Ministério e outro no parlamento, só duplica a indecência do negócio.

O ministro acabou com o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), esboçado no governo Lula pelo engenheiro Rogério Santana, para favorecer as teles. Até pediu, e conseguiu, a demissão de Santana – um veterano militante do PT, com vasta experiência na área de telecomunicações – da presidência da Telebrás. Com isso, acabou com os planos de Lula de reativar a Telebrás para que fosse o centro do PNBL, rompendo com o monopólio das teles, seus preços escorchantes e sua ineficiência.

O resultado foi um fracasso na universalização da banda larga. Tanto assim que, agora, a senhora Bernardo, ao apresentar o seu projeto, diz que vai aumentar as assinaturas em 2 milhões, gente que foi, precisamente, colocada à margem pelo lobby das teles – e vão continuar assim, se depender da senadora, do ministro e de outros lobistas no governo.

 

CARLOS LOPES

Fonte: Hora do Povo

 

Os Azeredo mais os Benevides – Veja mais imagens

OS AZEREDO MAIS OS BENEVIDES

Produção: CPC-UMES

Ingressos: R$ 30,00 (meia-entrada R$ 15,00)

Horários: Sextas e Sábados 21h; Domingos 20h

Temporada: 9 de Maio a 8 de Junho

Direção: João das Neves

 

CINE-TEATRO DENOY DE OLIVEIRA

Rua Rui Barbosa, 323, Bela Vista. Tel: 3289-7475

 

 

 

 

 

Sinopse

“Uma funda amizade/ aqui começou./ Um doutor de verdade/ e um camponês meu amor.” Assim canta Lindaura, sublinhando o início da amizade entre o camponês Alvimar e Esperidião, um jovem e empreendedor senhor de terras. Uma amizade que vai sendo desmontada com o passar dos anos, por mais que os dois homens se obstinem em preservá-la.

 

Ficha Técnica

Peça de Oduvaldo Vianna Filho

Direção: João das Neves

Música: Edu Lobo (Chegança); Marcus Vinícius

Elenco: Chico Américo; Danilo Caputo; Emerson Natividade; Erika Coracini; Ernandes Araujo; Graça Berman; Guilherme Vale; João Ribeiro; Junior Fernandes; Leonardo Horta; Léo Nascimento; Marcio Ribeiro; Mariana Blanski; Paula Bellaguarda; Pedro Monticelli; Rafaela Penteado; Rebeca Braia; Ricardo Mancini; Telma Dias; Zeca Mallembah.

Cenografia: João das Neves e Rodrigo Cohen

Figurinos: Rodrigo Cohen

Direção Musical: Léo Nascimento

Assistente de Direção: Alexandre Kavanji

Iluminação: Leandra Demarchi

Cenotécnico: Edson Freire Vieira

Assistente de Figurino: Arieli Marcondes

Preparação Corporal e Orientação de Movimento: Alicio Amaral e Juliana Pardo  

 

CINEMA NO BIXIGA – Sinopse do próximo filme: O Ferroviário

Neste sábado, 17/05, o Cinema no Bixiga apresenta o filme “O Ferroviário”. O filme inicia às 16 horas, no Cine-Teatro Denoy de Oliveira, na Rua Rui Barbosa, 323, Bela Vista. Entrada franca!

 

O FERROVIÁRIO

Pietro Germi (1956), com Pietro Germi, Luisa Della Noce, Sylva Koscina, Saro Urzì, Minoru Chiaki, ITÁLIA, 116 min.


Sinopse
Andrea Marcocci é um veterano ferroviário que passa por uma crise, devido a problemas no trabalho e ao relacionamento difícil com seus dois filhos. Em torno deste enredo, o diretor Pietro Germi tece um painel da sociedade italiana nos anos 50. Prêmio de Melhor Filme no Festival Internacional de San Sebastian, indicado à Palma de Ouro, no Festival de Cannes.


Direção: Pietro Germi (1914-74)

Nascido em Gênova, filho de um operário e uma costureira, Pietro Germi estudou teatro e direção em Roma no Centro Experimental de Cinematografia. Durante os estudos trabalhou como ator, assistente de direção e roteirista. Colaborou em grande parte dos roteiros dos filmes que dirigiu, e inclusive atuou em alguns deles. Após alcançar sucesso com dramas populares de corte neorrealista, passou a escrever e dirigir comédias satíricas. Tem entre suas obras “A Testemunha” (1945); “Em Nome da Lei” (1949); “Caminho da Esperança” (1950); “O Ferroviário” (1956); “O Homem de Palha (1957); “Divórcio à Italiana” (1961), premiado com o Oscar de Melhor Roteiro Original; “Seduzida e Abandonada” (1963) e “Senhoras e Senhores” (1965), premiados no Festival de Cannes e, na Itália, com o David di Donatello.

Argumento Original: Alfredo Giannetti (1924–95)

Escritor, jornalista e roteirista, Alfredo Giannetti nasceu em Roma.  Sua parceria Pietro Germi tem início em “O Ferroviário” (1956) e se estende por 20 anos – “O Homem de Palha” (1958), “Divórcio à Italiana” (1961), “Alfredo, Alfredo” (1972). Estreou como diretor de cinema em 1961, com “Dia a Dia”. Trabalhou também como escritor e diretor de televisão.

 

Música Original: Carlo Rustichelli (1916-2004)

Nascido em Carpi, Emilia-Romagna, estudou piano no Conservatório de Bolonha e composição na Academia de Santa Cecília. Compôs cerca de 250 trilhas, entre as quais vários clássicos resultantes de uma assídua colaboração com os diretores Pietro Germi – “Juventude Perdida” (1948), “O Ferroviário” (1956), “Divórcio à Italiana” (1961), “Seduzida e Abandonada” (1964) – e Mario Monicelli, “Os Companheiros (1963), “O Incrível Exército de Brancaleone” (1966), “Meus Caros Amigos” (1975).

Em 1972 foi contratado por Billy Wilder para compor a música para “Avanti!”, em 1995 criou a trilha de “Per Semper” para o diretor brasileiro Walter Hugo Khoury.

Todos ao 23º Congresso da UMES!

Com o lema ‘Eu quero outra escola – Em defesa da escola pública de qualidade’, a diretoria da UMES convoca os estudantes de São Paulo a participarem do XXIII Congresso da UMES, maior fórum deliberativo da entidade, que discutirá temas como educação, cultura e movimento estudantil e definirá as bandeiras de luta da UMES para os próximos dois anos de gestão. Serão lideranças de diversas escolas da cidade reunidas para defender a educação. Não fique de fora! Organize sua escola!

 

Acesse aqui a tese do XXIII Congresso da UMES

 

23º CONGRESSO DA UMES

Local: Sindicato dos Metalúrgicos de SP – Rua Galvão Bueno, 782 – Liberdade

Data: 30 de Maio de 2014

Horário: A partir das 9 horas

Informações e contato: 3289-7477 ou na sede da UMES da sua região. 

 

Confira as fotos da peça Os Azeredo mais os Benevides

OS AZEREDO MAIS OS BENEVIDES

Produção: CPC-UMES

Ingressos: R$ 30,00 (meia-entrada R$ 15,00)

Horários: Sextas e Sábados 21h; Domingos 20h

Temporada: 9 de Maio a 8 de Junho

 

CINE-TEATRO DENOY DE OLIVEIRA

Rua Rui Barbosa, 323, Bela Vista. Tel: 3289-7475

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sinopse

“Uma funda amizade/ aqui começou./ Um doutor de verdade/ e um camponês meu amor.” Assim canta Lindaura, sublinhando o início da amizade entre o camponês Alvimar e Esperidião, um jovem e empreendedor senhor de terras. Uma amizade que vai sendo desmontada com o passar dos anos, por mais que os dois homens se obstinem em preservá-la.

 

Ficha Técnica

Peça de Oduvaldo Vianna Filho

Direção: João das Neves

Música: Edu Lobo (Chegança); Marcus Vinícius

Elenco: Chico Américo; Danilo Caputo; Emerson Natividade; Erika Coracini; Ernandes Araujo; Graça Berman; Guilherme Vale; João Ribeiro; Junior Fernandes; Leonardo Horta; Léo Nascimento; Marcio Ribeiro; Mariana Blanski; Paula Bellaguarda; Pedro Monticelli; Rafaela Penteado; Rebeca Braia; Ricardo Mancini; Telma Dias; Zeca Mallembah.

Cenografia: João das Neves e Rodrigo Cohen

Figurinos: Rodrigo Cohen

Direção Musical: Léo Nascimento

Assistente de Direção: Alexandre Kavanji

Iluminação: Leandra Demarchi

Cenotécnico: Edson Freire Vieira

Assistente de Figurino: Arieli Marcondes

Preparação Corporal e Orientação de Movimento: Alicio Amaral e Juliana Pardo  

 

 

 
 

Professores da rede municipal de ensino decidem manter greve

Professores e servidores da rede municipal de São Paulo fizeram nova manifestação nesta quinta-feira (15) por melhorias no salário e na carreira. Cerca de 10 mil pessoas ocuparam a Avenida 23 de maio, estimou o Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo, o Sinpeem, que lidera o movimento.

O ato começou na Vila Mariana, em frente à sede da Secretaria Municipal de São Paulo, por volta das 14h30. Representantes do sindicato se reuniram com membros da pasta, mas não houve acordo e a greve iniciada em 23 de abril será mantida.  Nova manifestação foi marcada para próxima terça feira (20), na Avenida Paulista.

A principal reivindicação da categoria é pela incorporação de bônus de 15,38% anunciado pela prefeitura a profissionais que recebem o piso salarial. A gestão municipal concorda com a incorporação, mas somente no ano que vem. O sindicato exige que pelo menos um terço seja garantido agora.

“Não sabemos em quantas parcelas o governo vai incorporar e queremos que seja em ao menos 10 meses”, diz o presidente do Sinpeem, Cláudio Fonseca.

A prefeitura garantiu reajuste de 13% a todos os profissionais da educação, mas o sindicato reclama que o aumento já havia sido garantido pela categoria em 2011 na gestão Gilberto Kassab (PSD).

O sindicato estima que 60% das escolas estejam paradas. 

 

*Com informações do Sinpeem 

Daniel Cara: Méritos e contradições do PNE que vai a voto na Câmara

*Daniel Cara

 

É imprescindível que na quarta-feira, dia 14 de maio, seja iniciada a votação final doPlano Nacional de Educação (PNE – Projeto de Lei 8035/2010) no plenário da Câmara dos Deputados. O texto que irá a voto foi apreciado pela Comissão Especial dedicada a analisar a matéria. Se os acordos forem cumpridos, o deputado  eixa  Vanhoni (PT-PR) será mantido na relatoria.

Na quarta-feira o PNE terá completado 1.241 dias de tramitação, contabilizado seu registro na Câmara dos Deputados, em 20 de dezembro de 2010. O plano foi encaminhado pelo Poder Executivo ao Congresso Nacional em 15 de dezembro daquele ano, nos últimos dias do segundo mandato do presidente Lula.

A proposta que será analisada pelos 513 deputados e deputadas federais é extensa e bem melhor do que o projeto inicial elaborado pelo Ministério da Educação. Contudo, possui problemas e contradições.

Em termos de acertos, ficou comprovada a necessidade de investimento equivalente a 10% do PIB em educação pública, a ser alcançado até o décimo ano do PNE. Há bons mecanismos de controle social estabelecidos. Além disso, o país terá que construir e implementar o Sinaeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica), superando a incompleta política de avaliação educacional em vigor, exclusivamente centrada nos testes padronizados de aprendizagem.

Ademais, para evitar o histórico e absurdo movimento inercial de expansão de matrículas no Brasil, sempre dissociado de padrão de qualidade, o PNE exige a implementação do CAQi (Custo Aluno-Qualidade Inicial), referente a um padrão mínimo de qualidade do ensino, ainda tão distante de ser materializado em todo o território nacional. Para tanto, está prevista a participação da União (Governo Federal).

E se essas conquistas são importantes, a mais decisiva será a equiparação salarial da média de remuneração dos professores com a média dos demais profissionais do serviço público. O projeto original propunha, apenas, aproximar a média de remuneração, sem determinar em que medida isso se daria. A sociedade civil exigiu a equalização da média salarial, inclusive, como uma determinação de justiça. Saiu-se vencedora.

Se há muitos méritos no texto do PNE que vai a voto, graças à incidência da comunidade educacional que soube convencer os parlamentares até aqui, há alguns problemas graves a serem corrigidos em plenário.

Lista de problemas

O primeiro é a contabilização de parcerias público-privadas na meta dos 10% do PIB para a educação pública. O Estado brasileiro, por uma história de omissão, necessita hoje das matrículas ofertadas por creches e pré-escolas conveniadas, além das vagas em estabelecimentos de ensino técnico e superior privados. Contudo, é preciso deixar claro: todas essas matrículas não são públicas.

Embora alguns setores fiquem contrariados com o fato, público é sinônimo de estatal no Brasil por muitos motivos. O mais relevante é que as entidades privadas firmam parceria com o poder público, o que inclui a segurança do pagamento estatal, mas não aceitam se submeter ao controle social e às mesmas regras impostas aos equipamentos de educação infantil, ensino técnico e superior mantidos pelos governos. Aceitam os recursos, mas recusam as obrigações. Inexplicavelmente, isso tem sido aceito pelo poder público e pela sociedade brasileira.

Há ainda questões técnicas. O Fies é empréstimo, não pode ser contabilizado como custo equivalente a manutenção de matrículas, pois é esperado que o dinheiro emprestado retorne aos cofres públicos. O Prouni é renúncia fiscal, também não é correto que seja contabilizado, pois é um dinheiro que deixou de ser arrecadado, não investido.

Outra contradição foi a reinserção na Comissão Especial da estratégia 7.36, que estimula a remuneração de professores por resultados. Essa política salarial tem sido revogada ao redor do mundo. Os países anglo-saxões, idealizadores da medida, já perceberam que a razão mercantil é distinta da razão pedagógica, ou seja, aquilo que funciona para a produtividade empresarial não dá certo para o ensino e a aprendizagem em sala de aula.

Aos poucos, o mundo ocidental percebe que o segredo é seguir os escandinavos: o magistério exige uma boa política de carreira, iniciada por uma boa remuneração inicial e animada pela formação continuada, além das boas condições de trabalho aos profissionais da educação.

Por último, o fundamentalismo religioso não permitiu que o PNE se dedicasse, prioritariamente, ao combate às discriminações racial, de gênero e de orientação sexual, sem desconsiderar as demais. Andando pelo Brasil, percebo que a onda conservadora (no âmbito moral) está virando um tsunami. O texto do PNE é mais vítima desse fenômeno.

Há outros equívocos no PNE, mas os três que citei podem ser corrigidos no plenário, por meio de destaques. No caso dos demais, não há mais o que fazer no âmbito do Parlamento. É o caso, por exemplo, da equivocada redação da Meta 4, que trata da educação especial (primordialmente, para pessoas com deficiência), mas não na abordagem da educação inclusiva.

O PNE que irá para sanção não será perfeito, mas a sociedade civil e os parlamentares não podem abdicar de  eixa-lo o melhor possível para a consagração do direito à educação. Em um ano eleitoral, aprimorar o PNE no plenário será uma operação difícil, mas insistir é necessário.

 

* É coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação

Publicado originalmente no portal Uol Educação

Multinacional do ensino abocanha lucro exorbitante com aporte público

A Kroton, controlada pelo grupo Advent Internacional, anunciou um crescimento do seu lucro bruto de 46,3% este ano. Programas do governo federal como Fies e ProUni alimentam o lucro sem riscos e sem compromisso com ensino de qualidade dos grupos estrangeiros.

 

O grupo Kroton, que aguarda aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para fusão com o grupo Anhanguera para então se tornar o maior conglomerado de educação no país, com mais de um milhão de matrículas nas mãos de grupos de investimento estrangeiro, registrou, sozinho, no primeiro trimestre deste ano, receita líquida de R$ 674 milhões, com alta de 34,9% em relação ao mesmo período de 2013, segundo balanço divulgado pela multinacional na segunda-feira (5).
 
A Kroton, controlada pelo grupo Advent Internacional, anunciou um crescimento do lucro bruto de 46,3%, ou R$ 454,99 este ano.
 
A compra de universidades pelo grupos de investimento estrangeiro se tornou um investimento sem risco, com lucro certo e inadimplência nula, visto que boa parte das matrículas são feitas pelo Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) – pelo qual o governo federal paga a faculdade e o aluno tem 18 meses para começar a devolver o dinheiro investido a longo prazo – e pelo Universidade para Todos (ProUni), cujos valores das bolsas de estudos as instituições abatem de seus impostos. No caso da Anhanguera, 40% das matrículas novas são a partir do Fies.
 
Como força motriz dos investimentos públicos do Governo Dilma Rousseff, programas como o Fies e o ProUni deram a Kroton (não considerando a fusão com a Anhanguera neste caso) 201,9 mil novas matrículas em graduações no 1º trimestre deste ano, representando um aumento de 15,1% ante o mesmo período do ano anterior. Em termos de rematrículas, os registros atingiram 390,2 mil alunos na graduação durante o 1º trimestre, alta de 29,7%.
 
O número de alunos de ensino superior (graduação e pós-graduação) atingiu a marca de 635 mil ao fim do primeiro trimestre, considerando as modalidades presencial e de ensino a distância (EAD), um crescimento de 22,3% frente a 2013.
 
Entre os negócios, a graduação encerrou o trimestre representando uma participação de 93,3% do número total de alunos de ensino superior, enquanto a pós-graduação foi responsável por 6,7% da base total de alunos.
 
À medida que esses grupos seguem a lógica do mercado financeiro, a preocupação com ensino de qualidade é zero. Contratação de professores pouco qualificados, aumento desenfreado do ensino à distância, ausência de laboratórios e nenhum projeto de pesquisa são algumas das suas especialidades. Além do papel estratégico da educação para o desenvolvimento do país e os direitos de estudantes e trabalhadores, que são substituídos pela busca por lucro.
 
Um exemplo dessas medidas praticadas tanto pela Kroton, como pela Anhanguera, é a oferta de 1/3 da grade curricular de todos os cursos em disciplinas on-line, além de cursos inteiramente à distância. Apesar de se orgulharem por terem um método de ensino onde os alunos “podem estudar em qualquer lugar”, a modalidade EAD é um sério agravante na qualidade da formação dos profissionais. A meta é que com a fusão, o grupo abra mais 225 pólos EAD.
 
Essas economias, no entanto, não são repassadas na hora da cobrança das mensalidades, provocando um número cada vez maior de evasão.
 
Segundo estudo da Campanha Nacional Pelo Direito a Educação, “as instituições de ensino superior credenciadas pelo Ministério da Educação para receber recursos do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) vêm reajustando as mensalidades bem acima dos aumentos promovidos pelas universidades que não contam com essa linha de crédito. Em média, essa diferença tem girado em torno de 2,5% ao ano. Mas há cursos, como os de medicina, em que o aumento adicional chega a 9,3%. Ou seja, os alunos estão se endividando para pagar cursos cada vez mais caros”.
 
O coordenador-geral da Campanha, Daniel Cara, é enfático quanto se refere ao Fies. “O setor privado vê no Fies o caminho para expandir as matrículas, uma vez que o governo não regula os custos e não se preocupa com a qualidade do ensino ofertado. A regulação é frágil.”.
 
Para ele, os reajustes exagerados das mensalidades deveriam ser monitorados com maior precisão pelo Ministério da Educação, de forma a evitar distorções. “É uma questão social. O aluno se endivida muito e corre sempre o risco de acabar entrando no mercado de trabalho por meio de vagas com baixas remunerações e fora da área para a qual estudou. Muitas vezes, isso acontece por causa da formação ruim, por um diploma desvalorizado. É um círculo vicioso”, diz.
 
Além da Kroton e Anhanguera, outros grupos multinacionais estão presentes na educação privada brasileira, condicionando cerca de 1,5 milhão de estudantes à essa situação. São exemplos a Estácio, grupo que possui 330 mil matrículas e é administrada pelo GP Investments; e a Laureate, com cerca de 200 mil alunos e controlada pelo KKR. Esses gigantes já superam as matrículas em universidades federais, que em 2012 atingiram 1,03 milhão de vagas.
 
Fonte: Hora do Povo

Para movimentos educacionais e estudantis, PNE que segue para apreciação na Câmara é golpe na educação pública

A Comissão Especial criada para analisar o PNE (Plano Nacional de Educação) no Congresso Nacional concluiu a votação da matéria vinda do senado nesta terça-feira (6), que segue agora para apreciação do plenário.
O texto aprovado não é o defendido pelos movimentos educacionais, estudantis, e sociais. Se destacam entre os retrocessos do texto, o reconhecimento como investimento em educação pública recursos destinados a instituições privadas, a inclusão da remuneração por mérito e a exclusão da questão de gênero.
Segundo a redação aprovada, fica mantido o parágrafo 4º do artigo 5º que considera que o investimento público em educação “engloba os recursos aplicados na forma do art. 212 da Constituição Federal e do art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, bem como os recursos aplicados nos programas de expansão da educação profissional e superior, inclusive na forma de incentivo e isenção fiscal, as bolsas de estudos concedidas no Brasil e no exterior, os subsídios concedidos em programas de financiamento estudantil e o financiamento de creches, pré-escolas e de educação especial”. Ou seja, caso mantido o texto, constará como “investimento público em educação”, a concessão de bolsas de ensino na rede privada, assim como os programas Prouni, Fies, Pronatec.
Para a secretária-geral da União Nacional dos Estudantes, Iara Cassano, “o texto aprovado na Comissão Especial da Câmara dos Deputados representa um golpe do governo na educação pública. Não é possível admitir como investimento público, investimento em instituições de ensino privadas. A sanha entreguista do governo Dilma Rousseff quer nos fazer engolir goela abaixo uma educação sem qualidade e compromisso com o país. Precisamos garantir no Plenário da Câmara que o parágrafo 4º do artigo 5º seja suprimido do projeto e assim garantir um PNE onde os 10% do PIB da verba pública seja para educação pública”.
A Campanha Nacional Pelo Direito à Educação destacou que “é grande a mobilização de entidades e organizações da sociedade civil para reverter as perdas que o texto sofreu durante a tramitação na Comissão Especial”. Segundo Daniel Cara, coordenador-geral da Campanha, “no plenário, vamos trabalhar para evitar retrocessos e corrigir alguns equívocos aprovados na Comissão Especial”, afirmou.
Ficou então para o plenário da Câmara garantir que a manobra orquestrada pelo governo federal para manter como principal meio de financiamento da educação a injeção de recursos públicos no setor privado não seja aprovada. Durante os debates para votação do projeto até ligações do ministro da Educação, Henrique Paim, pressionando os deputados da base governista a votar a favor do texto privatista foram medidas adotas pelo governo.
 
Fonte: Hora do Povo

A quem interessa a legalização da maconha?

Dr. SÉRGIO DE PAULA RAMOS*
 
No memorável poema “Morte e vida severina” o poeta João Cabral de Melo Neto coloca na boca do mestre Carpina o verso “difícil defender, só com palavras, a vida”. Lembrei-me dele ao ler o discurso feito, na última assembleia geral da ONU, pelo Presidente do Uruguai, José Mujica. Trata-se de uma bela peça de oratória que foi muito elogiada, inclusive por amigos meus.
Menos badalado foi o encontro que Mujica teve, na véspera de seu discurso, com o megainvestidor George Soros. O motivo do encontro, pelo que li, na ocasião, nos periódicos uruguaios, foi para discutirem a política sobre drogas que o Presidente acaba de implantar no país vizinho.
No discurso fez um alerta contra o consumismo, na entrevista, aparentemente não se preocupou que o consumo, ao menos de maconha, aumentará no Uruguai, apesar de 63% da opinião pública ser contra.
Terminada a entrevista o megainvestidor elogiou a coragem de Mujica de “fazer do Uruguai um laboratório para o mundo”. E, acrescento eu, dos uruguaios, cobaias.
Neste grande debate internacional sobre diferentes formas de liberar a maconha está ficando cada vez mais claro quem são os protagonistas. De um lado, os profissionais da saúde a alertar que em todas as experiências internacionais ocorridas até agora houve aumento de consumo da droga. A ABEAD (Associação brasileira de estudos sobre o álcool e outras drogas), em boa hora, dedicou-se ao tema e evidenciou que isso ocorreu em Portugal, Reino Unido, Austrália, Holanda e nos Estados Norte-americanos que adotaram posturas liberalizantes. Do outro lado, além de usuários e de alguns defensores do “Direito de se drogar”, os demais protagonistas são porta vozes de interesses econômicos, seja de megainvestidores que vislumbram no negócio da maconha uma nova oportunidade de ganhar dinheiro, sejam empresas estabelecidas que já detém conhecimento na exploração de outro tipo de cigarro.
Portanto, não me parece que estejamos frente a um debate romântico intelectual sobre direitos, mas sim se somos a favor ou contra que o capitalismo selvagem passe a explorar este novo negócio mesmo que em detrimento da saúde da população. Afinal, há um século, a indústria do tabaco anunciava que cigarro fazia bem para a garganta e para afecções pulmonares como bronquites e asma. Agora se diz que maconha faz bem para determinadas doenças!
É mesmo difícil defender, só com palavras, a vida.
 
*Psiquiatra e psicanalista, Doutor em medicina pela UNIFESP, membro do Conselho Consultivo da ABEA. Coordenador técnico da Villa Janus.
 
Fonte: Hora do Povo