Alckmin não explica fracasso na Educação de SP
Publicamos abaixo, na íntegra a matéria escrita por Tiago César, ex Vice-presidente da UMES e atual redator do jornal Hora do Povo sobre as declarações dadas por Alckmin diante dos índices que desmentem sua campanha mentirosa sobre a qualidade da educação pública de São Paulo.
Candidato do PSDB justificou piora dos índices do estado no Ideb com falsa mudança da metodologia. “Ele diz que fará o que fez em SP pelo Brasil. Isso é uma ameaça”, critica o presidente da UMES-SP
Ao tentar justificar o fracasso de sua gestão, o ex-governador de São Paulo e candidato à Presidência, Geraldo Alckmin (PSDB), afirmou que a queda dos níveis de avaliação do ensino básico no estado não se ampara em dados oficiais. A declaração veio após o relatório apresentado pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2017, mostrar a queda dos níveis de educação no Estado.
A queda do desempenho do estado foi detectada nos três níveis de educação básica: até o 5º ano, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. O Ideb é calculado a cada dois anos. O último índice era de 2015, quando o estado liderava.
Agora a rede paulista de ensino tem nota 3,8 (no Ideb anterior, de 2015, tinha 3,9) e já foi ultrapassada por Espírito Santo (4,1), Goiás (4,3) e Pernambuco (4) e empata com Ceará e Rondônia. A esperança é que um dia, o Estado de São Paulo chegue a nota 6.
Sendo uma grande bandeira de campanha, Alckmin enaltecia a educação paulista como um bom exemplo. Porém, quando questionado com a queda nos índices, o tucano culpou o governo federal, criticando a maneira de análise do Ideb, afirmando que esses dados oficiais não levam em conta as escolas técnicas de São Paulo.
“A portaria do MEC dizia que o Ensino Médio das escolas técnicas talvez era pra valer para os cálculos do índice, mas depois o Inep [Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira] que aplica a avaliação, tirou as escolas técnicas da contagem”, afirmou Geraldo Alckmin.
Segundo o ex-governador, “quem faz o ensino médio na [escola técnica] Paula Souza, faz vestibulinho, são os melhores alunos”. Entretanto, segundo esclarecimento do MEC, as escolas técnicas nunca foram consideradas na série histórica para a avaliação de municípios e estados.
Hoje, apenas 4% dos cerca de 1,5 milhão de alunos de Ensino Médio da rede pública de São Paulo estão nas escolas técnicas.
LUTA
Para Lucas Chen, presidente da União Municipal dos Estudantes Secundaristas (UMES), o ex-governador é responsável pelo desastre na educação paulista. “Alckmin é conhecido nas escolas como o maior inimigo da educação, desde o fechamento de salas, até o desvio da merenda. Sabíamos muito bem que o tucano não tinha compromisso com o povo. As ETEC’s que ele se vangloria tanto sofreram sistemáticos cortes no último período. Apenas em 2015, foram cortados 78,15% da verba de construção de novas ETEC’s e compra de equipamentos das unidades. Estes cortes levaram ao sucateamento máximo sofrido pelas mãos tucanas”.
“Ainda, Alckmin disse que o que fez em São Paulo, fará no Brasil. Com o exemplo dos níveis da educação Paulista, para nós, isso é uma ameaça. Mas ele está acostumado com a força dos estudantes que o derrotaram, demitiram seu secretário de educação e o fizeram engolir goela abaixo sua mentirosa reorganização”, afirmou Lucas Chen.
RESISTÊNCIA
Não é de hoje que a educação paulista sofre com a política de desmonte dos tucanos. Medidas como a aprovação automática, a falta de infraestrutura, os baixos salários pagos aos professores e a falta de programas de qualificação, vêm destruindo as escolas do estado.
Em 2015, professores protagonizaram uma das maiores greves já registradas na rede (93 dias), por melhorias na educação e por abono salarial.
Ainda, no mesmo ano, o tucano queria propor a “reorganização escolar”, que previa o fechamento de 94 escolas estaduais. A medida encontrou firme resistência por parte dos estudantes. Grandes manifestações, assembléias e audiências foram realizadas e mais de 200 escolas foram ocupadas, contra o projeto de Alckmin. Após meses de luta, o tucano revogou a proposta e o seu secretário de Educação, Hermann Voorwald, pediu a demissão do cargo.
Em 2016, apesar do aumento de cerca de 70 mil matrículas na rede estadual – principalmente em consequência da crise econômica, Alckmin fechou cerca de 2.800 salas de aula da rede estadual. O Ministério Público pediu declarações para o então governador na época, e o tucano afirmou a justiça, que era “natural” o fechamento dessas salas de aula.
As ETECs, exemplo de ensino do governador, existentes há mais de 100 anos, só obtiveram merenda nos seus centros de ensino, a partir de 2017, porém são muitos, os problemas relatados, desde comida estragada, até o pequeno grupo seletivo de alunos em ensino integral que podem receber a alimentação. Alunos de meio período nas ETECs não têm direito ao recebimento de merenda escolar.
MERENDA
Ainda em 2016, o governo de Alckmin se viu envolvido em mais um escândalo envolvendo a Educação. Investigação conduzida pela Polícia Civil e pelo Ministério Público de São Paulo, por meio da Operação Alba Branca, apontou fraudes na compra de merenda no estado.
Fernando Capez, um dos principais nomes dos tucanos na Assembléia Legislativa de São Paulo (Alesp) foi acusado de ser beneficiário do roubo da merenda.
À época, ele foi denunciado junto com mais 8 pessoas pela operação Alba Branca. A denúncia afirma que “por intermédio do assessor parlamentar Jeter Rodrigues Pereira, com quem agia em concurso e com identidade de propósitos, Capez solicitou vantagem indevida” de representantes da Coaf (Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar).
O dinheiro desviado do estado foi de R$ 1,11 milhão, equivalente a 10% dos contratos, e pagou despesas da campanha do tucano em 2014, segundo a acusação.
As acusações contra Capez e os tucanos de São Paulo foram barradas pelo já famoso trio da 2ª Turma do STF: Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowisk, que consideraram não haver provas para continuar a investigação.
THIAGO CÉSAR