22-7-16 Shahknazarov

Karen Shakhnazarov: “o cinema forma o homem”

22-7-16 Shahknazarov

Elizabeta Boyarskaya e Maxim Matveev em “Anna Karenina”, do diretor Karen Shakhnazarov

 

Há alguns anos, propuseram a Karen Shakhnazarov filmar “Anna Karenina” para a televisão. O diretor não queria fazer mais uma produção tradicional, e decidiu explorar o romance por um ângulo diferente, colocando o acento principal sobre o personagem de Vronsky. Shakhnazarov escreveu o roteiro com o jovem Alexey Buzin. Os papeis principais ficaram com Elizabeta Boyarskaya (Anna Karenina), Maxim Matveev (Vronsky), Vitaly Kishchenko (Karenin), Viktoria Isakova (Dolly), Ivan Kolesnikov (Stiva Oblonsky).

Este é um projeto conjunto do canal de televisão Russia e do estúdio Mosfilm, sendo que a versão em longa metragem do filme e a versão em série para televisão foram realizadas sem o apoio financeiro do governo. No inicio do mês de julho terminou o período de filmagem, que durou sete meses. A repórter do site “Lenta.ru”, Natalya Oss, no dia 5 de julho reuniu-se com Karen Shakhnazarov, e perguntou-lhe como tinha filmado sua versão do romance de Tolstoi, por que Hollywood determina a influência dos EUA no mundo e se a Rússia precisa de seu próprio cinema.

Lenta.ru:  Por que um clássico resultou para você num material contemporâneo interessante?

Shakhnazarov: Nunca escondi o fato de que me convenceram. Anton Zlatopolsky me propôs fazer um seriado com “Anna Karenina”. Eu balancei, queria – há muito já – fazer “Anne Karenina”. Surgiu a ideia sobre a forma que seria interessante para mim, e concordamos que também faria um filme separado.  Tenho 15 filmes, mas nunca havia feito um filme especificamente sobre o amor. Se você quiser fazê-lo, melhor que “Karenina” não dá para imaginar. Esse romance é o máximo, nada melhor foi escrito sobre o tema, e nunca será. As relações entre homens e mulheres, e o mais importante, a essência da existência humana em geral.

Lenta.ru: Você teve dificuldades  trabalhando com jovens atores?

Shakhnazarov: Estou muito satisfeito com os jovens, eles trabalham bem, atuam de um jeito muito contemporâneo. Eu gosto disso. Talvez, então, aqui a minha ideia fosse correta – a idade dos atores deve coincidir com a idade dos heróis da novela.

Lenta.ru: Você é o diretor geral do Mosfilm.  Como o Estúdio está trabalhando hoje?

Shakhnazarov: Como uma fábrica de cinema capitalista. Nos criticam: “Mosfilm faz poucos filmes”. Bem, ouçam: o sistema mudou! Nós participamos de muitos filmes, alugamos nossas instalações, fazemos alguns filmes – às vezes até 10 por ano -, mas fazer uma quantidade como nos tempos soviéticos, quando o estúdio produzia 40, simplesmente não podemos. Por isso eu respondo a todas as reclamações: pessoal, então mudem o sistema! Voltem à  URSS, voltem ao GOSKINO, o Comitê do Estado de Cinematografia, voltem então ao Departamento de Cultura do Comitê Central do PCUS.

Lenta.ru: O sistema de financiamento do cinema, com o Estado como principal investidor, lhe satisfaz? É adequado às tarefas do cinema russo contemporâneo?

Shakhnazarov: Já disse muitas vezes que devemos ter um centro de cinema. Agora nós temos dois centros de controle. O financiamento vem do Ministério da Cultura e também do Fundo de Cinema. No sistema soviético, o cinema era tratado de modo mais eficaz. O GOSKINO da URSS tinha nível de ministério. Não importa como você o chame – Goskinofond (Fundo de Cinema do Estado), GOSKINO – mas deve haver um único centro, que lide com o apoio financeiro ao cinema e resolva os problemas, começando pelas contratações e distribuição e terminando na tecnologia. O paradoxo reside no fato de que o cinema soviético, em uma economia que não era de mercado, era rentável e o cinema russo atual não é rentável. Isso está errado.

Lenta.ru: A Rússia é capaz de alcançar o sucesso de antes no cinema? Ou, pelo menos, chegar perto dele?

Shakhnazarov: A União Soviética em muitas áreas, em um período muito curto, alcançou resultados fantásticos, criou setores inteiros. Entre eles, criou  a partir do zero a indústria cinematográfica, que se tornou parte da mundial. Ela não era mais poderosa do que a dos EUA durante a época soviética, mas impunha respeito no mundo; na Europa e na Ásia era conhecida. Agora estamos recomeçando do zero. Ouça, nós apenas estamos nos recuperando do choque! Se você chegasse em 1994 no Mosfilm ficaria com uma impressão terrível. Na verdade, era como se fosse depois da guerra. Corredores vazios destruídos, tudo estava em um estado lamentável. Muitos saíram do cinema para sempre, alguns morreram. Foi um grande drama. Eu digo que 80 filmes é pouco, mas, por outro lado, o fato de que existem já é bom, quer dizer que estamos vivos e recuperamos muito, nos mexemos.

Lenta.ru: E podemos recuperar a posição perdida no cinema?

Shakhnazarov: Vejo o futuro com otimismo. Aliás, acho que com as sanções Deus nos ajuda. Nós não nos atrapalhamos com elas. Hoje nosso objetivo não é alcançar a indústria cinematográfica norte-americana. A tarefa é criar um cinema nacional suficientemente forte.

Lenta.ru: O que é que  vai ajudar? A união dos cineastas, a vontade administrativa?

Shakhnazarov: Os cineastas não podem resolver o problema, em nenhum lugar do mundo acontece isso. Eu acho que é a vontade política. O Estado hoje não tem o entendimento de que o cinema é necessário. Na URSS, o cinema era parte da ideologia, os governantes estavam envolvidos. Talvez este seja um exemplo bobo, mas caracteriza a situação: todos os membros do Secretariado Político do PCUS, incluindo o Secretário-Geral, nas suas casas sempre assistiam o cinema soviético. As primeiras cópias de todos os filmes do Mosfilm sempre eram levadas para as datchas. Duvido muito que nossas elites políticas assistam agora o cinema russo. O cinema forma o homem. Especialmente nestes tempos, quando as pessoas não lêem quase nada. Converse com qualquer jovem – ele não conhece livros, mas conhece filmes. E, geralmente, filmes americanos. Esse é o poder de persuasão americano. É claro. Através do cinema os americanos têm uma tremenda influência na formação do ambiente em que operam como força política.

Lenta.ru: Você acha que Obama, McCain e Kerry assistem o cinema deles?

Shakhnazarov: Acho que sim. Os americanos em geral gostam muito de cinema. Eles criaram o próprio conceito de indústria cinematográfica. E se referem a ela como a seu patrimônio nacional. O cinema é um dos pilares sobre os quais a América se sustenta. Até agora, a antiga cultura russa continua a ser uma importante fonte de nosso poder de persuasão – Tolstói, Dostoiévski. Infelizmente, o moderno cinema russo e a cultura não exercem mais essa influência. Tenho a sensação de que o nosso governo não entende a importância do cinema como um poder de persuasão.

Lenta.ru: Se você fosse atualmente um jovem cineasta, seria bem sucedido?

Shakhnazarov: Eu duvido. Essas oportunidades, que havia na União Soviética, agora não as temos. Nós éramos uma superpotência. Nossos filmes saiam ao mesmo tempo em Moscou, Varsóvia e Berlim. O público – mais de um bilhão de pessoas – assistia de forma normal. Agora, um jovem diretor faz um filme com recursos modestos e se chega a um festival já está bom. É totalmente outra sensação interna. Por isso, ninguém conhece os jovens diretores. Na URSS, o diretor era a estrela. Sim, eu amo meu trabalho, mas nunca pensei que o cinema fosse a única coisa que poderia fazer. Cinema é bom se é possível realizar-se nele, se não for possível, é terrível.

 

Fonte: jornal Hora do Povo

22-7-16 Mestre Ananias

Mestre Ananias, para sempre presente!

22-7-16 Mestre Ananias

 

Na noite desse 20 de julho faleceu Mestre Ananias. Manifestamos nossos sentimentos aos familiares, amigos, estando certo de que fica em nós sempre viva a força, energia e resistência de uma vida inteira dedicada à Capoeira e à cultura brasileira!

 

MESTRE ANANIAS

 

Ananias Ferreira nasceu em 1924 em São Félix (BA), nesta região que vivencia a força e influência africana em solo brasileiro e que oferece a Capoeira, o Samba e o Candomblé como alicerces formadores da nossa cultura. Sua infância, portanto, foi brincar e compartilhar esse universo, uma realidade cheia de contrastes em relação ao que vivemos hoje. Em suas lembranças, Ananias fala de um senhor que tocava berimbau de imbé, ou cipó caboclo, o Mestre Juvêncio, também de seus companheiros de roda: os irmãos Toy e Roxinho, Caial, Estevão, João de Zazá, Café e Vito. Ele lembra também de Inácio do Cavaquinho (que fazia samba com seu pai) e da roda de capoeira que armavam na venda do Seu Mané da Viola em Muritiba na rua do “Caga à Toa” (hehe).

Ainda muito jovem, Ananias trabalhou na lavoura de cana e nas indústrias de fumo, quando decidiu ir a Salvador em busca de melhores condições de vida. Na capital baiana, morou nos bairros do Engenho Velho de Brotas, Curuzu e Liberdade, onde é acolhido por um dos grandes mestres da Capoeira, Valdemar da Liberdade. Aí teve sua maior influência e passa a ser responsável pela bateria junto a Bugalho, Zacarias e Mucungê. Nessa época de formação da Capoeira (que se apresenta hoje) conviveu com grandes nomes como Mestres Pastinha, Nagé, Onça Preta, Noronha, Dorival (irmão de Mestre Valdemar), Traíra, Cobrinha Verde, Canjiquinha – de quem recebeu seu diploma – e tantos outros. Foi ali no Corta-Braço (assim é conhecida a região onde se localizava o Barracão do Mestre Valdemar) que os produtores Wilson e Sérgio Maia buscaram Mestre Ananias, Evaristo, Félix e algumas baianas para trabalhar na cena teatral paulistana…

 

Fonte: Casa Mestre Ananias

 

 

22-7-16 CMTT

“Nossa participação no Conselho de Transportes vai discutir a ampliação do passe livre”, afirma presidente da UMES

22-7-16 CMTT

“A participação dos estudantes no Conselho Municipal de Transporte e Trânsito (CMTT) foi muito importante. É nesse espaço onde podemos avançar as conquistas do passe livre junto à prefeitura e também aprofundar a discussão sobre a mobilidade da juventude na cidade”, afirmou Caio Guilherme, presidente da UMES, ao comentar sobre a apuração do resultado da eleição do conselho, publicado está quarta (20) no Diário Oficial.

Durante a eleição, realizada no dia 16, Caio foi eleito pelo segmento “Movimento estudantil secundarista”, com 62,7% dos votos. Ao todo foram eleitos 11 conselheiros, das 21 cadeiras destinadas a sociedade civil, representando os segmentos de Ciclistas, Idosos, Juventude, Meio ambiente e saúde, Mobilidade a pé, Movimento estudantil secundarista, Movimento estudantil universitário, Movimentos sociais, Organizações não governamentais, Pessoas com deficiência e Sindicatos de trabalhadores. No próximo dia 30, o CMTT realizará as elições regionais ao conselho, onde serão  eleitos dois representantes por região (Centro, Norte, Leste, Sul e Oeste) ao CMTT. 

 

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“As eleições do CMTT são de externa importância. Os estudantes precisam estar presentes para continuarem defendendo seus direitos a mobilidade, precisamos estar na luta para ampliar o passe livre, o estudante não é só estudante quando está na escola, é estudante quando tem acesso a cultura e ao lazer e devemos ter acesso gratuito a tudo isso”, disse a vice-presidente da UMES, Thaís Alves.

As eleições para o CMTT tiveram início no dia 16, na sede da universidade Uninove da rua Vergueiro, entre as 9h e 12h30. A atividade contou com diversos debates que antecederam o início da eleição.

 

22-7-16 juros BC

Copom eleva juro real para 8%, disparado o mais alto do mundo

22-7-16 juros BC

Interino Temer entre o presidente do BC e Meirelles: “não há espaço para flexibilização”

 

BC de Temer mantém taxa básica de juros (Selic) em 14,25% ao ano

 

 

Pela oitava reunião consecutiva, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central – com nova diretoria – decidiu na quarta-feira (20) manter a taxa básica de juros (Selic) em 14,25% ao ano, o maior patamar em dez anos.

Em um longo comunicado divulgado após a reunião, o Banco Central afirmou: “Tomados em conjunto, o cenário básico e o atual balanço de riscos indicam não haver espaço para flexibilização da política monetária”. Ou seja, os juros vão continuar na lua.

Levantamento do site MoneYou e pela Infinity Asset Management, na média das 40 maiores economias a taxa real de juros está negativa em -1,5% ao ano. 20 países estão com taxas negativas e 11 com taxas menores que 1,00%. O Brasil é o campeão mundial (8,00%), seguido da Rússia (2,98%), Indonésia (2,38%) e China (2,30%). A taxa dos Estados Unidos é de -1,99%, o que dá um diferencial de juros em relação ao Brasil de 9,99%. Essa brutal diferença de juros facilita o “carry trade”, a especulação com real.

A reunião do Copom aconteceu em meio da maior recessão dos últimos 25 anos. Após a queda de 3,8% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015, para este ano a estimativa é de um recuo de 3,3%. Mas mesmo assim o BC agora comandado por Ilan “Itaú” Goldfajn decidiu manter os juros mais altos do mundo e ainda dizendo que não há espaço para sua redução.

No final de junho, ele disse que seu objetivo é atingir o centro da meta (4,5%) da inflação, o que pelo andar da carruagem significa manter os juros altos. Em 12 meses encerrados em junho, a inflação medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) somou 8,84%, quase o dobro do centro da meta definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), o que demonstra que manter os juros em 14,25% desde julho do ano passado não serviu para baixar a inflação.

No comunicado, o BC apontou o que chamou de riscos domésticos, como a inflação acima do esperado no curto prazo, decorrente, principalmente, de preços de alimentos, pode se mostrar persistente; as incertezas quanto à aprovação e implementação dos ajustes necessários na economia permanecem; e um período prolongado com inflação alta e com expectativas acima da meta pode reforçar mecanismos inerciais e retardar o processo de queda da inflação.

A decisão do Copom de manter a Selic em 14,25% desagradou trabalhadores (v. página 5) e empresários. Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a expectativa “é que a próxima reunião do Comitê de Política Econômica do Banco Central (Copom) inaugure o ciclo de redução dos juros. A manutenção da taxa Selic em 14,25% ao ano, decidida nesta quarta-feira, 20 de julho, representa mais um entrave à retomada da atividade econômica, pois encarece o crédito para os consumidores e as empresas, desestimulando o consumo e os investimentos”.

A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) “espera ainda que se mantenham as condições ideais para a redução contínua dos juros, entendendo que a economia está estrangulada por impostos demais e juros que permanecem muito elevados, mesmo diante de um quadro de acentuada crise com quedas do PIB superiores a 4% ao ano. A FecomercioSP deseja e acredita que a estrutura de juros caia em breve para que o comércio, os setores de turismo e de serviços possam começar a respirar um pouco mais aliviados”.

“Evidentemente, a taxa nesse patamar elevado leva a perspectiva de um novo gasto bilionário neste ano em juros da dívida. É como se o BC estivesse de costas viradas para necessária retomada do crescimento e olhando apenas para um lado, o de levar a inflação para o centro da meta”, disse o presidente do Conselho Federal de Economia, Júlio Miragaya.

O governo interino anunciou que vai propor ao Congresso uma “autonomia técnica” para o Banco Central, sem previsão de mandatos fixos para presidente e diretores da instituição, mas com foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal (STF) para toda a diretoria, que ninguém é de ferro.

Fonte: Valdo Albuquerque, do jornal Hora do Povo

 

22-7-16 Caio juros

Estudantes vão a Paulista contra os juros altos!

22-7-16 Caio juros

Na manhã desta terça os estudantes em conjunto com os trabalhadores exigiram a redução da taxa de juros durante a reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central, que ocorreu entre os dias 19 e 20. “A luta contra os juros é fundamental. É essa política de transferência de recursos públicos para os bancos que faz aumentar o preço do mercado, que corta da educação, saúde e direitos trabalhistas. Os juros altos são os responsáveis pela piora na qualidade de vida estudantes e dos trabalhadores”, disse Caio Guilherme, presidente da UMES.

Para a vice-presidente da UMES, Thaís Alves, “a participação dos estudantes secundaristas cumpre um papel fundamental nas manifestações contra o aumento da taxa de juros. Continuaremos nas ruas enquanto a chapa Dilma/Temer estiver mais preocupada em passar dinheiro para os bancos ao invés de para a educação”, completou ao se referir a taxa Selic que está em 14,25%, resultando na maior taxa de juros real do mundo.

 

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Em nota a Força Sindical diz que “a grave crise econômica que nosso País vivencia vem quebrando empresas de todos os setores, ceifando milhões de postos de trabalho – são quase 12 milhões de trabalhadores desempregados – e corroendo sem piedade os rendimentos daqueles que, a duras penas, vêm mantendo seus empregos e o sustento dos seus, tem, como um de seus grandes vilões causadores, a altíssima taxa de juros (Selic) praticada hoje no Brasil”.

 

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Para o presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil, Ubiraci Dantas de Oliveira (Bira), “essa política de juros altos do governo afastado e defendida pelo governo interino é um verdadeiro crime contra a economia nacional. Além de não servir para o combate à inflação, trava os investimentos e desvia rios de dinheiro público para os bancos e demais rentistas. Por isso a economia está parada. Chega de engordar banqueiro”.

Também estavam presentes as centrais sindicais: CUT, UGT, Nova Central, CSB e CTB.

20-7-16 Ciro Gomes

Ciro Gomes diz que Dilma errou nos juros altos e ao abrir mão do desenvolvimento nacional durante atividade da UNE

20-7-16 Ciro Gomes

O ex-governador do Ceará, Ciro Gomes, apontou erros do governo Dilma e conclamou a esquerda para se unir à frente de um novo projeto de desenvolvimento nacional, durante o 64º Conselho de Entidades Gerais da União Nacional dos Estudantes (Coneg/UNE), realizado entre os dias 15 e 17 deste mês, em São Paulo.

“Estamos perdendo a batalha não só para esse bando de picaretas, mas para os nossos erros. Precisamos aclarar essa confusão e seguir o rumo da unidade”, disse Ciro.

Ciro também destacou que a alta taxa de juros implementada durante o governo Dilma foi um dos principais entraves do nosso desenvolvimento. “Praticamente em todos os setores o Brasil não tem uma plataforma de desenvolvimento nacional. Não tem uma plataforma nacional de indústria automobilística, o Brasil não tem uma plataforma nacional de indústria de eletroeletrônico, não tem uma plataforma nacional de indústria farmacêutica. Sabe o quanto é o buraco na conta externa do Brasil com a indústria farmacêutica, só com royalties, são cinco bilhões de dólares”.

Outra questão nacional importante abordada por Ciro foi sobre o setor das comunicações do Brasil. “O acesso do Brasil a todas as suas comunicações militares ainda, 13 anos depois do PT estar no poder, é feito através dos satélites norte-americanos. O GPS que guia os submarinos e os navios da Marinha é norte-americano. Basta o americano mexer um botãozinho para gerar uma imprecisão no GPS e a Marinha brasileira vai bater na África, querendo chegar na Amazônia”, afirmou Ciro Gomes.

“A esquerda precisa recelebrar a ideia de desenvolvimento no Brasil e banir a ideia de que desenvolvimento é assunto do mercado. Nunca houve prática disso na história da humanidade ou alguém aqui imagina América do Norte, a maior potência imperialista do mundo, ser o que é pelo espontaneísmo individualista do mercado?”, questionou.

Para Ciro, a política econômica do governo Dilma foi estúpida. “Quem é que está escapando do colapso neoliberal dessas últimas duas décadas não é o Brasil, nem a América, nem a Europa que está morta. Quem está escapando é a Coreia que não fez essa economia política estúpida; quem está escapando é a China, que não fez essa economia estúpida”.

“Para sair da crise nós temos que debater um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil. Eu advogo que é o Estado Nacional, recuperado, saneado, restaurado na sua condição de financiamento, o que quer dizer uma batalha política depois da outra. Isso tem a ver com política industrial de comércio exterior, tem a ver com uma política de relações internacionais completamente diferente dessa que está aí. O desenvolvimento que precisa ser criado no Brasil tem a ver com a superação da desigualdade e o investimento em gente, em que o gasto per capita em educação não decline”, pontuou Ciro.

Fonte: Maíra Campos do jornal Hora do Povo

20-7-16 Antes da Revolução

Participe da sessão de “Antes da Revolução”, de Bernardo Bertolucci, na Mostra Permanente de Cinema Italiano da UMES

 20-7-16 Antes da Revolução

Na próxima segunda (25), a Mostra Permanente de Cinema Italiano apresenta o filme “Antes da Revolução”, de Bernardo Bertolucci (1976). Aproveite, só na UMES você confere o melhor do cinema com entrada franca!

 A sessão será iniciada às 19 horas no Cine-Teatro Denoy de Oliveira, na Rua Rui Barbosa, 323, Bela Vista. Chame sua família e seus amigos, participe!

 

Confirme sua presença!

 

ANTES DA REVOLUÇÃO (1976), de Bernardo Bertolucci (1976), ITALIA, 115 min.

 

SINOPSE

Parma, 1964. Fabrizio (Francesco Barilli) é um jovem de 22 anos apaixonado, idealista, mas acomodado. A morte de seu amigo Agostino (Allen Midgette), supostamente por suicídio, o faz questionar seu presente e futuro. Um conturbado relacionamento amoroso com Gina (Adriana Asti), sua tia, aumenta ainda mais o conflito de ideias do rapaz.

 

O DIRETOR

Filho do poeta e crítico de cinema Attilio Bertolucci, Bernardo Bertolucci nasceu em Parma. Começou cedo, ainda no final dos anos 50, quando realizou seus primeiros curta-metragens em 1959 e 1960. Em 1961, frequentou a Universidade de Roma onde começou o curso de Literatura Moderna após trabalhar como assistente de direção em “Accattone”, de Pier Paolo Pasolini. Estreou como diretor em 1962 com o longa “A Morte”.

 

Conhecido por sua versatilidade, Bertolucci tem entre suas obras “Antes da Revolução” (1964); o clássico “O Conformista” (1970), livre adaptação do livro homônimo de Alberto Moravia; o polêmico “O Último Tango em Paris” (1972), com Marlon Brando e Maria Schneider; o épico “1900”, conhecido como o mais grandioso filme de sua carreira. Também se destacam, o multipremiado “O Último Imperador” (1987), “O Céu que Nos Protege” (1990) e “Os Sonhadores” (2003).

 

Para maiores informações entre em contato pelo telefone (11) 3289-7475 ou pelo Facebook. O Cine-Teatro Denoy de Oliveira fica na Rua Rui Barbosa 323, Bela Vista (Sede Central da UMES)

 

Confira nossa programação!

 

Participe da sessão de “Antes da Revolução”, de Bernardo Bertolucci, na Mostra Permanente de Cinema Italiano da UMES

 

Na próxima segunda (25), a Mostra Permanente de Cinema Italiano apresenta o filme “Antes da Revolução”, de Bernardo Bertolucci (1976). Aproveite, só na UMES você confere o melhor do cinema com entrada franca!

 

A sessão será iniciada às 19 horas no Cine-Teatro Denoy de Oliveira, na Rua Rui Barbosa, 323, Bela Vista. Chame sua família e seus amigos, participe!

 

Confirme sua presença!

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ANTES DA REVOLUÇÃO (1976), de Bernardo Bertolucci (1976), ITALIA, 115 min.

 

SINOPSE

Parma, 1964. Fabrizio (Francesco Barilli) é um jovem de 22 anos apaixonado, idealista, mas acomodado. A morte de seu amigo Agostino (Allen Midgette), supostamente por suicídio, o faz questionar seu presente e futuro. Um conturbado relacionamento amoroso com Gina (Adriana Asti), sua tia, aumenta ainda mais o conflito de ideias do rapaz.

 

O DIRETOR

Filho do poeta e crítico de cinema Attilio Bertolucci, Bernardo Bertolucci nasceu em Parma. Começou cedo, ainda no final dos anos 50, quando realizou seus primeiros curta-metragens em 1959 e 1960. Em 1961, frequentou a Universidade de Roma onde começou o curso de Literatura Moderna após trabalhar como assistente de direção em “Accattone”, de Pier Paolo Pasolini. Estreou como diretor em 1962 com o longa “A Morte”.

Conhecido por sua versatilidade, Bertolucci tem entre suas obras “Antes da Revolução” (1964); o clássico “O Conformista” (1970), livre adaptação do livro homônimo de Alberto Moravia; o polêmico “O Último Tango em Paris” (1972), com Marlon Brando e Maria Schneider; o épico “1900”, conhecido como o mais grandioso filme de sua carreira. Também se destacam, o multipremiado “O Último Imperador” (1987), “O Céu que Nos Protege” (1990) e “Os Sonhadores” (2003).

18-7-16 batizado

3º Batizado e Troca de Cordas da Capoeira na UMES

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Neste fim de semana a Capoeira na UMES realizou o seu Terceiro Batizado e Troca de Cordas no Cine-Teatro Denoy de Oliveira, na sede central da entidade. Para Fabiano Pavio, professor do projeto, o evento fortalece a luta para colocar a capoeira dentro das escolas. “A lei que diz que as instituições de ensino tem a obrigatoriedade de ter na sua grade curricular a cultura afro-brasileira não é respeitada, e a capoeira se insere exatamente nisso: é cultura afro-brasileira, é cultura do povo brasileiro. Precisa estar na escola, lado a lado com os estudantes”.

A atividade teve início às 10 horas da manhã, e ao todo 70 alunos foram batizados ou trocaram sua corda. “O evento hoje é a realização do trabalho. É a consagração do professor e dos alunos que treinaram o ano inteiro, se dedicaram, aprenderam, cresceram dentro da capoeira. E hoje eles trocaram a sua graduação ou pegaram a primeira corda, o que representa um grande esforço para dedicar um pouco de tempo para aprender a nossa cultura”, afirmou o mestrando Pardal, do grupo Geração Capoeira, durante entrevista para a comunicação da UMES.

 

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Ao falar da importância do aprendizado de capoeira nas escolas o mestre do grupo Geração Capoeira, Bambu, destacou que “primeiramente a capoeira é a história viva do nosso Brasil e ela não pode ficar longe da escola. É um aprendizado desde menino. Qualquer criança pode aprender capoeira, mas o nosso governo não vê dessa forma. Em São Franscisco [Bahia] a capoeira é como uma universidade e falta isso no Brasil”.

Nesse sentido Pavio falou da importância de construir uma representação desse projeto dentro da Câmara dos Vereadores e anunciou sua pré-candidatura para vereador. “Por isso a gente pensou em lançar um pré-candidato pra lutar pela capoeira dentro da escola e pelo fim da aprovação automática, que faz os estudantes passarem de ano sem aprender”. Para ele “a educação publica, como está, não consegue dar o suporte necessário a nossa juventude”. Ele também condenou os atuais políticos que roubam a Petrobrás para se manter no poder e disse que a política nacional de desemprego e recessão deve acabar.

 

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Para o professor-instrutor, Royal, “é muito importante esse projeto que é levar a cultura da capoeira para a comunidade e para os estudantes de uma forma ampla sempre mantendo a cultura, que é uma identidade do povo brasileiro. Eu parto da premissa que todos têm que conhecer a capoeira, independente se e vai praticar ou não. Você conhecer a cultura e a história da capoeira é você conhecer a cultura e a história do Brasil, o projeto é fundamental para manter esse espírito vivo”.

Desde o começo do ano a Capoeira na UMES realizou centenas de apresentações pelas escolas da cidade, sob a iniciativa de Pavio, que se apresentou nas escolas convidando os alunos a praticar capoeira na UMES, assim como promovendo debates sobre a cultura nacional e a importância da capoeira nessa discussão.

 

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G18-7-16 ERALDO-ALCKMIN

Ministério Público pede auditoria contra Secretaria Estadual da Educação de SP

G18-7-16 ERALDO-ALCKMIN

O Ministério Público de Contas do Estado de São Paulo abriu representação contra a Secretaria Estadual da Educação na sexta (3) solicitando instauração de auditoria.

Em seu pedido o órgão cita diversas denuncias contra a secretaria ainda neste ano, como o fechamento de salas, diminuição de uma hora no horário das escolas de tempo integral, o atraso na aprovação do Plano Estadual de Educação, etc.. O documento também pede a revogação das medidas sob pena de multa de R$ 2 mil por dia caso o secretário José Renato Nalini descumpra as exigências.

O documento possui em sete tópicos: desrespeito à gestão democrática, falta de material escolar, precariedade da infraestrutura e falta de mobiliário escolar, gestão da alimentação escolar, alto índice de contratação de temporários, falta de acessibilidade e alto porcentual de evasão escolar e analfabetismo.

“A auditoria operacional que se está a pleitear revela-se imprescindível para que se possa trazer aos autos dados, subsídios, informações e críticas relativas às alterações que estãosendo conduzidas pela SEE, por meio das 91 Diretorias de Ensino distribuídas em todo Estadode São Paulo, aferindo-se, assim, a dimensão dos possíveis danos causados aos educandos até o momento, em razão do descumprimento de ordem judicial, da omissão quanto ao dever de universalização da educação obrigatória (notadamente ensino médio) e das normas relativas à superlotação das salas de aula”, afirma a procuradora.

18-7-16 Antenor Nascentes e o estudo do idioma nacional brasileiro

Antenor Nascentes e o estudo do idioma nacional brasileiro

18-7-16 Antenor Nascentes e o estudo do idioma nacional brasileiro

 

Há discussões que parecem se repetir ao longo dos anos – sobretudo quando o conhecimento do passado torna-se fosco.

 

Na década de 30 do século passado, o professor Antenor Nascentes, do Colégio Pedro II, culminou uma revolução nos estudos da língua portuguesa. Seu foco era a existência de um idioma nacional.

 

Nascentes – desde seu livro “O Linguajar Carioca” (1922) – não negava que no Brasil falava-se português. Mas, dizia ele – seguindo uma tradição que teve em José de Alencar o seu pioneiro – o português brasileiro era diferente, inclusive quanto às regras gramaticais, do português lusitano. O idioma nacional não era o português de Portugal, mas o que ele chamou de “o dialeto brasileiro”, com quatro subdialetos em sua primeira formulação (1922): nortista, fluminense, sertanejo e sulista; ou seis, em sua segunda formulação (1953): amazonense, nordestino, baiano, fluminense, mineiro e sulista.

 

Como tal, o dialeto brasileiro deveria ter – e tinha – regras próprias. Não se tratava apenas da língua falada, que, evidentemente, era diferente daquela de Portugal. O que Nascentes afirmava é que a língua literária também deveria ser diferente. O problema estava, exatamente, em que, para boa parte dos escritores e redatores brasileiros, permanecia um servilismo à (supostas) gramática e até à dicção lusitana. “É comum”, observava Antenor Nascentes, “ler-se oiro, tesoiro, toiro, etc., escritos por quem pronuncia ôru, tizôru, tôru, etc. Efeito estético? Francamente, não vejo razão para o emprego dessas formas que não vivem na língua. Pintainho escrevem muitos que, falando, só dizem pintinho, que não é forma errada. Mobilar ninguém diz e sim mobiliar (e às vezes mobilhar)”.

 

A questão era crítica no caso da colocação de pronomes oblíquos, onde tentava-se imitar um suposto linguajar literário lusitano, que hoje somente o sr. Michel Temer é capaz de usar.

 

Lembro-me que meu pai, sempre zeloso pela educação dos filhos, comprou um dia a “Gramática Expositiva”, de Eduardo Carlos Pereira. Infelizmente, ninguém conseguiu ler aquele calhamaço, publicado pela primeira vez em 1906 – o que eu somente soube em 2008, devido a uma entrevista de Evanildo Bechara. Também o nosso maior gramático da atualidade encontrara, em sua juventude, muita dificuldade em ler a “Gramática Expositiva”.

 

Na época em que o livro de Eduardo Carlos Pereira entrou na minha casa, eu não sabia que, diante do dilúvio de gramáticas publicadas em nosso país a partir do fim do século XIX, o maior escritor da nossa literatura, Machado de Assis, dissera que “sou dos menos competentes para avaliar pelo justo e pelo miúdo a importância e a superioridade de uma gramática”.

 

Era esse divórcio entre o uso literário e oral da língua – e a gramática – que Antenor Nascentes mirava quando dizia que “a língua é uma entidade viva e não pode obedecer a resoluções de gabinete, por mais respeitáveis que sejam”.

 

Mas, então, como se orientar sobre o que é certo e o que é errado?

 

Talvez a melhor forma de exemplificar o critério de Nascentes seja a maneira como abordou o problema da colocação de pronomes, que assim sintetizou:

 

“Em matéria de colocação de pronomes oblíquos, salvo o caso de um patente absurdo, não há certo nem errado; há o agradável e o desagradável ao ouvido”.

 

Ou seja, Nascentes remeteu ao campo da estilística um problema gramatical – as necessidades do estilo (e, portanto, o uso) deveriam determinar a gramática, e não o inverso.

 

De forma ainda mais explícita:

 

“O caso da colocação dos pronomes pessoais oblíquos é invenção dos gramáticos brasileiros.

 

“Em todas as línguas os pronomes têm sua colocação natural, que se aprende desde o berço; ninguém precisa na escola fazer aprendizagem especial de colocação de pronomes.

“Foi isto o que claramente enunciou Silva Ramos ao dizer que não sabia como se colocavam os pronomes, ‘pela razão muito natural que não sou eu quem os coloca, eles é que se colocam por si mesmos, e onde caem, aí ficam’. (Pela Vida fora… pg. 119).

 

“Todas as colocações, menos aquelas que aberrarem do bom senso tornando a frase ininteligível, são pois, aceitáveis.”

 

Bem, amigos leitores, este é o autor do texto que publicamos hoje, extraído do seu livro “O Idioma Nacional na Escola Secundária” (1935).

 

C.L.*

 

ANTENOR NASCENTES

 

A questão primordial ao iniciar-se o estudo da metodologia do nosso idioma é a caracterização.

 

Embora falemos a língua portuguesa, não podemos deixar de reconhecer que esta língua assume em nosso país o caráter de uma variante e bem diferenciada.

 

Na pronúncia, no vocabulário, na construção da frase, divergimos muito do falar de Portugal.

 

Dentro do nosso falar, como aliás em toda parte, a língua popular é diferente da culta e na própria língua culta, a falada fica muito longe da escrita.

 

Tratando da língua falada no Brasil colonial assim se exprime Gilberto Freyre:

 

“Ficou-nos, entretanto, dessa primeira dualidade de línguas, a dos senhores e a dos nativos; uma de luxo, oficial, outra popular, para o gasto, — dualidade que durou seguramente século e meio e que prolongou-se depois, com outro caráter, no antagonismo entre a fala dos brancos das casas-grandes e a dos negros das senzalas — um vício, em nosso idioma que só hoje, e através dos romancistas e poetas mais novos, os Bandeira, os Mario de Andrade, os Amando Fontes, os Jorge Amado, os Yan Prado, os Schmidt, os Oswald de Andrade, os Carlos Drummond, os Lins do Rego, os Ribeiro Couto, os Murilo Mendes, os Antonio de Alcântara Machado — vai sendo corrigido e atenuado: o vácuo enorme entre a língua escrita e a língua falada. Entre o português dos bacharéis e doutores, quase sempre propensos ao purismo, ao preciosismo e ao classicismo, e o português do povo, do ex-escravo, do menino, do analfabeto, do matuto, do sertanejo”.

(Casa-Grande e Senzala, 176-7).

 

Embora reconheçamos que a língua culta não pode ser igual à popular e que a língua literária tem de divergir da língua falada, não deixamos de dar em parte razão ao escritor pernambucano, pois ele vem salientar os motivos capitais das divergências notadas: o purismo, o preciosismo, o classicismo.

 

Repitamos com Macedo Soares: já é tempo de os brasileiros escreverem como se fala no Brasil e não como se escreve em Portugal (Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa).

E nisso estamos de acordo com um dos mais ilustres filólogos portugueses, o Sr. Dr. J. Leite de Vasconcelos, que entende ser dever de quem escreve dar aos seus escritos, além de feição individual ou própria, feição nacional (A Evolução da Linguagem).

 

Divergindo as línguas nos dois países, é claro que a gramática também variará e portanto o critério de correção gramatical.

 

“A nossa gramática não pode ser inteiramente a mesma dos portugueses. As diferenciações regionais reclamam estilo e método diversos.

 

“A verdade é que, corrigindo-nos, estamos de fato a mutilar ideias e sentimentos que nos são pessoais.

 

“Já não é a língua que apuramos, é o nosso espírito que sujeitamos a servilismo inexplicável.

 

“Falar diferentemente não é falar errado. A fisionomia dos filhos, não é a aberração teratológica da fisionomia paterna” (João Ribeiro, A Língua Nacional, 2ª ed., pg. 8).

Em nossas escolas primárias ensina-se a abrir a vogal a da desinência de primeira pessoa do plural no pretérito perfeito simples do indicativo [amámos], quando não existem vogais nasais abertas no Brasil.

 

É comum ler-se oiro, tesoiro, toiro, etc., escritos por quem pronuncia ôru, tizôru, tôru, etc. Efeito estético? Francamente, não vejo razão para o emprego dessas formas que não vivem na língua.

 

Pintainho escrevem muitos que, falando, só dizem pintinho, que não é forma errada. Mobilar ninguém diz e sim mobiliar (e às vezes mobilhar).

E como estes, muitos exemplos se poderiam citar.

 

Repugnam ao brasileiro as combinações mo, to, lho e variações. Os escritores que se jactam de caprichosos na língua, apreciam extraordinariamente estas expressões que nunca empregam.

 

Igualmente repugnam as expressões di-lo, fá-lo (lembra falar), trá-lo, pú-lo (parece o verbo pular), quere-lo; algumas até são quase incompreensíveis. Aparecem todavia, em muitos escritos, desses autores que timbram em exprimir-se à moda clássica, à moda lusitana genuína.

 

Falemos certo, sem precisar exprimirmo-nos à moda de Portugal.

 

Gramáticas há e muitas que capitulam de vício de linguagem o brasileirismo como se fosse vergonha falar à moda do país.

 

No Brasil, o brasileirismo só é erro quando constitui um solecismo e, neste caso, é errado por ser um solecismo e não por ser um brasileirismo.

 

Ao contrário, será impróprio lusitanismo ou portuguesismo, isto é, a expressão embora certa, mas que não corresponde à linguagem usada no Brasil.

 

O caso mais característico, o grande cavalo de batalha é a colocação dos pronomes pessoais oblíquos.

 

“A nossa maneira fantasista (como alguns lhe chamam) de colocar os pronomes, forçosamente diversa da de Portugal, não é errônea, salvo se a gramática, depois de anunciar que observa e registra fatos, depois de reconhecer que os fenômenos linguísticos têm o seu histórico, a sua evolução, ainda se julga com o direito de atirar ciosa e receosa da imutabilidade, por cima do nosso idioma, a túnica de Nessus das regras arbitrárias e inflexíveis.

 

“As línguas alteram-se com a mudança de meio; e o nosso modo de falar diverge e há de divergir, em muitos pontos, da linguagem lusitana” (Said Ali, Dificuldades da Língua Portuguesa, 2ª ed., pg. 81).

 

Do mesmo sentir é Silva Ramos, que ninguém em sã consciência poderá acusar de lusófobo.

 

“A situação do pronome átono na proposição, tanto no Brasil como em Portugal, é determinada exclusivamente pelo ritmo, diferente numa e noutra região, consoante a tonicidade e o valor dos fonemas, que não condizem aquém e além-mar”.

 

“A discrepância que se nota neste particular entre o falar de aquém e o de além-mar é ocasionada única e exclusivamente pela modulação e cadência da frase que nunca será a mesma em Portugal e no Brasil”.

 

“Seja como for, o regulador único da distribuição dos pronomes átonos na locução brasileira é igualmente o ritmo, governado por princípios de que os naturais do Brasil não têm a mínima consciência, como os que nasceram em Portugal não a têm dos que regulam a cadência da locução portuguesa. Ora, tentar reduzir o ritmo, o número, a cadência da linguagem brasileira ao ritmo, número e cadência da linguagem portuguesa é irracionável empreendimento”. (Pela vida fora…, pgs. 82, 119 e 222).

 

Mirem-se neste espelho aqueles que corrigem colocações brasileiras de pronomes átonos em desacordo com as portuguesas.

 

Referindo-se a formas sintáticas dialetais de tal modo firmadas na língua de todas as classes que já estão entrando na literatura, erradas à luz da gramática, certas dentro da realidade linguística, solta Mario Marroquim eloquente brado de alarma em seu original livro A Língua do Nordeste:

 

“É martírio para a mocidade que aprende e humilhação para o mestre inteligente que ensina, esse bilinguismo dentro de um só idioma, — essa unidade exterior, de superfície, de duas línguas que se repelem, a língua que falamos e a língua que escrevemos.

“Nós, no Brasil, presos à gramática ‘portuguesa’, somos vítimas de uma desintegração dolorosa de nós mesmos.

 

“Os modernos escritores brasileiros que interpretam as cousas do Brasil, quando desobedecem aos cânones da língua culta e fogem às praxes gramaticais, fazem-no por ser essa a maneira de evitar a dissociação entre sua obra e eles mesmos.

 

“O homem brasileiro, vivendo no ambiente brasileiro, herdeiro de tradições que lhe dão um ‘caráter’ próprio, tem exigências de expressões e de linguagem de acordo com esse ‘caráter’.

 

“À medida que o meio social foi armando a sua estrutura autônoma, diferente do português, começou o brasileiro a moldar a sua construção linguística e a traçar rumos gramaticais, de acordo com o seu feitio.

 

“Criou a sua língua.

 

“Regras de gramática rígidas e áridas baseadas em fatos linguísticos isolados do ‘homem’, são camisas de força asfixiantes.

 

“A língua brasileira, já ninguém discute isso, diverge da portuguesa; é esta, entretanto, que a escola continua a ensinar ao brasileiro.

 

“O mestre, escudado em fórmulas frias, sem articulação nem plasticidade, violenta a espontaneidade dessa linguagem que é um efeito, pondo-a em litígio com a causa, que é a formação social e humana de quem a fala.

 

“Esse litígio é a tragédia ignorada de todos os pequenos estudantes, para os quais a gramática é um instrumento de tortura, justamente porque as suas regras representam já em muitos pontos a artificialidade de uma língua de que não sentem o poder, nem a força de expressão” (págs. 162-6).

 

Não nos move hostilidade contra o povo de que descendemos e sim apenas o desejo de adaptação à realidade.

 

Queremos somente que no ensino e na aferição da capacidade se leve em consideração o território em que a língua é falada.

 

“Que poderão, entretanto, pergunta Silva Ramos, fazer os mestres neste momento histórico da vida do português na nossa terra?”

 

Ele mesmo responde:

 

“Ir legitimando, pouco a pouco, com a autoridade dos nossos gramáticos, as diferenciações que se vão operando entre nós” (Pela vida fora…, 178).

 

*Carlos Lopes é editor chefe da redação da Hora do Povo