Estrella: gestão de reservas de Libra deveria ser exclusiva do Estado

As reservas de Libra são estratégicas e o Estado deveria ter contratado a Petrobras (que as descobriu) para operá-las em 100%. A opinião é de Guilherme Estrella, 71, considerado o “pai do Pré-Sal” (ele não gosta dessa denominação, pois diz que o mérito é de uma equipe).

Ex-diretor de Exploração e Produção da Petrobras, o geólogo que mapeou a megareserva faz críticas ao leilão realizado há uma semana e alerta para problemas no interior do consórcio que vai extrair o petróleo (Petrobras, a anglo-holandesa Shell, a francesa Total e duas estatais chinesas).

Para ele, as grandes empresas petrolíferas mundiais, inclusive a Petrobras, representam e defendem os interesses de seus países. “Energia é fator crítico da soberania e do desenvolvimento de qualquer país. Há, portanto, um potencial conflito de interesses geopolíticos absolutamente inerente à presença de estrangeiros numa gigantesca reserva petrolífera como é Libra. Se vai eclodir, não sei. Mas que está lá, está.”, afirma.

Nessa entrevista, concedida por e-mail, ele fala da descoberta do Pré-Sal, de desafios tecnológicos e expõe suas dúvidas sobre a exploração do xisto nos EUA.

 

Folha – Por que o sr. foi contrário ao leilão de Libra?

Guilherme Estrella – As minhas críticas concentraram-se no aspecto estratégico para o Brasil. Trata-se de gigantesco volume de petróleo, agora compartilhado com sócios que representam interesses estrangeiros –de potências estrangeiras–, sobre cujo alinhamento com o posicionamento geopolítico de um país emergente da importância do Brasil não temos a menor garantia.

A Petrobras, que mapeou a estrutura de Libra e perfurou o poço descobridor, como empresa controlada pelo Estado brasileiro, deveria ter sido contratada diretamente, como permite o marco do Pré-Sal. Aliás, a inclusão desta alternativa teve como causa a eventualidade de se tratar com reservas cujas dimensões tivessem valor estratégico para o Brasil, e este é inquestionavelmente o caso de Libra.

 

O leilão foi um erro estratégico? Foi lesivo ao país?

Não afirmo que tenha sido um erro estratégico, tampouco que tenha lesado os interesses do país. O que defendo é que a decisão do governo em fazer o leilão de Libra, em vez de contratar diretamente a Petrobrás, como prevê o marco justamente para situações excepcionais –como é Libra–, deveria ter sido discutida com a sociedade e também com a base de apoio do governo no Congresso Nacional.

Nesta discussão, todos os motivos que suportam a decisão do governo seriam conhecidos e a discussão poderia levar a um consenso ou não, caso em que o governo tomaria sua decisão, conforme lhe garante a lei.

Como isto não aconteceu, com os dados e informações que estão disponíveis, construo minha opinião, que é a mesma de muitos outros cidadãos brasileiros: de que, concretamente, a contratação direta da Petrobrás para desenvolver e produzir Libra seria a melhor estratégia brasileira, diante do papel destinado ao Brasil no cenário geopolítico e energético mundial ao longo, no mínimo, desta primeira metade do século 21.

 

A Petrobras poderia operar sozinha?

A própria presidente da companhia afirmou que a Petrobras tinha o maior interesse em operar Libra sozinha, mas que só poderia iniciar os trabalhos em 2015. 2015 é amanhã. Não subsiste, portanto, o argumento de que leiloar Libra agora seria para antecipar a produção. Não aflora qualquer razão para que esta não tenha sido a decisão do governo, pelo menos que tenha sido explicada publicamente ao povo brasileiro.

Sobre o percentual mínimo estabelecido no edital para a parte do Estado brasileiro –menos que 42%– não posso me pronunciar, pois o governo, também aqui, não deu qualquer informação sobre a racionalidade econômica que existiu por trás deste número.

Acusar de xenofobia aqueles que defendem esta opinião é injusto, equivocado e apequenador da dimensão estratégica do assunto em debate. Seria equivalente a acusar este governo de centralizador e arrogante, disposto a exercer um direito político –ainda que legal– de decidir questões desta magnitude de forma monocrática, sem ouvir, no mínimo, suas bases de apoio organizadas na sociedade. O que, certamente, não é o caso do atual governo, como todos sabemos.

 

Por que o governo tirou da Petrobras a possibilidade de operar sozinha no Pré-Sal? Só a questão do superávit primário explica esse movimento?

Será que podemos priorizar exigências financeiras momentâneas com aspectos econômicos e políticos da estratégia geopolítica brasileira ao longo deste século 21? Esse é o ponto e acho que deveria ter sido discutido com a sociedade.

 

A revista alemã “Der Spiegel” disse que o Brasil leiloou um tesouro por uma pechincha. O sr. concorda?

Não conheço a racionalidade econômico-financeira que levou aos 41,65%. Fantástico. Como geólogo não consigo entender como chegaram a esta precisão! Não posso opinar. Como disse, não tenho informações sobre a racionalidade econômica que desaguou neste super preciso percentual de 41,65%. Não é 41,64 nem 41,66, é 41,65 cravados!

 

O sr. considera inapropriado ter sócios estrangeiros na exploração do Pré-Sal?

Em momento algum sugeri que ter sócios estrangeiros no Pré-Sal é “inapropriado”. O que argumento é que, em se tratando de uma imensa riqueza estratégica concentrada (em Libra) de um produto de tal forma fundamental e sensível para o mundo –e principalmente para as nações hegemônicas mundiais dele dependentes– a sociedade brasileira tem o dever de discutir a conveniência de tê-las como sócios.

Ninguém desconhece que as grandes empresas petrolíferas mundiais, inclusive a Petrobras, representam e defendem os interesses de seus países-sedes, nos países onde atuam. E neste ponto não se diferenciam empresas estatais ou privadas.

 

O sr. acha que essa decisão sobre libra é danosa à soberania brasileira?

Não acho que a soberania brasileira tenha sido afetada.

Apenas levanto a possibilidade de enfrentarmos dificuldades, no futuro, caso haja qualquer divergência –ou até mesmo conflito– entre interesses geopolíticos brasileiros e aqueles dos países representados no consórcio de Libra –todos protagonistas importantes no cenário mundial hoje e ao longo deste século 21– por suas respectivas empresas.

Estas dificuldades –ainda que no campo das possibilidades– estariam inteiramente evitadas, não ocorreriam de maneira alguma se Libra estivesse sob gestão exclusiva –100% do petróleo produzido– do Estado brasileiro através da contratação direta da Petrobras para desenvolver e produzir Libra.

 

Por que Libra é estratégico?

O caráter estratégico das reservas petrolíferas é inquestionável, como todos sabem. Não se invadem e ocupam militarmente países soberanos para apropriação de refinarias. É possível construir uma refinaria em qualquer lugar do planeta, mas as grandes reservas de óleo e gás estão onde as condições geológicas assim o determinaram. O pessoal da Argélia, do Iraque, da Nigéria, da Líbia, do Egito sabe disto na pele.

O Sudão do Sul foi “fundado” por causa disto. As monarquias medievais, absolutistas e repressoras da Península Arábica são mantidas pelo mesmo motivo: assegurar reservas de petróleo e gás natural às grandes potências hegemônicas ocidentais. Não se está a ver fantasmas! Esta é a realidade fática da geopolítica mundial, escancarada e desavergonhadamente exibida nas últimas três décadas por meio de ações políticas e militares por parte dos países centrais ocidentais. Não há como desconhecer esses fatos.

 

Seu alerta está relacionado aos interesses divergentes entre produtores e consumidores de petróleo presentes no consórcio? Produzir mais rápido e deprimir preços ou produzir de acordo com visão estratégica, sem derrubar preços? O que seria melhor para o Brasil?

A turma de topo da Opep controla o preço, mas não tem soberania, autonomia, independência para sustar o suprimento. Simplesmente porque interesses divergentes entre grandes produtores e grandes consumidores não conflitam por causa do preço do barril, mas pelo compromisso dos produtores em suprir incondicionalmente os volumes exigidos pelas economias hegemônicas representadas pelos grandes consumidores.

Gente que estudou o assunto afirma que o barril de petróleo do Oriente Médio sai a mais de US$ 300 para a UE e para os EUA, na condição “all in” dos custos de manutenção militar do status quo daquela região para barrar, pelas armas, qualquer iniciativa que tenda a mudar o quadro atual.

O Brasil é um país diferenciado. De dimensões continentais, privilegiado em riquezas naturais, único em integridade nacional (uma só língua, cultura diversa, mas coesa etc.). Temos reservado um papel de protagonista geopolítico mundial igualmente diferenciado e socialmente muito positivo neste século 21.

De uma hora para outra, este país aparece como uma potência energética, cujas reservas potenciais, em processo acelerado de comprovação, de petróleo e gás natural impactam o quadro energético mundial. Tudo indica que irão contrabalançar, junto com a costa oeste africana o peso do Oriente Médio, a médio e longo prazos, para suprir EUA e UE.

Isso nos obriga, como país soberano, a nos prepararmos para assumir esse papel _de não mais coadjuvante, mas de protagonismo mundial diante desta muitíssimo sensível realidade. A quarta frota [dos EUA] está aí, ressuscitada não por outro motivo.

Este é o quadro já presente, materializado. E se tornará mais agudo ao longo deste século 21.

Dentro deste contexto, não seria mais conveniente que um imensa acumulação de petróleo, como Libra, ficasse 100% nas mãos do Estado brasileiro, com o poder de gerenciar tudo o que lhe concerne sem qualquer ingerência de interesses estrangeiros, quaisquer que os sejam? Isso é permitido no marco do Pré-Sal, quando abre a possibilidade de contratação direta da Petrobras, cláusula aprovada exatamente para situações, como essa de Libra, absolutamente diferenciadas sob o ponto de vista geopolítico mundial. Ainda mais a 300 quilômetros da costa, nas proximidades dos limites territoriais marítimos nacionais, ainda em processo de aceitação pela ONU.

 

Quando o sr. fala dos custos reais para os EUA e UE do petróleo saudita, de quanto seria o custo no pré-sal comparativamente?

Os custos totais de produção do pré-sal –que chamamos de CTPP– estão muito abaixo dos atuais valores internacionais do barril, mas trabalhamos duro e ininterruptamente para reduzí-los. Não só por melhoria contínua nos processos de produção, mas fazendo esforço de desenvolver inovações tecnológicas que visem este objetivo.

 

O que cada um dos sócios da Petrobras busca nessa associação?

Os sócios se interessam, essencialmente, por assegurar suas respectivas partes em óleo produzido. No caso dos chineses para suprir prioritariamente seu mercado nacional, ávido de energia para sustentar o crescimento extraordinário da economia chinesa ao longo da primeira metade deste século, pelo menos. Shell e Total também, mas são já globalizadas e com mercados muito distribuídos além do europeu.

 

Sobre esses possíveis conflitos de interesses dentro do consórcio, o sr. diria que o Brasil (e a Petrobras) caíram em uma espécie de armadilha?

A participação da PPSA nos consórcios, com poder de veto, consta do texto do marco justamente para que todo o processo, desde a construção do Acordo de Operação Conjunta até as atividades operacionais propriamente ditas, seja controlado pelo governo brasileiro.
Portanto, não há “armadilhas” no modelo de partilha adotado pelo Brasil. O governo brasileiro tem total controle de tudo.

 

Como seriam essas divisões internas? França e China do lado de consumidores, querendo acelerar a produção? Que mais? Como elas se podem contrapor à Petrobras e ao interesse brasileiro?

A simples presença de interesses estrangeiros –por meio da participação de suas empresas petrolíferas no consórcio de Libra– pode, em tese, gerar conflitos. Se estivéssemos tratando de um processo industrial de uma commodity comum, periférica, qualquer problema poderia ser facilmente resolvido.

Esse é o ponto central de minha opinião. Energia, especialmente petróleo e gás natural, é fator crítico da soberania e do desenvolvimento econômico, social, científico e tecnológico de qualquer país. Mormente daqueles que são protagonistas hegemônicos da cena mundial e daqueles outros que, por sua magnitude e seu potencial de riquezas naturais, de todos os tipos, como o Brasil, se candidatam para igualmente atuar como protagonistas mundiais e não mais como simples coadjuvantes, periféricos. Só esta realidade, em sua essência geopolítica, já é conflituosa. Lembremo-nos do [Henry] Kissinger, que disse mais ou menos isso : “Os EUA têm que se preocupar é com aquele gigante lá no Sul que, quando se levantar, vai dar um trabalhão danado para ser controlado”.

Há, portanto, um potencial conflito de interesses geopolíticos absolutamente inerente à presença de estrangeiros numa gigantesca reserva petrolífera como é Libra. Se vai eclodir, não sei. Mas que está lá, está. Esse é o ponto!

A China quer aprender a operar em águas profundas?

Pode ser que haja interesse na obtenção de conhecimento de engenharia de projeto e operacional para produzir em águas ultraprofundas. É muito importante, mas não é o essencial.


O Brasil não deveria proteger essa tecnologia?

Proteger tecnologia no mundo atual não é o foco das grandes empresas petrolíferas. O esforço maior, concretamente falando, é assegurar a condução das operações –serem operadoras. Porque é na operação, no dia-a-dia, na vivência com as broncas e dificuldades que ocorrem na frente operacional que consiste o real valor do aprendizado contínuo– de engenharia e pragmático (isto é que é, no final das contas, tecnologia) –que vai permitir a permanente e contínua inovação, advinda de novos conhecimentos e, em decorrência, de novos projetos e novos processos. Operar, principalmente numa ambiência de certa forma nova, onde o conhecimento científico e de engenharia e a competência operacional concentram-se em muito poucas empresas–como no Pré-Sal brasileiro –materializa-se numa inexcedível vantagem competitiva para as empresas petrolíferas. E não foi por outro motivo que a exclusividade da operação pela Petrobras, estabelecida no texto do marco do Pré-Sal, foi –e é!– tão combatida por aqueles que, de certa forma, refletem os interesses das empresas estrangeiras, contrariados em aspecto essencialmente estratégico sob o ponto de vista da indústria.

No caso específico do Pré-Sal, este trabalho ininterrupto de obtenção/geração de novos conhecimentos e de inovação permanente foca, principalmente em dois pontos centrais: diminuição de custos e contínuo atendimento aos pressupostos da segurança operacional. Quer dizer, no geral, não há qualquer salto tecnológico necessário para produzir o Pré-Sal, como aliás é comprovado pela já significativa produção da Petrobras.

 

Por que as norte-americanas saltaram fora?

Com meus quase 50 anos “sujando” as mãos de óleo, fico desconcertado quando não consigo construir uma convicção sobre qualquer assunto relacionado ao setor petrolífero, tão rico em suas características, as mais variadas possíveis –políticas, econômicas, científicas, tecnológicas, sociais, militares e outras mais. Pois bem, sinto-me desconcertado com a ausência da Exxon e da Chevron. O que penso são ainda especulações. Por exemplo. Correu há algum tempo, por volta de 2010, 2011, no setor petrolífero mundial, que a Exxon conseguiu do governo angolano mais do que a Petrobras com o novo marco, com respeito à exclusividade das operações.

Obteve um acordo de “preferência” com os angolanos, tendo o direito de decidir se vai ou não operar qualquer descoberta no pré-sal daquele país, independentemente de que empresa que a tenha realizado. Sua ausência no leilão de Libra poderia ter algo a ver com isto? Ou não seria ao contrário, fazer parte da produção no Brasil não poderia ser um grande aprendizado para ajudar no exercício do privilégio de aceitar ou não a operação em certas descobertas em Angola?

Acho que a Chevron está na base do “gato escaldado tem medo de água fria”. A pancada que tomaram em Frade [vazamento de 3,7 mil barris de óleo em 2011] repercutiu com extrema dramaticidade na companhia, que é muito séria e competente _sou testemunha pessoal disso. Talvez tenham erroneamente superestimado os riscos operacionais, todos inteiramente mapeados e neutralizados pela Petrobras com a participação, naturalmente, dos parceiros que com ela produzem do Pré-Sal há mais de dois anos. E isto é, a cada dia que passa, mais concreto e consistente.

 

Alguns ligam a ausência das norte-americanas aos investimentos no xisto. Qual sua visão sobre o xisto? É uma revolução energética?

Coloco “xisto” entre aspas. A tradução de “shale” é folhelho, termo geológico que é até difícil de falar já que encadeia dois fonemas “lh”. Folhelho é uma rocha composta por grãos infinitamente pequenos de argila e, por isso, com permeabilidade quase zero. No caso, o gás está nos microporos, entre os grãos de argila e não sai de lá. Para sair tem que quebrar o pacote rochoso de folhelho, fraturar em gigantescas operações de injeção de água, utilizada como fluído de fraturamento.

Este assunto dá um livro. Mas há fatos inquestionáveis.

1. As reservas potenciais são, realmente, muito grandes. 2. Os poços exaurem-se muito rapidamente, não duram meses. 3. Perfuram-se milhares de poços, em áreas rurais e nas cercanias de cidades do meio-oeste americano. Como os poços duram muito pouco, a atividade de perfuração é frenética, descontrolada. Exige infraestrutura de suprimento de grandes dimensões, com grandes impactos sociais nas comunidades antes bucólicas e ultraconservadoras do interior americano. 4. O uso de água é gigantesco; já há casos de esgotamento de lençóis freáticos e falta de água nas cidades. Alguns Estados já proibiram as atividades.

5. O fluído de fraturamento contém produtos químicos altamente agressivos e tem sido comum a poluição de aquíferos potáveis por estes agentes químicos, interrompendo sua utilização para o homem e para a pecuária. 6. As reservas de gás, como sempre acontece, esgotam-se rapidamente e existem, também como sempre, as incertezas geológicas coladas às atividades de exploração e produção. Especialmente quanto às reservas de gás não provadas, como é o caso, os níveis de imprevisibilidade são elevados e surpresas negativas são prováveis de acontecer. É preciso ter cuidado nas extrapolações. 7. Em razão do baixo preço do gás, e do colapso causado pela enorme oferta em pouquíssimo tempo, milhares de sondas já se mobilizam para perfurar para óleo, cujo preço, ainda nos US$ 100 por barril, garante lucros muito mais significativos.

O governo norte-americano, com a prudência necessária, mantém a proibição de exportação de petróleo por empresas que supriam mercados com líquidos que agora foram inteiramente substituídos pelo gás. Micaram com o óleo e apelaram ao governo para que suspendesse a proibição. Sem sucesso.
Resumo da ópera do “shale gas”: tem que dar tempo ao tempo.

 

A presidente nega que tenha havido uma “privatização”. Houve? Por quê?

Privatização. Não houve, no sentido estrito do termo. Mas, de qualquer maneira, seria muito menor se a Petrobras fosse contratada diretamente para desenvolver o campo.

 

A Petrobras precisa de um reajuste logo no combustível para viabilizar os seus investimentos? O que de exato existe nessa discussão sobre preços?

A Presidente da Companhia afirma e reafirma que não haverá a necessidade de reajuste de preços para enfrentar os gastos com o bônus de Libra. Esse assunto de reajuste de combustíveis é hilário.

A Petrobras fez 60 anos. Desde então, a Petrobras é além de uma empresa “do” governo, uma empresa “de” governo de qualquer governo e não poderia ser diferente tal a importância econômica que a empresa exerce no ambiente brasileiro. E isso parece um verdadeiro “tabu”. Todo mundo sabe o que acontece na vida real e faz tremendo esforço em afirmar que “não! A diretoria da Petrobras é independente, tem total autonomia para definir os preços dos combustíveis… E a turma da oposição qualquer oposição, a todos os governos fica a acusar incansavelmente o governo de “utilizar a gestão da Petrobrás na condução de sua política econômica”.

 

Também se fala que a Petrobras deveria reduzir a exigência de nacionalização. Isso não seria ruim para o país?

Conteúdo nacional. Aqui você toca num tema decididamente crítico para o desenvolvimento científico, tecnológico e econômico do Brasil.
Começo com uma história.
Descia eu pela Rua Aperana, aqui no Leblon, onde morava quando exerci a maior parte do período de diretor da Petrobras, quando encontrei um antigo colega de superintendência da companhia, quando eu era o superintendente do Cenpes. Era o engenheiro Carlos Aguiar, então superintendente da Área de Materiais da Petrobrás, homem ligado ao desenvolvimento de fornecedores brasileiros para substituir material importado.

O tempo era o da construção no Brasil das plataformas de produção, extraordinário programa do governo Lula para não só abrir milhares de empregos no país como para ressuscitar a indústria naval brasileira apoiada nos projetos de produção da Petrobras.

O Aguiar me disse uma frase que me acompanhou por todo o longo –9 anos– tempo em que exerci a diretoria de Exploração e Produção da companhia: “Estrella, vamos construir no Brasil, tudo bem. Mas não podemos deixar que o “conteúdo nacional” seja acéfalo!”.

Esta foi uma luta que o grupo de profissionais e gerentes da Petrobras, com o qual tive a honra de trabalhar, empreendeu no sentido de criar condições para que empresas genuinamente brasileiras se incorporassem ao esforço nacional de “construir no Brasil tudo o que puder ser construído no Brasil”.

O processo de desenvolvimento tecnológico começa com saber operar as máquinas importadas. Meu pai contava que o Roberto Marinho, na década de 1930, importou rotativas alemãs para modernizar o parque impressor de “O Globo”. Instalou as máquinas e chamou o Getúlio [Vargas] para o momento solene de acioná-las pela primeira vez. O Getúlio “pam” empurrou a alavanca e… nada aconteceu. Estabeleceu-se um clima de desconforto com o presidente da República, que foi solicitado a repetir o gesto, objeto das inúmeras lâmpadas de “flash” dos repórteres presentes. “Pam” novamente e… nada novamente. Mui polidamente, Roberto Marinho pediu desculpas e transferiu a solenidade. Após isso, reuniu-se com a equipe técnica de “O Globo” para saber o que ocorrera. Ninguém sabia. Disseram apenas que tinham montado a engenhoca “by the book”, como dizem os engenheiros, de acordo com o manual. Não houve jeito. Chamaram um alemão, que veio de Zeppelin, numa milionária viagem de uma semana, pois de navio demoraria três meses. O alemão chegou, olhou, pensou não mais que um minuto e disse algo naquela língua centro-européia bárbara, de fora das longínquas fronteiras do Império Romano, que o intérprete balbuciou : “Uma chave-de-fenda, por favor”.

Rapidamente atendido, colocou a chave num pequeno parafuso, girou meia volta e ordenou, segundo o intérprete : “Liguem a rotativa”. Um engenheiro brasileiro pegou a alavanca antes inservível e “pam”: a rotativa ronronou e começou a trabalhar, sem qualquer problema. Lição: não sabíamos sequer operar uma máquina de primeira geração tecnológica.

O final do ciclo é saber projetar as máquinas que operam no sistema industrial em que se atua. No meio, está a etapa da construção dessas máquinas. Se ainda não construímos no Brasil, temos que fazê-lo. Mas –isso é indispensável– gerenciar o processo de modo que, no mais curto prazo de tempo, adquiramos a competência em engenharia, nas empresas e na academia brasileiras para projetar máquinas ainda mais avançadas, inovações em relação ao que hoje se considera o limite da tecnologia. Se esta etapa não acontecer, muito pouco foi conseguido em termos de autonomia de decisão quanto à escolha e aplicação da tecnologia que melhor nos servirá para resolvermos nossos próprios problemas.

Continuaremos a ser o “chão de fábrica” _muitíssimo importante, mas não suficiente para um Brasil efetivamente soberano e autônomo no concerto mundial das nações desenvolvidas. A verdadeira inteligência, a competência técnico-científica continuará a vir de fora. Não precisamos chamar o “alemão” para botar a máquina em funcionamento ou até repará-la em caso de pane. Mas se quisermos substituí-la por uma mais moderna, será o “alemão” quem a projetará e nos venderá o projeto se assim o governo de seu país autorizar a empresa da máquina a fazê-lo.

A traduzir este desafio, temos a definição do século 21 como o século da “economia do conhecimento” e a imagem de desenvolvimento tecnológico: ” É como subir uma escada rolante pela faixa de descida : se parar, desce”.

Esse foi o recado do Aguiar. Tenho a plena consciência de que a equipe em que trabalhei fez o possível para avançarmos neste sentido. É importante que se registre a grande ajuda que tivemos do BNDES, da Finep, da Coppe no trabalho que desenvolvemos na Exploração e Produção e na Petrobrás como um todo. Criamos exigências contratuais para que as empresas estrangeiras que se instalassem no Brasil para construir máquinas e equipamentos, até então importados, a serem utilizados pela Petrobras, montassem equipes de engenharia de projetos na filial brasileira, para não ficarem na dependência de seus centros de tecnologia no exterior.

Para as empresas genuinamente brasileiras, trabalhamos para criar condições de financiamento e de assistência técnico-científica para que, não só adquirissem condições de competitividade, como consolidassem suas respectivas competências para a inovação e melhoria contínuas de seus processos produtivos, de modo a atender especificamente as exigências e necessidades das atividades operacionais da Petrobras.

Chegamos a iniciar um trabalho de tentar quebrar oligopólios tecnológicos mundiais para fabricar itens de tecnologias “sensíveis”–como turbinas– no Brasil.

Ainda com respeito à construção das plataformas no Brasil, fomos sempre muito criticados pelo fato de o custo brasileiro ser maior do que os de Cingapura, do Golfo Arábico e da China. E têm que ser. Sou pessoalmente testemunha das diferenças qualitativas entre as condições de trabalho oferecidas, por lei, aos trabalhadores. Não há comparação. Aqui no Brasil praticamos uma relação capital X trabalho muito mais avançada, muito mais ética e justa que em muitos lugares no exterior, onde é comum se construir em condições absolutamente inaceitáveis para o trabalhador brasileiro.

Se há exigência, muito saudável, de competitividade, vamos enfrentá-las. Mas em condições de igualdade de patamar na qualidade das relações capital X trabalho. E não competir com mão de obra quase escrava.

 

O que o sr. achou da criação da empresa que vai administrar o Pré-Sal?

A PPSA entra como uma parte imprescindível nos consórcios para contribuir na definição dos Acordos de Operações Conjuntas (sigla “JOA” em inglês), que é o documento básico que vai orientar as operações do consórcio e aprovar e auditar tecnicamente os custos destas operações para efeito de definir o que se chama de “óleo custo”, parcela de que os consórcios serão reembolsados.

 

Como fica a Petrobras depois desse leilão?

A Petrobras se desempenhará em patamares de excelência de sua função de operadora da cumulação de Libra. Foram as equipes de exploracionistas da Petrobras que mapearam a estrutura da gigantesca acumulação. Foi a Petrobras que construiu o primeiro poço descobridor de Libra. É a Petrobrás que detém, no mundo, as mais extensas competência e experiência para operar em águas ultraprofundas. É a Petrobrás, dentre todas as empresas petrolíferas mundiais que tratam do assunto, que possui o mais avançado conhecimento geocientífico das rochas-reservatórios do pré-sal (aspecto tecnicamente crítico e economicamente decisivo para o desenvolvimento da acumulação).

Enfim, como é reconhecido por todo o setor petrolífero mundial, é a empresa que detém as melhores condições para ser a operadora de Libra e do restante das acumulações que ainda serão descobertas na chamada “picanha azul” –designação que, pessoalmente, não gostei, mas isso é “ranzinzice” de minha parte.

 

O que é a “picanha azul”?

O mapa de contorno da área em que os exploracionistas da Petrobras circunscreveram a provável ocorrência dos reservatórios produtores do pré-sal, que vai de Vitória (ES) até Florianópolis (SC), no mar territorial brasileiro, tem grosseiramente o formato de uma picanha, peça de carne bovina por nós tão apreciada.
Coloriram o interior deste perímetro com a cor azul.
Daí surgiu o nome de “picanha azul”. Não foi escolha minha. Considero de gosto discutível esta analogia. Mas “pegou”, já estava consagrado e assim ficou.

 

A presidente traiu seu compromisso de campanha ao leiloar Libra, conforme muitos têm afirmado?

Não acho que a presidente Dilma esteja descumprindo seus compromissos de campanha. Os grandes e mais importantes itens sociais e econômicos das políticas inauguradas pelo presidente Lula em 2003, a ter como principais beneficiários as camadas mais carentes do povo brasileiro, têm sido perseguidos, com sucesso pelo governo Dilma e as pesquisas de opinião estão ai para não me desmentir.

 

Como petista, o sr. está frustrado?

Não estou frustrado como petista. Tenho consciência, vejo isto no dia-a-dia da vida dos brasileiros, de que os governos do Partido dos Trabalhadores desde 2003 transformaram o Brasil, tiraram da pobreza e da miséria dezenas de milhões de irmãos nossos e mudaram diametralmente a lógica de governar o país, tendo o povo como objeto central das ações de governo. E ninguém pode negar isto.

Isto não quer dizer que, como cidadão, tenha que concordar e defender todas as medidas e decisões que o governo do partido ao qual sou filiado venha a tomar.

 

Por que o sr. é tido como o “pai do Pré-Sal”?

Foi coisa da imprensa. Eu sempre rejeitei esta “alcunha”, que na verdade, para os que conhecem a atividade exploratória, é mesmo depreciativo, na medida em que exploração de petróleo e gás natural é trabalho de equipe, não tem essa de “eu descobri”.

A descoberta do pré-sal brasileiro resulta da competência das equipes de exploracionistas da Petrobras. São geólogos, geofísicos e outros profissionais que, desde a fundação da companhia e por ela intensamente treinados, tanto internamente quanto nas melhores universidades brasileiras e no exterior, trabalham na interpretação geológica das bacias sedimentares brasileiras.

Explorar petróleo e gás natural é, essencialmente, uma atividade de pesquisa científica que envolve custos altíssimos, mas que, tendo sucesso, garante um retorno ainda mais significativo.
Mas houve também um fator de política energética, igualmente importante.

Em 2003, por determinação do governo Lula, a Petrobras retomou os esforços para avançar pesadamente nas atividades de exploração e produção, de certa forma contidas no governo anterior, quando o monopólio foi quebrado. A companhia concentrava estas atividades na Bacia de Campos, grande produtora, já que outras bacias deveriam ser objeto de leilões de concessão.

A Petrobras detinha blocos em outras bacias, alguns na vizinha e gigantesca Bacia de Santos, de onde se produzia menos de 1 milhão de m3 de gás por dia no Campo de Merluza, antigo dos contratos de risco, descoberto pela Shell e operado pela Petrobras.

Atendendo à determinação do governo de expandir nossas atividades, deslocamos sondas da Bacia de Campos para a de Santos e as descobertas se sucederam: Mexilhão (descoberta importantíssima de gás natural na medida que enfrentávamos a dependência da importação da Bolívia) e os campos de óleo de Uruguá e Tambaú. Estas descobertas exibiram logo a grande potencialidade da Bacia de Santos, até então não materializada. Mas que existia, teoricamente, nas interpretações dos exploracionistas da companhia. Continuaram os investimentos exploratórios e, em 2006, descobrimos o pré-sal.

Resumo da ópera. Não há essa de “pai do pré-sal”, tampouco de pai de descoberta alguma nas atividades exploratórias de qualquer empresa petrolífera, resultante sempre do trabalho e da competência desta que costumo chamar de “estranha e complicada tribo dos geólogos”.

Aproveito para reforçar minha opinião sobre a decisão de leiloar Libra e não contratar diretamente a Petrobrás.
São fatos: a) Local: Bagdá, Iraque; b) Data: segundo semestre de 1977; c) Ocorrência: o gerente-geral e o gerente de exploração da Braspetro Iraque são convocados à sede da INOC (companhia estatal iraquiana de petróleo). Somos recebidos pelo diretor da INOC responsável pelos contratos de Exploração e Produção que o Iraque tinha com a Petrobras e com a Elf francesa.

O homem nos comunica, com certa solenidade: “O governo do Iraque determinou que lhes fosse comunicado que o contrato que temos com a Petrobras deverá ser cancelado. As negociações sobre isto devem iniciar-se tão logo quanto possível. Os senhores devem comunicar imediatamente essa decisão do governo do Iraque aos seus superiores no Brasil e solicitar que um representante do mais alto escalão de sua empresa, com poderes de negociar em nome dela, compareça a Bagdá para que se iniciem os trabalhos”.
Estupefatos, perguntamos a razão desta decisão, já que cumpríamos integralmente o contrato, sempre com as melhores relações com a INOC e com o governo iraquiano.

E o homem nos respondeu: “Senhores, a Petrobras descobriu um campo gigantesco (Majnoon), com dezenas de bilhões de barris de reserva, e que vai produzir mais de 1 milhão de barris por dia, a metade que o Iraque produz hoje. No momento, o Brasil e a Petrobras têm interesses estratégicos no setor petrolífero internacional que não conflitam com os interesses nacionais da república do Iraque. Mas isto é ‘no momento’. O cenário internacional, principalmente o da energia, se transforma constantemente. Não há como assegurar que no futuro, mesmo não tão distante, os interesses de Iraque e Brasil não venham a se distanciar. Em vista disso, e o governo de meu país adianta que é com certo desconforto, pelo que nos desculpamos, considera que a manutenção desse contrato fere a estratégia nacional quanto à gestão de seus recursos petrolíferos. Por isso devemos nos sentar à mesa para negociar a extinção do contrato e garantir à Petrobras e ao Brasil que seus investimentos sejam devidamente ressarcidos, sem qualquer prejuízo para vocês”.

Anos depois, por causa inclusive de Majnoon, o Iraque foi invadido e ocupado por tropas estrangeiras. Perdeu sua soberania como nação e atravessa décadas de terrorismo total com o genocídio que todos conhecemos.

Claro que não podemos comparar o Brasil com o Iraque, e aqui não vai qualquer desmerecimento àquele país e ao seu povo, do qual conheço alguma coisa. Mas estes fatos são uma inegável lição que temos sempre que levar em consideração.

 

Fonte: Folha de S. Paulo

Prefeitura firma convênio para a construção de 94 km de corredores de ônibus

Prefeito Fernando Haddad e o ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, firmaram na tarde de sexta-feira os convênios de repasses de R$ 2,2 bilhões que garantirão a construção de 94 km de corredores para ônibus na cidade

 

A Prefeitura de São Paulo firmou nesta sexta-feira (13) o primeiro contrato de repasses do País, dentro do pacote de R$ 50 bilhões anunciados em junho pela presidenta Dilma Rousseff para projetos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Mobilidade. Os contratos garantem investimentos de R$ 2,2 bilhões para a construção de 94 quilômetros de corredores de ônibus na Capital. O evento, que contou com a presença do prefeito Fernando Haddad e do ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, aconteceu no bairro do M’Boi Mirim, na Zona Sul.

Entre as vias que serão financiadas com os recursos estão o corredor Capão Redondo-Campo Limpo-Vila Sônia, M’Boi Mirim-Estrada da Baronesa, M’Boi Mirim-Santo Amaro com o acesso ao terminal, dois trechos do Leste-Itaquera e três trechos do Radial Leste. O contrato inclui ainda as obras do cCorredor Berrini e do Aricanduva. A expectativa é de que as obras sejam iniciadas após o término do período de chuvas, no início do próximo ano, quando já terão sido emitidas as licenças ambientais. Todos os corredores terão o sistema Bus Rapid Transit (BRT), que se assemelham ao metrô, por ter alta velocidade e estações de transferência.

Os novos corredores correspondem a dois terços dos 150 km previstos no Programa de Metas 2013-2016. “Daremos ainda mais velocidade para os ônibus, que poderão atingir a marca de até 25 km/h. Já melhoramos muito a velocidade (com as faixas exclusivas) e podemos melhorar ainda mais, dando mais conforto também para o cidadão. Então, 94 km dos 150 km que foram prometidos já têm fonte de financiamento”, afirmou o prefeito Fernando Haddad.

Para o ministro Aguinaldo Ribeiro, investir em mobilidade significa “devolver tempo às pessoas”. “Investir em mobilidade é investir nas pessoas, para que elas percam menos tempo em ônibus. As pessoas ficam ou ficavam na cidade de São Paulo, porque isso já está mudando, dentro do ônibus e parado, perdendo tempo e quanto tempo se perde parado, com desconforto e sem poder aproveitar o tempo com marido e filhos”, afirmou Aguinaldo Ribeiro.

Professores da rede estadual de São Paulo definem prioridades para 2014

Cumprimento de lei federal pela implementação da jornada do piso e recomposição de perdas estão entre as principais reivindicações

 

São Paulo – Professores da rede pública estadual de São Paulo reuniram-se na tarde de hoje (13) em assembleia na Praça da República, centro da capital, para destacar reivindicações para o próximo ano letivo. Entre as principais medidas, os docentes pedem a implementação da jornada do piso, em cumprimento à Lei federal nº 11.738, que determina que 33% da jornada seja destinada para atividades extra-classe.

Segundo a presidenta do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Maria Izabel Noronha, a Bebel, atualmente, para cada 32 vezes que o professor fica em sala de aula, ele tem oito para se dedicar às atividades extras. Com a implantação da jornada, ele terá 26 vezes em sala e 14 fora dela para preparar aulas e corrigir provas, entre outras atividades.

“Isso vai significa a possibilidade de ter formação continuada no próprio local de trabalho. São questões inerentes ao projeto político pedagógico, que garantirá ao professor lecionar com mais qualidade de ensino”, afirma Bebel.

Os trabalhadores também pedem aumento real (acima da inflação) e reposição das perdas salariais desde 1998, avaliadas pela Apeoesp em 36,74%, percentual calculado até março deste ano, assim como a revisão do Plano de Cargos Carreiras e Salários (PCCS). Eles reivindicam ainda a criação de uma comissão, formada por representantes de pais, alunos e professores, para discutir o aumento da violência nas salas de aula.

Os servidores também pedem que os professores temporários (categoria “O”) tenham os mesmos direitos dos efetivos. Enquanto estes têm seis faltas para abonar no ano, por exemplo, os temporários têm duas. O vínculo também não é o mesmo quanto ao uso do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (Iamspe). “Nós exercemos a mesma função, no mesmo local, prestando o mesmo serviço, e não há razão para recebermos tratamento diferente”, afirma a professora aposentada e temporária desde 2007 Maria Catarina Nazo.

Segundo a presidenta da Apeoesp, o governo estadual apresentou uma minuta para projeto de lei que, se aprovado, pode transformar o Iamspe em autarquia especial, tirando totalmente a participação do servidor. “Não vamos avançar na qualidade de saúde pública dos funcionários se não tivermos também a presença dos servidores na comissão executiva, que dá diretriz para o hospital do servidor do Iamspe. Faremos uma intervenção para que isso seja retirado de pauta. Queremos iniciar um processo de discussão.”

As reivindicações foram definidas no 24º congresso da Apeoesp, realizado em novembro, em Serra Negra, no interior.

 

Fonte: Rede Brasil Atual

Colégio Estadual Presidente Médici decide trocar nome para Colégio Carlos Marighella

A comunidade do Colégio Estadual Presidente Emílio Garrastazu Médici, de Salvador, aprovou, em eleição com participação de alunos, professores, pais e funcionários, que a instituição deve ser rebatizada como Colégio Estadual Carlos Marighella.

Na votação, foram 406 votos (69%) para Marighella e 128 ao geógrafo Milton Santos. O resultado será encaminhado à Secretaria da Educação da Bahia, para que o Estado promova uma “reinauguração” do Colégio, conforme solicitação da diretora do estabelecimento, Aldair Almeida Dantas.

O colégio foi inaugurado em 1972, quando Médici ocupava a Presidência da República, sem ter recebido um só voto popular. Seu governo (1969-74) marcou o período de maior repressão e falta de liberdades na ditadura imposta em 64.

Durante o processo de escolha do novo nome, os alunos do segundo e terceiro ano da escola realizaram uma bela exposição chamada “A vida em preto e branco: Carlos Marighella e a ditadura militar”. Fotos, imagens, desenhos e frases compunham a exposição que trazia o histórico de vida de Carlos Marighella.

O guerrilheiro foi declarado pela ditadura, em novembro de 1968, “inimigo público número 1”. Em 1967, Marighella se incorporou à luta armada contra o regime e foi fundador da organização guerrilheira Ação Libertadora Nacional, ALN.

 “Todos os alunos participaram desse trabalho, mostrando a história de Marighella, baiano e conhecido em todo o mundo. Determinado, lutador, dedicou a sua vida a seus ideais”, disse a professora de sociologia, Maria Carmem.

O outro candidato da eleição, o geógrafo baiano Milton Santos (1926-2001), foi um dos maiores pensadores brasileiros do século XX. Perseguido pela ditadura, foi obrigado a passar mais de uma década no exílio, inclusive durante a administração do general Médici.

O pleito foi coordenado pelo colegiado da escola, composto por professores, funcionários, estudantes e pais de alunos. Ninguém propôs manter na cédula o nome atual.

 

Informações: Bahia Notícias e UOL

Mesmo com orçamento de R$ 4,3 bilhões ao ano, USP Leste tem água imprópria e piolho

Bebedouros do campus estão interditados por falta de manutenção e salas tiveram de ser fechadas após infestação de parasitas de pombos

 

Após ser multada por causa da contaminação do solo por gás metano no campus Leste, a Universidade de São Paulo (USP) enfrenta agora problemas com água imprópria para consumo e infestação de piolhos de pombo nas salas de aula da mesma unidade. Os bebedouros estão interditados até o fim de semana e as áreas infestadas ficaram sem uso por pelo menos dez dias.

O bloqueio temporário dos bebedouros foi determinado depois que análises feitas pela Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp) apontaram turbidez da água e presença indevida de bactérias. A causa do problema foi a falta de limpeza dos reservatórios de água. A higienização periódica é recomendada a cada seis meses ou, no máximo, anualmente. A última lavagem foi em setembro de 2012.

O edital de contratação para nova limpeza foi aberto em setembro deste ano, mas não foi concluído por causa da troca de direção da unidade e da ocupação da sede do campus em protesto dos alunos, em outubro, que durou 18 dias.

A Sabesp informou que não há problema na água levada pela companhia à faculdade. Como as caixas d’água ficam dentro do imóvel, a qualidade da água é de responsabilidade da USP Leste.

A direção da unidade contratou, em regime de emergência, a limpeza dos reservatórios, que será feita neste fim de semana. Garrafões de água foram distribuídos para consumo nos próximos dias. A previsão é de que os bebedouros voltem a funcionar na segunda. A Sabesp deve fazer nova avaliação.

 

Piolhos

Além dos bebedouros, três salas de aula do prédio principal ficaram interditadas até a última terça, por causa de infestação de piolhos de pombos. O forro do prédio tem ninhos das aves. Segundo relatos de alunos e professores, o problema foi descoberto quando, no fim de novembro, pequenos ácaros começaram a andar pelo corpo de alunos e professores durante aulas. Alguns deles dizem ter sido picados pelos parasitas.

Com coceira e feridas, uma das professoras procurou um dermatologista e foi diagnosticada com escabiose (sarna). Ela teve de passar por tratamento contra o problema, assim como sua família, por prevenção.

Com as salas interditadas, os alunos de três turmas passaram a ter aulas no auditório ou anfiteatro. “Acabamos de sair de uma greve, estamos com as aulas atrasadas, e tivemos de ficar de um lado para outro para saber onde seria a aula. Como uma universidade do porte da USP pode ter um problema como esse?”, questiona uma aluna do 2.º ano de Gestão Ambiental, uma das turmas afetadas.

A assessoria de imprensa da USP Leste informou que a desinfestação foi feita no dia 3, segundo as normas de vigilância sanitária. Também já foram pedidas dedetizações periódicas para evitar novos problemas.

 

Indefinição

A USP só foi notificada na segunda-feira sobre a liminar concedida pela Justiça no dia 21, a pedido do Ministério Público Estadual (MPE), que suspende as obras e as aulas na unidade por causa da contaminação por metano. A Procuradoria Jurídica da USP pretende recorrer.

O prazo de 30 dias para suspensão das aulas começou a valer na segunda-feira e, durante o recesso do MPE, do dia 20 até 6 de janeiro, a contagem é suspensa. Se a sentença for mantida, a USP tem até os últimos dias do mês que vem para encontrar novo local para as aulas.

Segundo informe da Superintendência de Espaço Físico da USP divulgado nesta semana, já foi aberta a licitação para executar a instalação dos dutos de extração de vapores do prédio do Ciclo Básico. A abertura dos envelopes é prevista para o dia 18. A falta de sistemas de extração em todos os edifícios era um dos questionamentos do MPE.

 

Fabiana Cambricoli e Victor Vieira

Fonte: O Estado de S. Paulo

CINEMA NO BIXIGA – Sinopse do próximo filme: Paris Está em Chamas?

Neste sábado, 14/12, o Cinema no Bixiga apresenta o filme “Paris Está em Chamas?”. O filme inicia às 17 horas, no Cine-Teatro Denoy de Oliveira, na Rua Rui Barbosa, 323, Bela Vista. Entrada franca!

 

PARIS ESTÁ EM CHAMAS?

René Clément (1966), com Alain Delon, Jean-Paul Belmondo, Glenn Ford, Orson Welles, Kirk Douglas, Marie Versini, Simone Signoret, Gert Fröbe, FRANÇA, 174 min.

 

Sinopse

Durante a 2ª Guerra Mundial, após o desembarque aliado na Normandia, em junho de 1944, a Resistência Francesa luta para recuperar o controle de Paris ocupada pelos nazistas. Em 7 de agosto, o general Dietrich von Choltitz é nomeado governador militar de Paris e recebe diretamente de Hitler a ordem para incendiar a cidade, incluindo seus monumentos e sítios históricos, caso não consiga manter o controle alemão sobre ela. A ordem dizia: “Paris não deve cair nas mãos do inimigo, exceto se transformada em um monte de ruínas. O general-comandante deve defendê-la até o último homem e sepultar-se sob as ruínas”.

 

Direção: René Clément (1913-96)

René Clément nasceu em Bordéus, França. Começou no cinema, na década de 1930, escrevendo roteiros para Jacques Tati. Realizou mais de 10 curtas na África e Oriente Médio, antes de dirigir “A Batalha dos Trilhos” (1946), que lhe rendeu o Prêmio do Júri e o de Melhor Diretor no Festival de Cannes. Ainda em 1946, codirigiu “A Bela e a Fera”, o clássico de Jean Cocteau. Voltou a receber o Prêmio de Melhor Diretor, em Cannes, com “Os Malditos” (1947) e “Três Dias de Amor” (1949) – que também obteve o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Seu drama “Brinquedo Proibido” (1952), que apresenta uma visão da guerra pelos olhos de duas crianças, ganhou o Leão de Ouro, em Veneza, o Prêmio da Crítica no Festival de Cannes e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. “Gervaise” (1956), adaptado do romance “L’Assommoir” (1878), de Émile Zola, recebeu o Prêmio BAFTA de Melhor Filme. Entre os 20 longas que dirigiu, também estão “O Sol por Testemunha” (1959), “O Dia e a Hora” (1963) e “Paris Está em Chamas?” (1967).

 

Argumento Original:  Larry Collins (1929-2005) e Dominique Lapierre (1931- )

Larry Collins, escritor e jornalista, nasceu em Connecticut, formou-se na Universidade  de Yale, em Nova York. Entre 1953-55 ingressou no Exército e serviu na sede dos aliados em Paris. Neste período conheceu Dominique Lapierre com quem viria a formar uma assídua parceria. Em 1956, Collins começou a trabalhar como repórter na United Press International. Mais tarde tornou-se correspondente da revista Nesweek no Oriente Médio. Em 1965, em conjunto com Lapierre, lançou “Paris Está em Chamas?”, adaptado para o cinema no ano seguinte, por René Clément, com roteiro de Gore Vidal e Francis Ford Coppola.

Dominique Lapierre nasceu na França e formou-se no Lafayette College. Durante 14 anos foi jornalista correspondente da revista Paris Match

A parceria entre Collins e Lapierre gerou diversas obras, entre as quais também se inclui “Esta Noite a Liberdade” (1976), sobre a luta pela independência da Índia.

 

Música Original: Maurice Jarre (1924-2009)

Nascido em Lyon, Maurice-Alexis Jarre iniciou seu aprendizado musical no conservatório de Paris, onde estudou percussão, composição e harmonia. Celebrizou-se, principalmente, por compor trilhas musicais das quais se destacam a parcerias com o diretor David Lean, que lhe renderam três prêmios Oscar: “Lawrence da Arábia” (1962), “Dr. Jivago” (1965) e “Passagem para a India” (1984). Jarre compôs para o teatro, concertos, óperas, balés e gravou seis CDs. Trabalhou também com John Frankeheimer (“O Trem”, 1965), René Clément (“Paris Está em Chamas?”, 1966), Richard Brooks (“Os Profissionais”, 1966), Anatole Litvak (“A Noite dos Generais”, 1967), Luchino Visconti (“Os Deuses Malditos”, 1969), John Huston (“O Homem que Queria Ser Rei”, 1975), Moustapha Akkad (“O Leão do Deserto”, 1981), Peter Weir (“Sociedade dos Poetas Mortos”, 1989).

 

 

Os milagres na educação cubana

Em 2009 a Unesco apresentou um informe de seu organismo regional, a Orealc, sobre a prova LLCE (Laboratório Latino-Americano de Avaliação da Qualidade do Ensino) denominado “Segundo Estudo Regional Comparativo e Explicativo na América Latina e no Caribe”, que revelou dados muito surpreendentes para alguns analistas.

 

Por Tatiana Coll*, no Diálogos do Sul

Christopher Marquis do New York Times assinalou: “os estudantes cubanos, em todas as matérias examinadas, obtiveram qualificações muito superiores à media, de maneira consistente, em todas as escolas”.

O estudo concluiu que “os alunos cubanos quase duplicam os resultados dos alunos que mais se aproximam deles”. O jornalista nova-iorquino apontou que os resultados “foram tão dramaticamente superiores que os pesquisadores da Unesco regressaram a Cuba e examinaram de novo os estudantes, obtendo os mesmos resultados de novo”. Jeff Puryear co-diretor da Associação para a Revitalização Educativa das Américas também se surpreendeu: “mesmo os resultados mais baixos dos cubanos alcançaram um índice superior à média da região, e aplicando nossos próprios padrões!”

Seguramente isso se deve a um milagre, pois Cuba é evidentemente um país com escassos recursos e fortes problemas econômicos, devido ao constante bloqueio e dificuldades diversas. Ninguém poderia comparar com a capacidade econômica do México, do Brasil, da Argentina e inclusive do Chile e, no entanto, é inegável que a educação em Cuba supera notavelmente mesmo a das potências da região. Cuba teve 70% dos seus estudantes com qualificações de mais 350 pontos de um total de 500, enquanto a média na Argentina, no Uruguai e No Chile foi de 300 pontos. Brasil e México acusaram uma média instável de aproximadamente 250 pontos. Só um milagre da deusa Iemanjá poderia explicar esses resultados.

O milagre teve início em 1959 quando a revolução triunfante dedicou-se a realizar todo tipo de projetos, cada um mais criativo e significativo. O mais conhecido, o da alfabetização, conseguiu em um ano declarar Cuba como o primeiro território livre de analfabetismo na América Latina. Menos conhecidos são os programas para mulheres camponesas, trabalhadoras, prostitutas; para crianças camponesas, órfãs ou “marginais”; para formar contingentes de professores, e poderíamos acrescentar um longo etcetera… Desde aqueles anos, o primeiro mandato foi levar todos os recursos disponíveis para as regiões devastadas pela pobreza no campo e na cidade. Este simples princípio marca uma enorme diferença com nosso próprio sistema no qual se impôs implacavelmente a máxima neoliberal de dar mais ao melhor “rankeado”, de investir somente naquilo que dá lucro, e assim persistem escolinhas abandonadas em que convivem crianças de várias séries (são 43% das 280.000 existentes), sem materiais, sem recursos, com “professores” que são rapazes treinados pelo CONAFE durante dois meses e enviados com um salário miserável. A desigualdade educativa se reproduz assim de maneira estrutural, não é preciso um censo para saber o que já sabemos faz tempo. Sem mencionar o estado desastroso da maioria das escolas, sustentadas pelos pais de família com suas “contribuições voluntárias” e os raquíticos salários dos professores mesmo com o estímulo da carreira de magistério.

O milagre é que Cuba investe em educação 12.9% do PIB, no bojo de um investimento social de 30%. O México, a duras penas, destina 5% para a educação com altos e baixos pronunciados. Islândia e os países nórdicos se aproximam de 8%. Em janeiro de 1959, Cuba tinha 3 universidades públicas com 15.000 alunos e mil professores, e hoje conta com 67 instituições de altos estudos com 261.000 matriculados e 77 mil professores; 35.000 bolsistas latino-americanos passaram por suas classes, além de um novo programa de municipalização da educação superior que já construiu mais de 300 sedes universitárias municipais. Na verdade, Cuba é toda uma grande escola.

O estado é o responsável integral da educação, como na Finlândia e na França. Há uma grande valorização social da profissão docente em todos os seus níveis e os salários dos professores equivalem aos de outros profissionais como médicos e físicos. As Universidades Pedagógicas têm um alto grau de formação e de exigência. Nunca há mais de 18 crianças por sala e o tempo dedicado a cada criança pra elaborar e problematizar respostas individuais duplica o da região. Estes são alguns dos fatores recolhidos por Martin Carnoy, professor da Universidade Stanford, em seu excelente livro La ventaja académica de Cuba, ¿Por qué los estudiantes cubanos rinden más?. Não necessitamos acudir a modelos tão distantes como Finlândia ou qualquer outro país altamente desenvolvido; a explicação está aqui mesmo, muito perto, e não se trata de um milagre educativo, mas sim de una política congruente com a dignidade de todo ser humano.

 

*Tatiana Coll é colaboradora de Diálogos do Sul – reside no México

Texto extraído do Portal Vermelho

Bancos também pagavam propina, afirma delator da máfia do ISS

O auditor fiscal Luis Alexandre Magalhães, delator da máfia do ISS, disse em depoimento à Promotoria que empresas de estacionamento, segurança privada e bancos também pagavam propina ao chefe da quadrilha.

Segundo ele, além do esquema do grupo com construtoras, outros setores tinham acertos paralelos para a redução do imposto devido aos cofres municipais.

O delator declarou que isso envolvia outros fiscais, que abasteciam Ronilson Bezerra Rodrigues, subsecretário da Receita da gestão Gilberto Kassab (PSD).

Em seu depoimento, Magalhães não citou nomes de supostos corruptores nem deu detalhes do esquema.

Mas disse que, com todos os “tentáculos” de atuação, Ronilson chegou a ganhar R$ 6 milhões em uma semana. O filé-mignon, segundo ele, eram os recursos arrecadados do setor bancário.

Segundo reportagem da Folha, o promotor Roberto Bodini diz que Magalhães não explicou quanto tempo essa arrecadação milionária durou. A Controladoria-Geral do Município investiga auditores de outras áreas além do setor de quitação do ISS para liberação do Habite-se de empreendimentos imobiliários.

Parte deles está numa relação de dez nomes citados por Magalhães anteontem como “corretores” da máfia do ISS (que levavam clientes para a quadrilha).

Nem a Promotoria nem a Controladoria citam os nomes dos auditores para não atrapalhar as investigações.

Um dos setores em que as apurações estão avançadas é na área de estacionamento. O envolvimento de Ronilson com esse segmento foi uma das primeiras denúncias a chegar à prefeitura ainda no ano passado.

Ontem, Promotoria abriu um cofre apreendido em um dos apartamentos de Ronilson na operação em que ele foi preso, em 30 de outubro.

Dentro dele, foram encontrados R$ 72,7 mil. O cofre só foi aberto ontem porque deveria ser feito na presença de um defensor do auditor.

Os promotores já tinham encontrado anteriormente R$ 88 mil em um cofre apreendido no escritório da quadrilha, na região central.

 

Informações: Folha de S. Paulo

Por que Raul Castro foi o estadista mais aplaudido na África do Sul

MARC VANDEPITTE

 

A coisa é pouco conhecida, mas Cuba jogou um papel decisivo para o fim do regime de apartheid. Sobre o continente africano, dos anos setenta aos anos noventa, esse pequeno país que é Cuba foi um importante contraponto à superpotência americana.

“Sem internacionalismo a revolução cubana não teria jamais existido”, declarou Fidel em um de seus numerosos discursos. Durante a guerra fria não hesitou em empreender perigosas missões militares para ajudar a combater o imperialismo americano. A pedido de países irmãos realizaram-se missões militares no Vietnam, Síria, Argélia, Gana, Congo (Bazavile), Zaire, Guiné Equatorial, Zimbábue, Etiópia, Somália, Eritreia, Iêmem do Sul, Tanzânia, Angola, Namíbia e Guiné Bissau. E Cuba igualmente apoiou diversos movimentos de guerrilha na América Latina.

A mais importante missão sem nenhuma dúvida foi a de Angola e é esta que nos conduz a Mandela e ao fim do apartheid.

 

36 mil cubanos em Angola

A história começa com a independência de Angola em 1975. Em outubro deste ano, um mês antes da proclamação da independência, tropas sul-africanas invadiram o país com a intenção de derrubar do poder o MPLA (Movimento Pela Libertação de Angola de inspiração marxista que conquistou a independência). Um regime de inspiração marxista em Angola poderia ameaçar o controle da Namíbia pela África do Sul.

Sem apoio o MPLA não poderia sem dúvida se sustentar e a África do Sul adquiriria o controle de Angola também.

A URSS adota uma posição muito reservada sobre a situação. O movimento de libertação angolano MPLA se dirige a Cuba para conseguir uma assistência militar. Cuba envia para o local 36.000 homens e consegue conter a progressão da África do Sul. Em março de 1976 o exército do apartheid se retira de Angola.

A causa não é hoje ainda completamente entendida, mas em 1977 estoura uma rebelião no seio do MPLA. Nito Alves, fiel a Moscou, dá um golpe de Estado contra o líder Agostinho Neto. O golpe foi frustrado porque as tropas cubanas continuaram a lutar ao lado dos que se mantiveram leais ao MPLA.

Nos anos 1980 Cuba entra novamente em ação. A África do Sul, ciente do enfraquecimento da URSS, prepara uma ofensiva no sul de Angola. Em companhia da UNITA, rebeldes apoiados pela CIA, atacam novamente em novembro de 1987. A pedido do governo angolano Cuba envia prontamente 50 mil homens. Depois de algumas semanas de pesados combates o exército sul-africano é derrotado em Cuito-Cuanavale.

O exército do apartheid se retira de Angola e em seguida da Namíbia. Essa virada estratégica não é somente uma derrota militar mas um rude golpe moral. Ele contribui decisivamente para a supressão do apartheid. É também uma contribuição importante para a libertação do Zimbábue . Em todo esse conjunto de diversas missões 400 mil cubanos teriam combatido em Angola e mais de 2 mil deixaram ali a vida.

 

Cuba, o primeiro país visitado

Após sua libertação, a testemunha privilegiada que era Mandela, tinha a seguinte posição sobre a intervenção cubana: “Nós viemos aqui estando bem conscientes da dívida que temos com o povo cubano. Que país poderia ser tão altruísta quanto Cuba em suas relações com a África? Quantos países no mundo beneficiam-se do trabalho, dos serviços de saúde e ensino cubanos? Que país alguma vez pediu em vão a ajuda de Cuba? Quantos países ameaçados pelo imperialismo ou combatendo por sua libertação nacional não puderam contar com a sustentação de Cuba? Na prisão eu ouvi falar pela primeira vez da ajuda gigantesca aportada pelas tropas de voluntários cubanos ao povo angolano, tão gigantesca ajuda que seria fácil ter podido duvidar de sua veracidade! (…)

“Nós na África somos simplesmente as vítimas dos países que querem suprimir nosso território e acabar com a nossa soberania. Jamais foi visto na história da África um outro povo tomar as armas para nos defender!

“A derrota esmagadora imposta ao exército racista em Cuito-Cuanavale foi uma vitória de toda a África! Sem a derrota de Cuito-Cuanavale a proibição que pesava sobre nossas organizações não teria jamais sido suprimida! A derrota do exército racista em Cuito-Cuanavale permitiu que hoje eu estivesse aqui! Cuito-Cuanavale transformou a luta de libertação nacional no continente, no nosso país a luta contra o flagelo do apartheid! A derrota decisiva de Cuito-Cuanavale modificou a correlação de forças na região e reduziu substancialmente a capacidade do regime de Pretória na desestabilização dos países vizinhos.”

 

Mais soldados, mais médicos

Após o fim da guerra fria Cuba não mais enviou soldados ao estrangeiro, mas professores e sobretudo médicos. Nesse momento 30 mil médicos trabalham em mais de 90 países e 50 mil médicos de 82 países foram formados gratuitamente. (Na Bélgica para uma população igual a de Cuba conta-se no total 47 mil médicos).

Nos últimos cinco anos Cuba recuperou 2 milhões de cegos. Não é por nada que Ignacio Ramonet, antigo redator do Monde Diplomatique, descreve Cuba como uma superpotência médica.

 

(Artigo publicado em Bruxelas pelo jornal “Solidaire” com o título: “Mandela, Cuba e o fim do apartheid”)

Texto extraído da Hora do Povo – Edição 3.212

Quem promete crescer 5% e só consegue 2% não é levado a sério, diz economista do PT

Pibinho é resultado do juro alto, liquidez baixa e câmbio anabolizado

 

Amir Khair afirma em artigo publicado na Carta Maior que “a primeira coisa a reconhecer é que a economia está emperrada devido ao potente conjunto de freios que o governo ainda não removeu por medo do fantasma da inflação”. Segundo Khair, são eles: “Selic, juros bancários e carga tributária sobre o consumo, dos mais altos do mundo e liquidez das mais baixas do mundo”.

 

AMIR KHAIR (*)

 

O governo fracassou durante esses três anos para fazer o País crescer e, caso não mude sua política econômica, vai fracassar de novo em 2014. Ao prometer crescimento de 5% e conseguir a média de 2% nesses três anos, perdeu a credibilidade necessária para ser levado a sério.

Algumas análises culpam a insuficiência dos investimentos como causa central desse fracasso. Defendem que ele deve ser de 22% do PIB para o País crescer 5% ao ano. São números estranhos sem nenhuma base empírica. Antes pelo contrário. Nos trinta anos (1950 a 1979) o crescimento médio anual foi de 7,4% e o investimento apenas 19,2% do PIB, nível próximo ao atual e, na década de 80 o investimento foi 21,8% e o crescimento 1,7% (!).

Tenho defendido que o que impede o crescimento é o medo da inflação. A política econômica de Lula, Dilma e FHC em nada se diferem quanto a essa diretriz central. Isso faz com que o comando da economia se desloque para o Banco Central e esse usa todas as formas possíveis para segurar o consumo, sendo a principal a convivência pacífica com as maiores taxas de juros ao tomador do mundo, a mais baixa liquidez da economia entre os países e uma taxa de juros que o governo paga aos aplicadores das mais altas visando atrair os especuladores internacionais, que lucram anualmente U$ 10 bilhões (média dos últimos seis anos) e que tornam o câmbio artificial barateando o produto importado, o que reduz o crescimento.

Há consenso ao reconhecer que a crise internacional vem derrubando o crescimento em todos os países, e nesse ambiente investir é arriscado para as empresas.

Há os que apostam que na insuficiência do investimento privado a solução é o governo federal investir mais, mas é apostar numa eficiência de gestão com sérias dificuldades para conseguir tirar as obras do papel.

Há também consenso de que o crescimento não virá pela via das exportações, pois o mercado externo está saturado e fortemente vendedor. A não ser em algumas commodities, na agricultura e pecuária é possível algum resultado, mas mesmo assim sem expansão significativa sobre o ano anterior.

O consumo das famílias, segundo essas análises, atingiu seu limite devido o que consideram ser excessivo o endividamento, com cerca de 1/3 do orçamento doméstico comprometido com o pagamento de prestações.

Interessante notar que sobre os juros embutidos nessas prestações há omissão. Segundo a Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) os juros médios anuais em 2011 foram de 119,8%, em 2012 atingiram 101,7% e desde outubro do ano passado gira em torno de 90%. Nos países emergentes a média é de 10% e nos países desenvolvidos 3%. Assim, quase metade das prestações são juros. Eis a razão da inadimplência e o principal freio ao crescimento.

O que fazer?

A primeira coisa a reconhecer é que a economia está emperrada devido ao potente conjunto de freios que o governo ainda não removeu por medo do fantasma da inflação. São eles: Selic, juros bancários e carga tributária sobre o consumo, dos mais altos do mundo e liquidez das mais baixas do mundo. Para remover esses freios são necessárias medidas de curto e longo prazo.

Curto prazo – A redução dos juros (básico e bancário) e da carga tributária vai aliviar o orçamento doméstico, bem como o custo de produção e o capital de giro da empresa. Mas isso é factível? Sim e rápido. Se o governo decidir reduzir a Selic para 5% (não se justifica 10%) vai economizar os recursos necessários à desoneração sensível na carga tributária com foco nos bens e serviços de maior consumo popular.

Além disso, a queda da Selic reduz os ganhos de tesouraria dos bancos e se tabelar, reduzindo as tarifas bancárias (não sei porque ainda não foi feito) vai empurrar os bancos privados na ampliação da oferta dos empréstimos gerando a necessária concorrência bancária, com aí sim, a redução dos juros.

Não basta o Banco do Brasil e a Caixa reduzirem seus juros. É necessário seguir o conselho uma vez dado pelo economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) diante da solicitação do governo para reduzirem as taxas de juros: “Você pode levar um cavalo até a beira do rio, mas não conseguirá obrigá-lo a beber água”. Sem querer, ensinou o caminho das pedras: aperte o lucro dos bancos. Isso é que vai levar o cavalo ao rio. É bom o governo ouvir quem é do ramo.

Para ativar exportações, a medida de maior eficácia é a desvalorização cambial que pode ser alcançada sem ônus via ampliação da liquidez, à semelhança do que vêm fazendo os países desenvolvidos, que desvalorizaram suas moedas para elevar suas exportações. O câmbio para isso deve ser ligeiramente acima de R$ 3,00, que é o nível necessário para permitir o equilíbrio nas contas externas. Para isso é necessário elevar a liquidez (6% do PIB) no País, que é metade da praticada na Argentina e México.

Mas se o governo continuar acreditando nos pacotes de estímulo e nas concessões nos modais de transporte e não remover os freios que ele próprio impôs ao desenvolvimento, dificilmente irá conseguir ultrapassar o crescimento de 2% no qual patina a economia. É hora, pois, de tirar o pé no freio (juros e carga tributária elevada e liquidez baixa) e deixar o País crescer. A bola está só com o governo.

 

* Amir Khair é engenheiro e mestre em finanças públicas pela EAESP/FGV e ex-secretário de Finanças da Prefeitura de São Paulo (1989/92). Reproduzimos o texto sob o título “Medo da inflação pode conter avanço do país em 2014”.

Texto extraído da Hora do Povo – Edição 3.211